domingo, 18 de outubro de 2015

MÃE MENININHA do Gantois - 1894-1986


“Os candomblés estão batendo/Foguetes explodem no ar/Em louvor a Menininha/Senhora Mãe e Rainha do Gantois/ Pelo seu aniversário/ De cinquentenário de iyalorixá/ Oh,oh,oh. Salve Mamãe Oxum/ Salve meu Pai Xangô/Cinquentenário de Batalha/Cinquentenário de fé/ Desde quando recebeu/ Os poderes de Maria dos Prazares Nazaré/ Sua vidência se alastrou Iyaô, Iyaô, Iyaô/Sacerdotisa de uma raça/Rainha de uma nação/Na luta em defesa dos descrentes/Ela sempre estendeu suas mãos/Hoje os candomblés estão batendo/Pra seu nome venerar/Iyami Modijubá/Salve o seu axé/seu candomblé/no alto do Gantois.
Ederaldo Gentil, compositor baiano
(compôs este samba em homenagem ao centenário de sacerdócio de Maria Escolástica Nazaré, a festejada Mãe Menininha do Gantois, em 1972.)
Escolástica Maria da Conceição Nazaré, mais conhecida como “Mãe Menininha do Gantois”, nasceu no dia 10 de fevereiro de 1894, na cidade de São Salvador, Bahia.
Descendente de nigerianos, mãe menininha pode ser considerada a mais famosa Ialorixá do país. Com sua popularidade, ela ajudou a tornar mais aceita a religião herdada de seus ancestrais africanos, o Candomblé.
“Menininha” foi o apelido que a avó deu a menina pobre da periferia de Salvador, que dava aos bonecos improvisados os nomes das divindades do Candomblé: Oxossi, Ogum, Oxum e outros. Era bisneta de Maria Júlia da Conceição Nazaré, que havia fundado, em meados do século 19, o Ilê Iyá Omin Axé Iyamassê, mais conhecido como terreiro do Gantois (nome do antigo proprietário francês do terreno).
O Candomblé também estava presente nos sonhos de Maria da Conceição Nazaré. Num deles, uma garotinha de pele clara e cabelo loiro perguntava: “Vamos brincar?”. “Brincar de quê?”, dizia ela. “De jogar búzios, menininha!”, era a resposta. E lá iam as duas brincar com os búzios na areia. Foram necessários muitos anos até que Menininha compreendesse o sentido daquele sonho. “Só depois de adulta ela percebeu que aquilo era um sinal. Eram, acho, os orixás lhe mandando mensagens”, diz a mãe-de-santo Carmem Oliveira da Silva, sua filha caçula.
Sob a orientação da avó, das tias e da mãe, Menininha foi iniciada nos segredos da religião africana. Sendo, deste modo, preparada para o cargo, que assumiria anos depois, de Ialorixá (mãe-de-santo, na língua ioruba). Menininha completou o curso primário e logo tratou de aprender um ofício. Escolheu ser costureira e não demorou a arrumar emprego num ateliê de Salvador. Então, Aos 29 anos, casou com o advogado Álvaro McDowell de Oliveira, descendente de ingleses, e com ele teve duas filhas, Cleusa e Carmem.
Mãe Menininha seria a sucessora direta de Mãe Pulchéria na função de ialorixá do Gantois. Mas, com a morte repentina de Mãe Pulchéria em 1918, o processo de sucessão foi acelerado, pois Gantois não poderia ficar sem um dirigente. Então, através do jogo de búzios, os orixás Oxóssi, Xangô, Oxum e Obaluaiyê escolheram e confirmaram Menininha, então com 28 anos, para assumir a função de dirigente do Candomblé do Gantois, em 1922.
Assim, em 1924, prestes a completar 30 anos, Menininha mudou-se para o Gantois junto com o marido e a filha mais velha. Abandonou seu trabalho como costureira e Assumiu a liderança do terreiro fundado por sua família, passando a ser conhecida como Mãe Menininha do Gantois.
Na época em que Mãe Menininha se tornou ialorixá, os tempos não eram fáceis para os adeptos do Candomblé. Além do preconceito, os filhos e mães-de-santo sofriam muitas perseguições e violência. Segundo a lei, as festas só poderiam ser realizadas em determinados horários e mediante uma autorização por escrito. Mas, isso não impedia que os policiais invadissem os terreiros de forma violenta. Mãe menininha chegou até a ser presa por resistir à polícia, cultuando os orixás no candomblé de Gantois. Referindo-se aos tempos sombrios do violento preconceito e perseguições ao culto afro-brasileiro, assim ela disse: “Eu tinha 22 anos no tempo da perseguição violenta da polícia aos candomblés, não era Orixá nem Mãe-de-santo. Foi uma época dura.”
Os anos de opressão só terminaram em 1976, quando Roberto Santos, o então governador da Bahia, sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes. Até esse período, porém, não há registros de que o Gantois tenha sido alvo das batidas policiais, tampouco de violências e agressões.
Sob o comando de Mãe Menininha, o Gantois logo se tornou um dos terreiros mais procurados e respeitados da Bahia. Filha de Oxum, divindade relacionadas às águas doces e ao amor, a líder religiosa tinha várias características de sua orixá. Muitos que a conheceram a descrevem como uma mulher amorosa, generosa e sempre disposta a aconselhar quem a procurava.
Com o passar do tempo, Mãe Menininha foi formando cada vez mais filhos-de-santo e sua popularidade não parou de crescer. “Nos anos 80, assiste-se a sua veneração. A imagem de Menininha do Gantois já adquire ares de mitificação”, escreveu o antropólogo Jocélio Teles em Caminhos da Alma. “Ser abençoado por Mãe Menininha era um desejo de todo mundo que visitava a Bahia. Para receber a bênção da sacerdotisa, turistas de todas as partes do país lotavam ônibus e se amontoavam na entrada do terreiro. confortadora”, afirma Josildeth Consorte. Políticos, artistas, intelectuais e acadêmicos a procuravam constantemente em busca de conselhos, orientações ou informações para suas pesquisas.
Mas, a ialorixá também recebia as pessoas humildes e sempre oferecia café ou comida aos visitantes, fossem eles pobres ou chefes-de-Estado. Caetano Veloso afirmara sobre ela: “A memória de Mãe Menininha projeta-se para o futuro de um Brasil que há de merecer uma vida à altura dos deuses que vieram, pelo destino trágico do seu povo, habitar nossas florestas, nossas ruas, nossa língua e nossos sonhos… A memória de Mãe Menininha é a memória do que há de mais profundo  e mais denso em nossa formação cultural.”

