Manoel Philomeno de Miranda:
"Na patogênese da alienação mental, sob qualquer aspecto em que se apresente, sempre defrontaremos um Espírito falido em si mesmo, excruciando-se sob a injunção reparadora, de que não se pode deslindar, senão mediante o cumprimento da justa pena a que se submete pelo processo da evolução.
As Soberanas Leis,
que mantêm o equilíbrio da vida, não podem, em hipótese alguma, sofrer
defraudações, sem que se estabeleçam critérios automáticos de recomposição, em
cujo mister se envolvem os que agem com desregramento ou imprevidência.
Sintetizadas na
lei de amor, que é a lei natural fomentadora da própria vida, toda criatura
traz o gérmen, a noção do bem e do mal, em cuja vivência programa o céu ou o
inferno e aos quais se vincula, nascendo as matrizes das alegrias ou das dores,
que passam a constituir-lhe o modus vivendi do futuro,
atividade essa pela qual ascende ou recupera os prejuízos que se impôs.
Não há, nesse
Estatuto, nenhum regime de exceção, em que alguém goze de benção especial,
tampouco de qualquer premeditada punição.
Programado para a
ventura, o Espírito não prescinde das experiências que o promovem, nele
modelando o querubim, embora, quando tomba nos gravames da marcha, possa
parecer um malfadado "satanás", que a luta desvestirá da armadura
perniciosa que o estrangula, fazendo que liberte a essência divina que nele
vige, inalterada.
Quem elege a
paisagem pestilencial, nela encontra motivos de êxtase, tanto quanto aquele que
ama a estesia penetra-se de beleza, na contemplação de um raio de Sol ou de uma
flor, inundando-se de silêncio íntimo para escutar a musicalidade sublime da
Vida.
Não existe,
portanto, uma dor única, na alma humana, que não proceda do próprio
comportamento, sendo mais grave o deslize que se apóia na razão, no
discernimento capaz de distinguir, na escala de valores, as balizas
demarcatórias da responsabilidade que elege a ação edificante ou
comprometedora...
Só Jesus viveu a
problemática da aflição imerecida, a fim de lecionar coragem, resignação,
humildade e valor ante o sofrimento. Ele, que era Justo, de modo que ninguém se
exacerbe ou desvarie ao expungir as penas a que faz jus.”
Autor: Manoel Philomeno de Miranda, da obra: Nas Fronteiras da Loucura, Psicografia de
Divaldo Franco.
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