É certo que o exercício mediúnico
deve se pautar pela seguinte máxima: “dar de graça o que de graça recebemos”.
O
que me chama atenção é que seguidamente temos médiuns operosos, dedicados,
assíduos, e suas vidas não têm prosperidade. Conversando aqui e ali, verifico
que ainda temos marcado muito forte em nosso inconsciente que ganhar dinheiro é
uma coisa ruim, que não combina com o sagrado, que vai nos atrapalhar.
Verifico, ainda, um medo de “não se entrar no Céu”, decorrente da explicação de
Jesus acerca da dificuldade de um rico alcançar esse feito, quando disse ser
mais fácil um camelo passar no buraco da agulha do que isso acontecer.
A
resposta de Jesus para o jovem rico que o perquiriu não se baseou só em sua
riqueza, mas no fato de que seu coração estava cheio de avareza e idolatria
pelas moedas. Não é possível que Deus seja contra a riqueza, a troca mercantil,
o progresso.
O jovem rico, ao inquirir de Jesus sobre o que fazer para herdar a
vida eterna, ouviu do Mestre que deveria desfazer-se de suas riquezas, para ter
um tesouro no Céu. A questão não era o dinheiro que o jovem acumulava, e, sim,
sua idolatria pelo material.
A explicação de Jesus, dizendo que é mais fácil um
camelo passar por um buraco de agulha do que um rico entrar no Céu,
incorretamente interpretada até os dias atuais, faz muitos pregarem contra os
bens materiais e acreditarem na trilogia: espírito, Céu e pobreza.
Com certeza,
nosso coração e nossa consciência não devem estar
apenas nas riquezas pueris.
Todavia, ganhar dinheiro honestamente, em
abundância, não constitui maior empecilho que o mundo profano, os apelos
carnais e o próprio orgulho, uma vez que ser pobre não é ser humilde e
vice-versa.
No exemplo do jovem, diante de Jesus, recomendou-se, de forma
figurada, que ele deveria deixar o apego às riquezas.
Na verdade, a riqueza
potencializará o que nossas emoções negativas exprimem em nosso modo de ser,
como um meio de exacerbação involuntária da falta de autoconhecimento, como o
são o apego à fama, ao talento reconhecido, à boa aparência, com roupas da
moda, ou ao intelectualismo exagerado, à sexo-latria e à vaidade
desmedidas.
Infelizmente, a mentalidade dominante no meio judaico cristão –
incluindo-se o espiritismo e também nossa Umbanda, pois seria impensável
negarmos a influência católica em nossas comunidades – é a de “bem-aventurados
os pobres”, quando deveríamos enfatizar: “O Senhor é meu pastor; nada me
faltará”.
Um dia desses, escutei de um dirigente Umbandista que tem seu terreiro
quase caindo aos pedaços, em um barracão de madeira, que não reformava o local
para o povo não pensar que eles tinham dinheiro, mesmo o agrupamento sendo auto
suficiente financeiramente e o terreno sendo deles. Pode?
Voltando à pergunta de
que se mediunidade combina com prosperidade, respondo: é claro que sim.
Temos, na Umbanda, a linha dos
Ciganos, que nos trazem uma alegre mensagem de axé – força – para abundância,
fartura e prosperidade em nossas vidas.
É preciso falar um pouco da origem dos
Ciganos, para entender seu trabalho e por que ele é realizado na
Umbanda.
Primeiramente, temos de desmistificar a imagem do andarilho cigano,
malandro, ladrão, sequestrador de criancinhas, falastrão, desonesto.
Isso foi
fruto do preconceito diante dessa etnia
livre e alegre, principalmente
pelo fato de a crença deles não ser católica, religião dominante, confundida
com os estados monárquicos por muito tempo.
Os Ciganos chegaram ao Brasil
oficialmente a partir de 1574. Existiam disposições régias proibindo-os de
entrarem em Portugal. Em 15 de julho de 1686, Dom Pedro II, rei de Portugal, em
conluio com o clero sacerdotal da Igreja, determinou que os ciganos de Castela
fossem exterminados e que seus filhos e netos (ciganos
portugueses) tivessem domicílio certo ou fossem enviados para o Brasil, mais
especificamente para o Maranhão.
