Em todos os tempos, os
oradores mais hábeis, sempre que convidados a discursar nos auditórios que se
celebrizaram por aqueles que ali passaram, tiveram a preocupação de dar à sua
palavra os tons insuperáveis da sabedoria, em formulações cultas, que produzissem
impactos e admiração inicial nos seus ouvintes.
Apelavam para as técnicas
do discurso, citando personagens célebres e suas palavras, em tonalidades
harmoniosas unidas à gesticulação bem estudada, de forma que pudessem
produzir o desejado anelo da simpatia geral.
Era sempre muito grande a
preocupação com o estilo e a forma, sem olvido, naturalmente, do conteúdo.
Nada obstante esses
cuidados, quando as ideias não lhes eram conhecidas ou não lhes despertavam o
interesse imediato, os presentes desviavam a atenção demonstrando enfado ou
desprezo pelo orador e sua mensagem.
O caso típico desse
comportamento encontra-se na apresentação do Apóstolo Paulo, no Areópago, em
Atenas.
A presunção e a falsa
cultura que predominavam entre os intelectuais gregos, distantes dos
postulados éticos de muitos dos seus nobres ancestrais, apesar de leve
condescendência para com o expositor mal vestido, deixaram de aceitar-lhe as
informações, logo ele aprofundou-se ao tema, revelando a grandeza da
personalidade de Jesus.
Empanturrados de
hedonismo uns e do cinismo filosófico outros, não dispunham de espaço mental
para novas formulações em torno da vida e dos objetivos essenciais.
O tédio e a futilidade
dominavam-lhes o comportamento, reservando a inteligência para os sofismas,
silogismos e debates intermináveis quão inúteis, em que se exibiam, cada qual
pretendendo ser mais hábil e profundo conhecedor do que o outro.
Perderam, pela vã
filosofia, extraordinária oportunidade de travar contato com o Nazareno, que
desprezavam, porque Ele ressuscitara, o que lhes parecia mitológico, absurdo,
insensato...
Antes havia sido Estêvão
que, obrigado a defender-se das acrimoniosas e injustas acusações a respeito
do seu ministério na Casa do Caminho, viu-se agredido fisicamente por Saulo,
o arrogante doutor da Lei, que lhe não participava das ideias, porque
aferrado ao judaísmo decadente.
Entre apupos e
vociferações de toda ordem, o jovem cristão enfrentou os tiranos sem
disfarçar a nobreza dos postulados que abraçava, abordando com lógica
irretorquível as lições libertadoras de Jesus, por aquele mesmo sodalício
condenado à morte pouco antes, porque se não submetera às suas tricas
objurgatórias.
A simplicidade e
profundeza dos conceitos emitidos irritavam os opositores que, incapazes de
debater no campo das ideias, apelavam para a desordem e a força, em vãs
tentativas de intimidar o apóstolo preparado para o martírio.
Ainda hoje, encontram-se,
no mundo, os grandiosos auditórios onde desfilam as vaidades e multiplicam-se
os déspotas disfarçados de portadores do conhecimento e formadores de
opiniões.
Normalmente, asfixiados
pelo soez materialismo ou o daninho fanatismo religioso, consideram-se os
únicos pensadores capazes de traçar comportamentos culturais para os demais,
situando-se acima daqueles que não compartem as suas opiniões e aureolando-se
dos louros da vitória em simulacro de parceiros das musas e dos deuses do
Olimpo da cultura.
Parecem impassíveis às
propostas de desenvolvimento intelecto-moral fora das suas escolas de
pensamento e de fé, combatendo com acrimônia tudo e todos que se proponham a
melhorar a situação espiritual da sociedade.
Suas tribunas e cátedras
estão sempre reservadas aos pares, àqueles que são portadores dos títulos
lisonjeiros que se permutam na disputa do estrelado magnífico da exaltação do
ego.
Não que sejam escassos
aqueles outros, que, igualmente portadores dos louvores dos centros de
cultura e de ciência, estão abertos a novas reflexões e análises do que
ignoram, abraçando os resultados defluentes da investigação, que se permitem
afanosamente, de imediato, transmitidas aos demais.
São esses os verdadeiros
estóicos da abnegação e da coragem que mantêm acesa a claridade do
conhecimento livre, que se reconhecem como aprendizes da Vida, sempre
crescendo no rumo da plenitude intelectual, sem a perda dos elevados compromissos
éticos indispensáveis à existência enobrecida.
Diante dos paradoxos de
tal natureza, torna-se imprescindível a todo aquele que divulga as
incomparáveis lições em torno da imortalidade da alma, não temer a presunção
e o fastio da falsa e dourada cultura, usando cátedras, tribunas ou os
singelos recintos de edificação espiritual, qual o fizeram, a princípio
Estêvão na Casa do Caminho e Paulo nas diversas situações, inclusive na Domus
Áurea, em Roma, diante da truculência de Nero, cirurgiando os tumores
malignos da hipocrisia e da promiscuidade, enquanto aplicava o mercúrio cromo
para a cura desses males, em forma da mensagem de Jesus.
Provavelmente, os
untuosos dominadores mundanos rejeitarão a partitura musical da inolvidável
Palavra, mas nunca se olvidarão desses momentos sinfônicos em que a escutaram
apesar dos ouvidos entorpecidos pela mentira e a mente atribulada pelos
interesses subalternos.
Nunca preocupar-se em
demasia, portanto, todo aquele que se dispõe elucidar a ignorância e disseminar
a verdade em nome de Jesus, especialmente através do Espiritismo, com os
cultores da inteligência trabalhada pelo academicismo tradicional, mais
preocupada em dar brilho ao conhecimento, colocando os seus iluminados
distantes das necessidades humanas, que alguns se recusam a atender.
As tribunas clássicas dos
debates culturais vêm sendo corroídas pelo tempo, que lhe tem imposto novos
comportamentos, enquanto os exemplos daqueles, que usam a palavra na
construção e manutenção da ética da solidariedade e do amor, permanecem
solucionando os graves problemas que afligem a sociedade.
A palavra espírita é
simples e desataviada, tendo como escopo conduzir as mentes e os sentimentos
às esferas da harmonia, mediante a razão e o discernimento, porque totalmente
livre de adereços e dependências do status quo.
É destinada a todos os
indivíduos que se encontram na Terra, sejam eles intelectuais ou modestos
cultivadores do solo, administradores poderosos ou mendigos, exemplos de
saúde ou enfermos, possuidores de riquezas materiais ou despojados de todos
os bens, qual ocorreu com os ensinamentos de Jesus, que foram direcionados
para todos os biótipos humanos. Entretanto, não será oferecida aos
discutidores inveterados, aos que se encontram empanturrados de presunção e
se acreditam bem situados nos acolchoados da inutilidade.
Verberando o erro e
orientando a conduta saudável, a Mensagem deve chegar aos ouvidos das
necessidades como brisa perfumada em plena primavera, que impregna e nunca
mais desaparece.
Em qualquer lugar,
portanto, seja a nobre sala das conferências, o modesto recinto da Casa
Espírita, o santuário da Natureza, o confortável areópago das grandes
cidades, o contato com o transeunte, o verbo eloquente e abençoado poderá
atender aos transeuntes carnais, para os quais os Espíritos nobres
elaboraram, com Allan Kardec, a Codificação.
Vianna de Carvalho.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
no dia 10 de junho de 2011, no
G-19, em Zurique, Suíça.
Em 26.01.2012.
|
▼
Nenhum comentário:
Postar um comentário