segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Osho: A REVOLUÇÃO REAL NUNCA FOI TENTADA

Imagem por Gigi Bonisoli
Osho

Noutro dia, eu lhes disse que todas as revoluções fracassaram, todas, exceto uma. Mas essa jamais foi tentada, trata-se da religião, a revolução não tentada.

Por que ela ainda não foi tentada? E ela é a única revolução real possível, então, por que ainda não foi tentada? 
Ela é real e pode de fato mudar o mundo inteiro, por isso não foi tentada. As pessoas desejam falar sobre mudança e revolução, desejam brincar com essas palavras e adoram filosofar, mas não querem realmente penetrar na revolução; elas não são muito corajosas e se apegam a seus passados. É seguro falar, mas penetrar na revolução é muito arriscado.

Por isso o real foi evitado até agora e os irreais foram tentados. A política, a social, a econômica — essas revoluções foram tentadas, pois no fundo as pessoas sabem que elas estão destinadas a fracassar. Elas 
podem ter a alegria de ser revolucionárias e ainda poder continuar apegadas ao passado. Não há risco envolvido.

As chamadas revoluções tentadas e que fracassaram, todas são fugas da revolução real. Soará muito estranho a você, mas o que estou dizendo é isto:
 todos os seus chamados revolucionários são escapistas. Para evitar o real, eles criam o falso, o pseudo.

A sociedade não pode ser mudada a menos que as pessoas também mudem — essa é uma verdade fundamental, não há como evitar, esquivar-se ou fugir dela. A sociedade é uma abstração; ela não existe. O que existe é o indivíduo, não a sociedade. O ser humano existe e a sociedade é apenas uma abstração, um conceito, uma ideia.

Você já encontrou a sociedade? Você já encontrou a nação? Sempre que você se depara com algo, você se depara com um indivíduo concreto, vivo e respirando. "Sociedade" é uma palavra morta. Ela tem utilidade, mas é apenas um símbolo. Ao mudar o símbolo você não estará absolutamente mudando coisa alguma. 
Você precisa mudar a matéria real, e a sociedade é feita da matéria chamada ser humano, o qual é o tijolo da sociedade. A menos que o ser humano seja mudado, nada é mudado; você pode apenas fingir, acreditar, esperar, imaginar e continuar a viver em sua miséria.

Você pode sonhar, e esses sonhos são confortantes e confortáveis; eles o mantêm dormindo. Na verdade, as pesquisas modernas sobre os sonhos dizem que é assim, exatamente assim — 
esta é a função dos sonhos: eles o mantêm dormindo.

Você está sentindo fome à noite e então sonha que se dirige à geladeira, e em seu sonho você começa a comer e o 
sono permanece tranqüilo. Se o sonho não acontecer, então a fome será demasiada e não permitirá que você continue a dormir; a fome o acordará.

Sua bexiga está cheia e apertada e você começa a sonhar que foi ao banheiro. Se você não sonhar com o banheiro, a pressão será muito grande e você terá de acordar. 
A função do sonho é ajudá-lo a permanecer dormindo.

E esta é a função de todos os outros sonhos — o sonho de que a sociedade um dia não terá classes, que a utopia virá, que um dia não haverá miséria, que um dia a terra se tornará o paraíso. Esses são sonhos, e são muito consoladores e confortantes. 
Eles são como unguento sobre feridas, mas o unguento é falso.

Por cinco mil anos o ser humano tem sonhado desta maneira — que a sociedade mudará, que mais cedo ou mais tarde as coisas serão boas, que a noite logo terminará. Mas a noite continua, o sono continua. A sociedade continua mudando, 
mas nada realmente muda, somente as formas. Uma escravidão torna-se outra escravidão, um tipo de opressão transforma-se em outro tipo de opressão, um tipo de governante é substituído por outros tipos de governantes, mas a opressão, a exploração e a miséria continuam.

Afirmo que 
a religião é a única revolução, pois ela muda as pessoas, a consciência e o coração delas. Depende do indivíduo, pois o indivíduo é real e concreto. A religião não se importa com a sociedade. Se o indivíduo for diferente, automaticamente a sociedade e o mundo serão diferentes.

