O incenso é uma resina gomosa que
brota na forma de gotas da árvore Boswellia Carteri, arbusto que cresce
espontaneamente na Ásia e na África. Durante o tempo de calor e seca (nos meses
de fevereiro e março) são feitas incisões sobre o tronco e ramos, dos quais
brota continuamente a resina, que se solidifica lentamente com o ar. A primeira
exudação para nada serve e é, pois, eliminada; a segunda é considerada como
material deteriorável; a terceira, pois, é a que produz o incenso bom e
verdadeiro, do qual são selecionadas três variedades, uma de cor âmbar, uma
clara e a outra branca.
Na Antiguidade:
Era uso antigo espalhar resina e
ervas aromáticas sobre carvões acesos para purificar o ar e afastar o perigo de
infecções.
Num primeiro momento, a fumaça
tinha um valor catártico (de purificação, de relaxamento) e também apotropaico
(o de afastar ou destruir as influências maléficas provenientes de pessoas,
coisas, animais, acontecimentos).
O uso desta resina perfumada não
era exclusivo do culto religioso. O incenso não era queimado somente nos
templos, mas também nas casas; as incensações exalavam perfume e, ao mesmo
tempo, tinham um fim higiênico.
O incenso foi sempre considerado
como algo muito precioso. Era utilizado em todas as cerimônias e funções
propiciatórias, porém, era sobretudo queimado diante de imagens divinas nos
ritos religiosos de muitos povos e, ao se sublimarem as concepções religiosas,
as espirais de incenso, em quase todos os cultos, converteram-se em símbolo da
oração do homem que sobe até Deus.
No culto aos mortos, a fumaça que
subia para o alto, era considerada como uma forma de atingir o além e, ao mesmo
tempo servia para afastar o odor proveniente da decomposição, uma necessidade
premente nos países de clima mais quente. O incenso era também utilizado como
expressão de honra para os imperadores, o rei e as pessoas notáveis.
Nas Sagradas Escrituras:
Conta-se na Bíblia que a Rainha
de Sabá chegou a visitar Jerusalém e o Rei Salomão, levando-lhe, entre outros
presentes, uma quantidade extraordinária do mais precioso incenso que, naquela
época, era vendido num centro de comércio muito importante. De fato, ao longo
da história do incenso prosperam povos e reinos míticos, como se lê na Bíblia,
no Alcorão e no Livro etíope dos reis.
O incenso fazia parte da
composição aromática sagrada destinada unicamente a Deus (Ex 30,34) e se
transformou em símbolo de adoração. Em linhas gerais é símbolo de culto
prestado a Deus e de adoração: Ouçam-me, filhos santos...Como incenso exalem
bom odor Si 39,14). A oferenda do incenso e a oração são intercambiáveis, ambos
são sacrifícios apresentados a Deus, como diz o salmo 141, que proclama: Suba
até vós minha oração, como o perfume do incenso. E é com estas palavras que, na
Igreja Oriental, o celebrante ora durante as Vésperas e Laudes matutinas dos
dias de festa espalhando em torno de si o perfume do incenso.
Com a oferta do incenso os magos
do Oriente adoraram o menino Jesus como o recém-nascido Salvador do Mundo (Mt.
2,11).
No último livro do Antigo
Testamento, o Apocalipse, João vê vinte e quatro anciãos que estavam diante do
Cordeiro de Deus, com arpas e taças de ouro cheias de incenso: São as orações
dos santos (Ap 8,3-4).
Entre os cristãos:
Os cristãos não utilizaram o
incenso na liturgia desde o início porque queriam se distinguir, o mais
claramente possível, do paganismo. Extinto o paganismo, o rito do incenso
encontrou logo seu lugar na liturgia cristã.
A partir do Século IV, a tradição
cristã adotou o incenso em seus rituais de consagração e ainda hoje o queima
para honrar o altar, as relíquias, os objetos sagrados, os sacerdotes e os
próprios fiéis, e para propiciar a subida ao céu das almas dos falecidos no
momento das Exéquias.
Primeiramente foram colocados
turíbulos na igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e em seguida também nas
grandes basílicas do Ocidente, junto aos altares e diante dos túmulos dos
mártires.
Graças à benção propiciada pelo
incenso antes de seu uso, ele chega a ser um sacramental (sinal sagrado, que
possui certa semelhança com os sacramentos e do qual se obtém efeitos
espirituais).
Desde o século IX, instaurou-se o
uso do incenso no início da Missa e desde o século XI o altar se transformou no
centro da incensação. O turíbulo era também levado na procissão junto com o evangeliário.
Em seguida, a incensação estendeu-se às oferendas do pão e do vinho, que são
incensadas três vezes em forma de cruz, da mesma maneira como se procede com o
altar e a comunidade litúrgica. Desta forma, nasceu a tríplice incensação
durante a Missa, praticada também hoje de maneira regular no Oriente e, entre
nós, somente nas festas solenes.
O incenso deve envolver toda uma
atmosfera sagrada de oração que, como uma nuvem perfumada, sobe até Deus. O
agitar do turíbulo em forma de cruz recorda principalmente a morte de Cristo e
seu movimento em forma de círculo revela a intenção de envolver os dons
sagrados e de consagrá-los a Deus.
