Psicografia de Divaldo Franco
No princípio...A Terra era vazia e havia trevas sobre a face do abismo.
(Gênesis, 1:1-2)...e Deus iniciou a
Sua Obra, a que conhecemos...
Por mais que a inteligência humana recue na busca desse princípio, o
primeiro momento desaparece no tempo e no espaço, sem que qualquer concepção
possa apresentar um limite, perdendo-se, no infinito, que dimensiona a humana
ignorância a respeito da Causalidade Absoluta.
Desde que, no princípio, torna-se o ponto de partida
para o tempo, que haveria antes, se é que havia? Da mesma forma, assomam, à
mente, as propostas evangélicas, quando se referem ao até o fim dos
tempos (I Pedro: 1-20), ensejando margem anovas inquirições a respeito
do que ocorrerá depois, se ocorrer...
Mesmo que se aprofunde ao máximo a inteligência, através do
conhecimento, na decifração da incógnita do tempo, mais complexos se tornam os
fenômenos que através dele se manifestam e podem ser observados.
Desta forma, a única dimensão descomprometida para elucidá-la é a tácita
aceitação da Eternidade, abrangendo o ilimitado e o relativo, o antes não
existido e o depois que não existirá.
O tempo, no entanto, somente se torna realidade por causa da mente, que
se apresenta como o sujeito, o observador, o Eu que se detém a considerar o
objeto, o observado, o fenômeno.
Esse tempo indimensional é o real, o verdadeiro, existente em todas as
épocas, mesmo antes do princípio e depois do fim.
Aquele que determina as ocorrências, que mede, estabelecendo metas e
dimensões, é o relativo, o ilusório, que define bases e períodos denominados
ontem, hoje e amanhã, através dos quais a vida se expressa nos círculos
terrenos e na visão lógica – humana – do Universo.
A mente relaciona manifestações que decorrem, no Sistema Solar, dos
movimentos de translação e de rotação da Terra, limitando os espaços que passam
pelo crivo das convenções estabelecidas e tornadas realidades, sempre porém,
aparentes, porque em caráter relativo e não em acontecimento - fenômeno
absoluto.
Não obstante, mesmo na estabelecida raia, a variação de conteúdos
demonstra que somente o real existe, sendo o conceptual uma criação-limite
necessária para a mente de cada indivíduo.
Esse organograma de fases torna-se uma necessidade para o processo samsárico,
a infinita roda das reencarnações. Face ao impositivo da consciência que
estabelece as marcas temporais, o conceito do hoje assume a condição do que se
pensa, do que se faz e do que se aspira.
É resultado inevitável do já realizado – passado – promovendo a
construção do que se realizará – futuro.
Se, por exemplo, alguém, num grupo, observar qualquer ocorrência, esta
passa a ter existência conforme o grau de emoção do envolvido, o seu
discernimento intelectual, a sua capacidade de identificação com o fato, a sua
óptica existencial. Cada um, portanto, daqueles que assistiram o acontecimento,
experiencia uma vivência que difere, às vezes, diametralmente do que o outro
captou.
Esse fenômeno é observável nos testemunhos apresentados por pessoas que
estiveram presentes e acompanharam o desfecho de algum crime ou irregularidade.
Mesmo quando honestas, os seus enfoques provocam perturbação nos jurados, que
ficam impossibilitados de discernir o real do imaginário, exigindo a habilidade
dos advogados, quer da defesa, quer de acusação – a promotoria especialmente –
para que seja estabelecida a verdade, sempre relativa e raramente legítima em
torno do acontecido.
Aquele agora do fato, logo depois se arquivou na memória do passado, que
será ressumado no futuro, quando um novo presente se imponha como condição de
justiça para a regularização penal necessária.
A mente, portanto, que pensa, estabelece que o ato em que se fixa é o
presente, no entanto, na celeridade do tempo em si mesmo – sem movimento, sem
pressa nem vagar – à medida que elabora ou conceitua cada percepção
estabelecida torna-se passado, e enquanto desenvolve a reflexão avança pelo
futuro afora.
Viajar no permanente agora, integrando-se nas experiências que defluem
das ações - pensamentos condensados em atitudes – enriquece o ser humano com a
sabedoria, avançando no rumo da perfeição.
Terá limite essa conquista? Certamente que não, porquanto, se o houvesse,
delinearia a borda de uma espiral cada vez mais ampla em um novo ciclo do
processo da evolução.