E não se pode mudar o interior ao mudar o exterior, pois o exterior está na periferia. Mas 
se pode mudar o exterior ao mudar o centro, o interior, pois o interior está no seu próprio âmago. Ao mudar os sintomas não se mudará a doença.

É preciso penetrar fundo no ser humano. De onde vem essa violência, essa exploração, todas as artimanhas do ego? De onde? Todos eles vêm da inconsciência. O ser humano vive dormindo, mecanicamente. 
Esse mecanismo precisa ser quebrado e o ser humano, refeito. Esta é a revolução religiosa que não foi tentada.

Você dirá: "Então o que dizer de todas essas religiões? — cristianismo, hinduísmo, islamismo?" Elas também são fugas do real.

Quando um Jesus vem ao mundo, ele traz o real; ele deseja mudar o indivíduo. Jesus insiste que o Reino de Deus está dentro de você: "Não estou falando sobre o reino deste mundo, mas do além. A menos que você renasça, nada acontecerá". Ele fica dizendo às pessoas que 
o interior de sua existência precisa ser mudado e transformado e que ele pode ser transformado se você for mais atento e amoroso. Estas duas coisas, amor e consciência, podem transformar totalmente sua alquimia interior.

Jesus é crucificado porque
 não podemos permitir pessoas tão perigosas sobre a terra. Elas não nos permitem dormir; elas nos sacodem, chocam e tentam nos despertar. Estamos sonhando tantos sonhos, belos e doces, e elas ficam gritando. A presença delas torna-se um incômodo muito grande.

Jesus deve ter sido um incômodo, Sócrates, idem. Sócrates deve ter ofendido e aborrecido as pessoas. Ele estava continuamente colocando o seu nariz nos assuntos dos outros, tentando provocar e seduzir, e 
encontrando oportunidades para sacudi-los até levá-los a um estado de vigília. Ele precisou ser envenenado.

Mas crucificar Jesus, envenenar Sócrates ou venerar Buda, é a mesma coisa.
 Venerar é também uma maneira de fugir, e muito mais refinada. Se Jesus tivesse nascido na índia, uma país muitíssimo velho, ele não teria sido crucificado. Os indianos conhecem melhores maneiras de destruir — eles o teriam venerado! Eles teriam dito: "Você é um avatar, é Deus vindo à terra. Nós o adoraremos para sempre, mas jamais o seguiremos. Como poderíamos segui-lo? Somos simples mortais, e você vem do além. No máximo podemos tocar os seus pés e venerá-lo. E sempre veneraremos — prometemos! Mas não nos diga para mudar; isso não é possível. Somos simples seres humanos e você é super-humano".

Este é o significado de avatar. Quando você chama uma pessoa de avatar — um Buda, um Krishna — está dizendo: "Está perfeitamente bem para você falar sobre revolução e mudança radical e viver em amor e consciência, mas somos pessoas comuns. Você não nos pertence, você vem de Deus. Nós surgimos da terra e você veio do céu. Podemos apenas venerá-lo; através dos tempos, admiraremos, louvaremos e cantaremos canções sobre você. 
Faremos qualquer coisa, mas não nos diga para nos transformarmos. Isso não é possível".

Este é o significado quando você chama alguém de avatar; você está dizendo: "Você não nos pertence. Naturalmente, você vem de Deus, então você pode ser bom. Como podemos ser bons? Não viemos de Deus e somos pecadores. Você tem uma bondade que lhe é intrínseca; não podemos ter essa bondade intrínseca, mas tentaremos". E 
adiamos e nunca tentamos e continuamos a adiar.

Essa novamente é uma maneira de crucificar — mais sutil, esperta, astuta e sofisticada, mas ainda a mesma. O resultado, a conseqüência, é a mesma. 
Os cristãos não são o que Cristo queria que eles fossem; os hindus não são o que Krishna queria que eles fossem; os budistas não são o que Buda queria que eles fossem. Eles são exatamente opostos.

A religião nunca foi tentada. De vez em quando houve pessoas religiosas, mas a religião jamais foi tentada. Nunca foi dada uma oportunidade para transformar a mente inconsciente que existe sobre a terra e que cria todos os tipos de problemas.

