Primeiro levaram os
negros, mas não me importei com isso. Eu não era negro.
Em seguida levaram
alguns operários, mas não me importei com isso. Eu também não era operário.
Depois prenderam os
miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável.
Depois agarraram alguns
desempregados, mas como eu tenho um emprego, também não me importei.
Agora... Agora estão me
levando.
Mas já é tarde. Como eu
não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.
* * *
O poema grave é de
Bertolt Brecht, influente dramaturgo e poeta alemão do século XX.
A questão gravíssima é
do ser humano, desnudado em linhas poéticas, exposto pelo pensador que aqui nos
convida a refletir sobre a indiferença.
A vida individualista,
que prioriza o eu em detrimento do outro, apresenta-se como um dos problemas
mais sérios da atualidade humana.
O egoísmo, a cobiça, o
medo, transformaram grande parte dos seres em autômatos ilhados.
Autômatos, sim, pois
evitam pensar, refletir, ponderar, em nome de uma falsa falta de tempo.
Autômatos que se plugam
na tomada pela manhã, e se desplugam à noite, sem terem realmente estado
presentes em seus dias, em suas próprias vidas.
Ilhados também, pois se
isolam das pessoas, do contato humano.
Não se pode mais
confiar em ninguém, não se pode mais contar com ninguém. Todos são suspeitos...
– Afirmam alguns.
Ilhados, usam das
tecnologias do mundo moderno, que visam apenas auxiliar o homem em suas
tarefas, para manterem uma distância segura do mundo.
E o virtual parece ser
mais seguro, mas fácil do que o real... Enganamo-nos em nome de uma suposta
segurança.
Assim deixamos de nos
importar com os outros, vivendo um constante salve-se quem puder, como se o
desespero fosse grande auxílio.
E quanto mais nos
afastamos, mais difícil é a volta.
Amizades que deixamos
de cultivar na infância, na juventude, hoje fazem falta a muitos homens e
mulheres, vítimas de transtornos psicológicos, como a depressão.
Relacionamentos
familiares fortes, envolvendo cumplicidade e carinho, no futuro nos farão falta,
pois quando precisarmos nos abrir, desabafar, perceberemos que não temos
intimidade com ninguém para tal.
É preciso agir. Agir
enquanto há tempo.
Será tão difícil dar
atenção, se importar com aqueles que estão ao nosso redor?
Será tão difícil romper
esta barreira da indiferença, e perguntar: Como você está? – realmente
desejando saber como anda a vida do outro?
O mundo não sou eu mas
os outros. O mundo somos nós.
Estamos todos expostos
ao mesmo tipo de experiências, às mesmas provações, aos mesmos aprendizados.
É preciso agir. É
preciso se importar mais.
* * *
Quebra o gelo da
indiferença, e perceberás que as águas que irão verter aplacarão tuas sedes
mais secretas.
Desperta ainda hoje, e
perceberás que o brilho do sol é mais seguro do que a escuridão dos olhos
fechados.
Redação
do Momento Espírita,
com
base em poema de Bertolt Brecht
(1898-1956),
a partir de poema escrito
originalmente
por Martin Niemoller,
que
viveu na Alemanha nazista.
Disponível
no livro Momento Espírita, v. 7, ed. FEP.
Em 24.1.2017.
Fonte:
Momento Espírita
www.momento.com.br
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