sábado, 21 de maio de 2011

NA HORA DO PASSE

Dirigia José Petitinga distinta organização espírita na capital baiana, quando um rapaz, interessado em grandes projetos de assistência social, veio procurá-lo.

E entre ambos a conversação se alongou.

- Petitinga, não podemos ficar parados. A hora é de trabalho, trabalho....

- Também penso assim.

- Que acha você levantarmos um orfanato para as criancinhas desamparadas de Salvador?

- Excelente projeto.

- E um sanatório para obsidiados?

- Muito importante.

- E uma vila completa para os nossos irmãos infelizes que moram em casebres misérrimos? Uma vila, Petitinga, em que pudéssemos reunir muitas famílias?

- O plano é uma benção.

- Um lar para velhinhos é uma necessidade... Às vezes volto para a casa, à noite, e vejo anciãos na calçada. Que dia você de um albergue moderno, de amplas proporções?

- Isso seria uma concessão de Deus.

- Noto igualmente que precisamos de um instituto diferente para os alcoolizados. Uma casa-hospital, em que os internados esqueçam o vício... Que opinião é a sua?

- Nem tenho expressões. Uma obra dessas é um monumento de amor.

- É uma escola, em bases espíritas, é caminho do Reino de Deus.

Petitinga não cabia em si de contente.

Afinal – pensava – surpreendera ave rara.

Alguém iria longe, homem disposto a trabalhar e sofrer pela causa.

E como o tempo passava e tinha serviço urgente, convidou:

- Bem, meu amigo, a sua palavra brilha para mim. Continuemos conversando em serviço. Estou justamente na hora do passe a dois irmãos tuberculosos e terei muito prazer em seu concurso...

Mas o moço, incompreensivelmente, alterou o semblante. Fez-se lívido. Repetiu, várias vezes, o gesto de quem expulsa a poeira do paletó, e ele, que sonhava tantas obras de caridade, respondeu, desenxabido:

- Ora, Petitinga, isso não. Você compreende. Não posso buscar moléstias contagiosas. Tenho família.

E lá se foi ....

Hilário Silva - Psicografia: Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. Livro: A Vida Escreve.

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