Reformas políticas, econômicas, sociais e as chamadas religiões — todas elas são 
fugas da revolução real.

A revolução real foi 
comentada, somente comentada. Jesus diz: "Peça e lhe será dado. Procure e encontrará. Bata e a porta lhe será aberta".

Alguém perguntou a Meister Eckhart — uma pessoa realmente religiosa: "Quando Jesus diz Teça e lhe será dado', por que as pessoas não pedem? Se for apenas uma questão de pedir, por que as pessoas não pedem? Se ele diz, 'Procure e encontrará, bata simplesmente e as portas serão abertas para você', então, por que as pessoas não batem?" Eckhart riu e disse: "Por duas razões, primeiro, você pode pedir e não lhe ser dado, assim, as pessoas não desejam ficar frustradas, e segundo, e 
a razão mais profunda, você pode pedir e lhe ser dado. Isso é mais amedrontador."

Por isso as pessoas não tentam; elas simplesmente prestam louvor da boca para fora. E você sabe, de uma certa maneira o mundo inteiro parece ser religioso. As pessoas vão ao templo, às mesquitas, às igrejas, lêem a Bíblia, o Alcorão, o Gita, recitam os Vedas, entoam mantras, mas ainda assim parece não haver absolutamente consciência religiosa. 
A terra está envolta por uma nuvem muitíssimo escura de inconsciência. Parece não haver luz; a noite parece completamente escura, sem ao menos uma única estrela.

Você precisa estar 
muito, muito consciente disso, pois você pode fazer o mesmo que as pessoas vêm fazendo através dos tempos.

Cristianismo, hinduísmo, islamismo, budismo, jainismo — elas 
não são religiões verdadeiras, e sim pseudo, simulações.

Cristo é verdadeiro, o cristianismo é falso. Buda é verdadeiro, o budismo é falso. O budismo é criado por nós, Buda não é criado por nós; mas criamos o budismo de acordo com as nossas necessidades, idéias e preconceitos. Nós criamos Buda, o budismo, um mito de Buda. O Buda real não é criado por nós; ele vem à existência apesar de nós. Ele precisa lutar para ser! Ele precisa encontrar maneiras e meios para existir, encontrar um modo de sair da prisão que chamamos sociedade.

Mas quando alguém se torna desperto, nos juntamos a ele e começamos a fiar e a tecer um sistema à sua volta, todo feito por nós mesmos. Ele 
não tem absolutamente nada a ver com a pessoa. As histórias contadas sobre Buda não são verdadeiras; o mesmo acontece com as histórias sobre Cristo; a pessoa real é perdida. Criamos tal névoa e poeira à volta que ninguém pode ver a pessoa real. Esse é o trabalho dos teólogos.

Por dois mil anos os teólogos cristãos têm criado tamanha poeira que é impossível ver Jesus. Ele está completamente perdido em suas grandes lógicas, teorias, filosofias e especulações. Palavras, palavras e palavras; eles 
criaram Himalaias de palavras. Ninguém está preocupado sobre quem realmente é este homem, sobre qual é a sua mensagem.

A mensagem é muito simples; ela não é complicada. A mensagem não é que você deveria venerar Jesus ou Buda,
 e sim que você deveria se tornar um Cristo ou um Buda — menos que isso não vai adiantar.

Não se torne um cristão, torne-se um Cristo. 
Se você tiver algum respeito por você mesmo, torne-se um Cristo, não um cristão; tome-se um Buda, não um budista.

Nenhum "ismo" pode conter Buda, nenhuma igreja pode conter Cristo. Mas o coração humano pode conter Buda, 
somente o coração humano pode contê-lo, pois o coração humano é tão infinito como a própria existência. Não o venere fora.

Se você compreendeu Buda, respeite a si mesmo! 
Sinta reverência pelo seu próprio ser; isso será reverência para com Buda. Se você compreendeu Cristo, comece a olhar para dentro — você o achará ali. Ele não está fora, não está nas igrejas, mas no âmago mais íntimo de seu ser.

Osho, em "A Sabedoria das Areias - Discursos Sobre o Sufismo"

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