Dom João V (1689-1750), rei de Portugal,
decretou a expulsão das mulheres ciganas para as terras do pau-brasil.
Por anos
a fio, promulgaram-se dezenas de leis, decretos, alvarás, exilando os ciganos
para os estados de Maranhão, Recife, Bahia e Rio de Janeiro, onde se
encontravam os núcleos populacionais mais importantes da colônia portuguesa.
Este mesmo rei, Dom João V, proibiu os ciganos de falar o romani, uma de suas
línguas.
Afirma-se que as mais importantes contribuições dos ciganos para o
progresso e a prosperidade de nosso país foram negligenciadas até hoje pelos
historiadores e livros escolares.
Eles foram coparticipantes da integração e da
expansão territorial brasileira.
Ouso afirmar, ainda, que, se não fossem os
ciganos, as comunidades de antigamente, pequenos centros habitacionais,
vilarejos, teriam progredido muito mais lentamente.
Os portugueses e africanos
que vieram para cá não eram nômades. Os lusitanos procuravam fixar-se em terras
alémmar, e os africanos fixavam-se a estes últimos como escravos.
Então, de
norte a sul, de leste a oeste, em todos os lugares, lá estavam os ciganos,
livres, viajando em suas carroças, negociando animais, arreios, consertando
engenhos, alambiques, soldando tachos, levando notícias, medicamentos,
emplastros e também dançando, festejando e participando de atividades
circenses.
Alegres, prudentes, místicos, magos e excelentes negociantes, quando
chegavam aos vilarejos conservadores, era comum senhoras se benzerem com os
rosários em mãos, esconderem as crianças nos armários, pois chegavam os ciganos
com suas crenças pagãs.
Assim como os espíritos de negros e índios foram
abrigados na umbanda, por falta de espaço para suas manifestações nas lides
espíritas, todas as raças encontraram no mediunismo umbandista liberdade de
expressão.
Os fatores mais importantes que permanecem em um povo, desde a mais
remota antiguidade, são de consistência espiritual, com manifestação nos
sentimentos e no modo de ser mais íntimo, com comportamentos típicos, frutos da
memória coletiva, ou seja, de uma herança atávica.
É inconcebível, como o fazem
nas hostes kardecistas, doutrinar um espírito milenar em minutos, fazendo-o
deixar de ser um brâmane, um filósofo grego, um mago persa, um aborígene, um
negro africano, um índio ou um cigano, passando a ser “só um espírito”.
Com
respeito a todas as formas raciais, a umbanda foi plasmada no Astral para
oportunizar a manifestação de todos esses espíritos comprometidos com suas
histórias e consciências coletivas, que não se desfazem e refazem em minutos de
oratória racionalista, em uma mesa espírita.
Não faz pouco tempo, estive
envolvido no aluguel de uma sala comercial para instalar minha empresa de
distribuição de catálogos por vendas diretas. Estava apreensivo com a
inadimplência e temeroso de que esse novo passo, para o qual teria que assumir
investimento e novas representações, não fosse bem-sucedido.
Fiz uma prece
fervorosa no congá da choupana, pedindo amparo e que, se fosse de meu
merecimento, conseguisse intuição para tomar as decisões certas em relação ao
novo empreendimento, dado o baixo capital de giro de que dispunha.
Sou da
opinião de que quem não pede não leva e de que devemos saber pedir, para não
ganharmos o que não queremos.
Podemos pedir um cavalo ligeiro e ganhar um
burrico manco, tendo ainda que dar de comer ao bichano.
Na dúvida sobre a
equidade do que se pede, melhor calar.
Na mesma noite da prece no congá, no meio
da madrugada, senti uma cigana ao lado de minha cama; alta, com saia rodada
vermelha, uma tiara prendendo os longos cabelos negros, cantava e dançava
flamenco com castanholas, dizendo ser a cigana formosa da Andaluzia, região da
Espanha.