Mesmo com sua aversão à fama, Mãe Menininha recebeu diversas homenagens, especialmente de artistas e amigos ilustres. Entre elas, a mais conhecida é a música “Oração a Mãe Menininha”, que Dorival Caymmi compôs em 1972.  Apesar de ser ogã (espécie de protetor influente do Candomblé) de outro terreiro, o compositor visitava freqüentemente Mãe Menininha, a quem pedia conselhos e tratava como a uma mãe. “Ela costuma dizer que eu era sua sexta neta”, recorda a cantora Nana Caymmi, filha de Dorival. “Sempre recebia a todos com o mesmo sorriso e a mesma alegria.” Quem conheceu Mãe Menininha conta que ela tinha um jeito todo especial de ser, viver e cuidar das pessoas. Um jeito carinhoso de mãe, sempre atenciosa e a pronta a ajudar seus filhos, que os versos da canção trataram de imortalizar: “A beleza do mundo, heim? Tá no Gantois./ E a mão da doçura, heim? Tá no Gantois./ O consolo da gente, ai. Tá no Gantois…/ Ai, minha mãe. Minha Mãe Menininha”.
Mãe Menininha faleceu de causas naturais em 13 de agosto de 1986, aos 92 anos de idade.
CITAÇÕES DE MÃE MENININHA
A famosa Ialorixá de Gantois
“Deus? O mesmo Deus da Igreja é o do Candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós, com o nome de Olorum. A morada dele é lá em cima e a nossa, cá embaixo”.
(…)
“Para mim, todas as religiões são verdadeiras, agora cada um na sua… Antigamente, as pessoas pensavam tantas coisas ruins do candomblé, mas ele é bom e não faz mal a ninguém. Os padres deveriam entender isso… África conhece o nosso Deus tanto quanto nós o conhecemos, com nome diferente, mas é o mesmo Deus com o nome de Olorum”.
COMERCIAL ANTIGO DE MÃE MENININHA
Comercial com a mais famosa Ialorixá da Bahia, Mãe Meninha do Gantois.
MÚSICAS EM SUA HOMENAGEM
Oração de Mãe Menininha
Composição: Dorival Caymmi
Ai! Minha mãe
Minha mãe Menininha
Ai! Minha mãe
Menininha do Gantoise
A estrela mais linda, hein
Tá no gantoise
E o sol mais brilhante, hein
Tá no gantoise
A beleza do mundo, hein
Tá no gantoise
E a mão da doçura, hein
Tá no gantoise
O consolo da gente, ai
Tá no gantoise
E a Oxum mais bonita hein
Tá no gantoise
Olorum quem mandou essa filha de Oxum
Tomar conta da gente e de tudo cuidar
Olorum quem mandou eô ora iê iê ô
Réquiem pra Mãe Menininha do Gantois
Gilberto Gil
Composição: Indisponível
Foi
Minha mãe se foi
Minha mãe se foi
Sem deixar de ser – ora, iêiê, ô
Dói
Minha alma ainda dói
Minha alma ainda dói
Sem deixar doer – ora, iêiê, ô
Foi
Tão boa pra nós
Tão boa pra nós
Não deixa de ser – ora, iêiê, ô
Mãe
Do orum, do céu
Do orum, do céu
Me ajuda a viver neste ilê aiê
Rara
Ouro
Guarda o tesouro pra nós
Riso
Puro
Porto Seguro pra nós
Vemos
Vivo
O brilho da tua luz
Iluminando nossos corações
Ouve nossa oração
Escuta a demanda de cada um
Manda teu doce axé
Recomenda ao santo o teu candomblé
Fala com cada um
Fala com cada um
Fala com cada filho fiel
Canta pra todos nós
Derrama sobre todos o teu mel
Foi
Minha mãe se foi
Minha mãe se foi
Sem deixar de ser a Rainha do Trono Dourado de Oxum
Sem deixar de ser
Mãe de cada um
Dos filhos pra quem eternamente sempre haverá
Mãe Menininha
Mãe Menininha
Mãe Menininha
Mãe Menininha


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