O incenso é muito utilizado na
liturgia fúnebre. Os falecidos permanecem como membros da Igreja, já
santificados pelos sacramentos. Portanto, seu corpo morto é honrado com o
incenso, como as santas mulheres, na manhã de Páscoa, queriam honrar o corpo de
Jesus, ungindo-o com óleos preciosos.
Na reforma litúrgica, depois do
Concílio, em muitos lugares renunciou-se ao símbolo tradicional do incenso, da
mesma forma como ocorreu com outros símbolos mais antigos.
Na consagração solene de um
altar, depois da unção da mesa, queima-se incenso e outros aromas sobre os
cinco pontos do altar. O bispo interpreta esse gesto com as palavras: “Suba até
vós, Senhor, o incenso de nossa oração; e como o perfume se espalha por este
templo, assim possa tua Igreja expandir para o mundo o suave perfume de Cristo.
Nos diversos povos:
No templo, juntos aos ídolos, os
romanos, bem como os gregos, tinham um altar para o incenso (foculus), em sinal
de homenagem e adoração. No culto ao imperador, a incensação possuía valor de
reconhecimento da religião e do estado do imperador enquanto deus.
Entre os etruscos, o sumo
sacerdote, o único que podia conhecer os sinais dos acontecimentos, anunciava
com um toque de trombeta o final de um período e pronunciava o novo tempo
queimando o incenso sagrado em braseiros preciosamente decorados.
Na Grécia se incensava a vítima
do sacrifício para torná-la mais aceitável à divindade. O incenso era deixado a
arder perenemente em braseiros como oferenda aos deuses, protetores da família,
e aos antepassados e também era queimado nas casas dos enfermos, com fins
terapêuticos. Hipócrates, o famoso médico grego (600 ac), o utilizava para
curar a asma e para aliviar as dores do parto.
Em Israel o incenso era de grande
importância no culto divino. Com incenso, misturado a outras substâncias
odoríferas, o sumo sacerdote entrava uma vez por ano no Santo dos Santos, ou
seja no espaço mais sagrado e reservado do templo.
No Egito o uso do incenso remonta
há uns quinze séculos antes de Cristo. Os egípcios utilizavam este perfume dos
deuses como o chamavam, para os rituais do templo, convencidos de que o incenso
podia fazer chegar à divindade os desejos dos homens. Também o definiam como o
“suor dos deuses que cai sobre a terra”.
Na Índia é queimado durante as
meditações de yoga, a fim de facilitar o encontro com a divindade; perfuma os
fornos crematórios, como rito de passagem da vida terrena à ultraterrena e,
além disso, era também utilizado contra reumatismos e enfermidades nervosas.
Na África o incenso é ainda hoje
utilizado para acalmar as dores de estômago, para melhorar o funcionamento do
fígado e circulação do sangue.
Na Europa, em alguns povoados da
Áustria e da Suíça, é queimado nas casas no período compreendido entre o Natal
e a Epifania para garantir a boa saúde de todos que ali moram.
É considerado de bom agouro
queimar incenso durante banquetes de casamento e também em bodas de prata, de
ouro e de diamante.
Na América central os maias
associavam esta resina à lua, símbolo feminino portador de vida, como o sangue,
a linfa, a chuva; também queimavam incenso para exorcizar a seca.
Relaxa, embriaga, purifica:
Pesquisas científicas tem
demonstrado que, ao ser queimado o incenso desprende tetraidrocanabinol (THL),
substância com notável poder desinfetante, porém também inebriante e
anestésica, capaz, por exemplo, de atenuar dor de cabeça e de dente. O fenol
exalado pela fumaça do incenso de fato atua no córtex cerebral (sede da
consciência e da elaboração de informações) e sobre o sistema neurovegetativo
(que controla a respiração, o ritmo cardíaco, as funções digestivas e
intestinais). Foi comprovado que o THL estimula a serotonina (substância
produzida pelo cérebro, pertencente ao grupo biológico das aminas). Doses
básicas, como por exemplo as equivalentes as exalações de incenso durante uma
cerimônia religiosa, aumentam o nível de serotonina que, por sua vez, atenua os
impulsos nervosos e baixa a freqüência das ondas cerebrais, criando um estado
psicofísico que facilita a capacidade de concentração. A serotonina é também
dotada de ação anti-hemorrágica, sendo protetora dos capilares. Supõe-se que o
incenso, com seu poder inebriante, é capaz de ajudar na concentração,
despertando a vontade psíquica, levando paz ao coração, aplacando as tensões,
predispondo à meditação e acendendo nos ânimos aquele fervor que permite entrar
em contato com a divindade. Também estimula favoravelmente o olfato do homem,
exalta o caráter solene de uma celebração e, finalmente, desinfeta e purifica
os ambientes.
FONTE:
Centro Rússia Ecumênica - Vicolo
Del Farinone 30 - 00193 - Roma, Itália.
Reblogado de Eclesia
http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_incenso.html
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