O tempo terrestre, limitado, para facultar o entendimento do campo da
sua infinitude, somente poderá ser experienciado através da oração e da meditação.
A primeira, auxilia a romper-se o círculo dos pensamentos, nos quais a mente se
movimenta, concedendo o êxtase, a anulação do tempo e o desaparecimento do
espaço, propiciando outra dimensão emocional. A segunda, faculta a ruptura da
barreira que dimensiona e encarcera, em cujo bojo uma experiência sucede à
outra, dando curso ao mecanismo das medidas. No mergulho de seu campo de
vibrações, fora do tempo terrestre, o Espírito – não mais o eu superficial –
volve ao seu mundo de origem e participa da vida em sua plenitude, sem a prisão
das sensações, nem os tormentos da emoção linear.
Essa penetração profunda nas esferas do tempo real é consequência da
conquista vertical da experiência que se transformará em ação, ao invés da
horizontal dos atos que se sucedem indefinidamente...
Esse tempo real é o oceano infinito onde o Universo, em fases e
períodos, repete as suas manifestações cósmicas. Ciclicamente, os fenômenos
ressurgem e se imortalizam no triunfo do Espírito que foi criado
simples e ignorante, mediante o esforço e o trabalho edificante,
iluminando-se com a sabedoria.
Eis definida a necessidade da reencarnação, através de cuja roda
de samsara, o ser emerge das formas pesadas e ala-se em dúlcidas
vibrações de luz no rumo do Infinito. Enquanto persevera nas amarras do
passado, que se transformam em cadeias de sofrimentos e de angústias no
presente, necessita de deslindar-se caminhando para o futuro. Todos esses
tempos, porém, encontram-se num só período de tempo denominado hoje, que lhe
constitui a oportunidade incomparável de sair das repetições dos comportamentos
afligentes.
Fadado à plenitude, o Espírito alça-se ao infinito, etapa a etapa,
mediante as conquistas de amor e de sacrifício que o dominarão ao largo das
vivências de sublimação.
Esse empenho libertador auxilia-o na busca doNirvana, do Reino
dos Céus, da Espiritualidade Superior,onde o tempo e o
espaço se encontram no infinito da realidade por enquanto desconhecida. Somente
através desse processo é que se desenvolverá o Cristo Interno, aDivina
Chispa, a Semente Sublime, o Deus interior, que
predomina em germe no cerne de todos os seres humanos.
A mente, inquieta e insegura, gerando conflitos por tendência
tormentosa, herança atávica dos períodos de transição pelos quais passou,
engendra astutos- instintivos - mecanismos de fuga da realidade - do tempo
legítimo - para a fantasia, a ilusão, o medo, a incerteza que atira na sucessão
da dimensão limitada, estabelecendo sofrimentos nos quais se compraz...
Este relativo fenômeno do tempo hoje constitui a ensancha para a
aprendizagem da ação profunda mediante a vivência em que se transforma a imagem
do pensamento.
No começo, passo a passo, avança pelo tempo relativo, o ontem
fundindo-se no hoje e este fazendo-se o amanhã que está chegando.
Mediante a legítima reflexão, além da mente que raciocina
horizontalmente a+b=ab, saltando-se para a conexão tempo – espaço infinito,
viver-se-á um hoje contínuo, que não se transfere para o futuro, nem recua
para o passado nele embutido, trabalhando em favor do estado de paz permanente.
Mui comumente se afirma que o tempo no prazer, na alegria, na felicidade
é sempre rápido, enquanto que durante a expectativa de algo, no sofrimento, no
testemunho, na angústia é sempre muito demorado, não obstante seja a mesma a
carga de segundos em que transcorrem ambos os estados emocionais.
Certamente, a dimensão horária funcionará no ser biológico, assim
como no psicológico, na mente condicionada, desgastando o corpo que se
consumirá, pela inevitável transformação molecular na sepultura ou na incineração,
liberando, porém, o Espírito, para que prossiga a experiência de eternidade em
que se iniciou, desde o seu nascimento, mas que nunca se extinguirá...
Carlos Torres Pastorino
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
em sessão da noite de 19 de março de 2003,
no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
Em16 .01.2012.
Reblogado do website: Divaldo Franco
Link desta mensagem: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=256
Nenhum comentário:
Postar um comentário