Em desdobramento, pegou minha mão fluídica, a esquerda, e comprimiu
dois pontos, dizendo-me que estava ativando algumas linhas de força em meu chacra
palmar, que me fortaleceriam, no sentido de ter maior tenacidade e não desistir
facilmente do novo projeto.
Ao acordar, senti comichão forte em dois pontos da
palma esquerda, que ficou quente e vermelha. Nesse momento, ouvi a cigana
formosa dizendo-me que estaria, a partir de então, junto comigo em meu
estabelecimento comercial e de trabalho.
Atendia um pedido de caboclo Pery e
fora, então, designada pelo senhor Tranca Rua das Almas, por ser o Exu guardião
da choupana, zelador da corrente mediúnica, para que me acompanhasse,
ajudando-me para que meus caminhos de prosperidade estivessem abertos e assim
atraísse, pela lei de atração e afinidade, negócios em mesma faixa vibratória,
de abundância e progresso.
Deu-me um recado, ao final dessa experiência:
"Meu caro cigano Zartheu. É assim
que te conheço de longa data: tua preocupação com a coletividade religiosa com
que estás envolvido, esquecendo-te da tua própria bonança, muitas vezes sem uma
moeda no bolso e mesmo assim não se abatendo diante de tantas rogativas e choro
por falta de emprego, dinheiro e penúria dos consulentes.
Este simples fato de
não pensares em ti, quando vestes o branco da umbanda para auxiliar os que te
batem à porta do terreiro, deu-te merecimento para que fosse ajudado.
Nada é um
acaso.
Em idos antigos, quando ocupávamos o mesmo clã e eu te era a amada,
cuidava de todos os negócios de nossa família cigana, que era enorme.
Tu
confiavas em mim cegamente, até o dia que te traí com um jovem cigano
galanteador de outro clã.
Não te lembras do ataque em tuas tendas em altas
horas de madrugada, do assalto e assassinatos infames?
Caímos, eu e ele, na mais
grossa traição, conspurcando nossa fé e etnia.
Não sabes quanto sofri por isto;
“expulsa” de nossa tribo por nossas leis, deixada a esmo no interior da Espanha
católica, acabei me recolhendo em convento.
Por não ter procedência aceita,
terminei meus dias como serviçal das freiras, que, por qualquer motivo,
escarneciam da minha origem étnica, chamando-me de bruxa megera, pelo fato de a
arte da leitura das mãos ser uma heresia.
Quanto sofrimento, meu querido, e
agora tenho a oportunidade sagrada de me reequilibrar com as leis divinas,
auxiliando-te como fiel e formosa olheira no Astral, contribuindo para que
recebas novamente um pouco de tudo que te fiz perder.
Meu amor pela história de
nosso povo é enorme e compreendo que nada é definitivo.
As oportunidades são
eternas, diante da bondade infinita do Pai.
Conta com tua amiga, agora mais
fiel do que nunca, para que consigas um pouco na Terra, o suficiente para uma
vida digna, com bonança, e te dediques cada vez mais ao espiritual.
Todos
aqueles que de alguma forma dependem de ti neste corpo, desde a filha de
Iemanjá, que está muito próxima, zelando por ti e amando-te como mulher, e teus
familiares, médiuns, consulentes, público leitor, entre tantos, encontrem
sempre a serenidade em teu semblante, que a abundância e a prosperidade
oferecem, quando associados com a espiritualização do ser que a nossa amada
umbanda forja.
Que Deus e os sagrados orixás nos abençoem.
Tua eterna amiga,
hoje cigana formosa."
Que as flores da campina vão
vergar.
São uma, são duas, são três
flores,
De onde seu perfume vai tirar.
Quando cheguei à aldeia
Senti um aroma de rosas.
Havia uma cigana formosa,
Qual cigana eu encontrei.
Levanta a saia, oh, cigana!
Não deixa a saia arrastar,
A saia custa dinheiro,
Dinheiro custa ganhar. ♫♪"
+++++++
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