Vianna de Carvalho
na manhã do dia 17 de novembro de 2008,
na cidade do Porto, Portugal
Durante o solstício de inverno na
Roma pagã, período que abrange os dias 17 a 23 de dezembro, celebravam-se as
Saturnais, também denominadas como as “festas dos
escravos”, em razão de ser-lhes concedidas oportunidades de prazeres, aumento
da quota de alimentos, diminuição dos
trabalhos a que se encontravam submetidos especialmente nos campos.
Homenageando-se o deus Saturno,
os participantes entregavam- se aos mais diversos abusos, especialmente na área
da sensualidade, da falta de compromissos morais, assemelhando- se às
bacanais...
Quando o Cristianismo primitivo
passou a dominar as mentes e os corações do Império, aqueles afeiçoados a
Jesus, desejando apagar a nódoa moral que vinha do paganismo e
permanecia atormentando a cultura vigente, transferiram a data do Seu
nascimento para aquele período, aproximadamente, destacando-se o dia 25 para as
celebrações festivas.
Havendo nascido o Mestre de
Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais precisos cálculos dos estudiosos
do Cristianismo contemporâneo, o alto significado da ocorrência, pensavam então,
teria força suficiente para apagar as lembranças dos abusos praticados até
aquela ocasião.
O ser humano, nada obstante, mais
facilmente vinculado às paixões primitivas, lentamente foi transformando a data
evocativa da estrebaria de palha que se transformou numa constelação de estrelas, a fim de dar expansão
aos sentimentos desequilibrados, assim atendendo às necessidades das fugas
psicológicas, em culto externo de fantasia e de prazer.
Posteriormente, São Francisco de
Assis, símile de Jesus pelo seu inefável amor e entrega total da vida, desejou
recompor a ocorrência natalina, e realizou o seu
primeiro presépio, a fim de que o mundanismo não destruísse a simpleza da
ocorrência, apresentando o evento sublime na forma ingênua das suas emoções.
Durante alguns séculos preservou-
se a evocação do berço dentro das modestas concepções do Cantor de Deus.
À medida que a cultura espraiou-
se e as modernas técnicas de comunicação ampliaram os horizontes das
informações, as doutrinas de mercado, assinaladas pelas
ambições de compras e vendas, de extravagâncias e de presentes, de sedução pelo
exterior em detrimento do significado interno dos valores, propôs novos
paradigmas para as comemorações do Natal.
Na atualidade aturdida dos
sentimentos, a figura de Jesus lentamente desaparece da paisagem do Seu
nascimento, substituída pelo simpático e gorducho velhinho do norte europeu, Papai
Noel, e o seu trenó entulhado de brinquedos para as crianças e os adultos que
se entregam totalmente à alucinação festiva, distante da mensagem real do
Nascimento.
Atualizando-se no Ocidente e,
praticamente no mundo todo, as doces lendas sobre São Nicolau, eis que também a
árvore colorida vem substituindo o presépio humilde nascido na Úmbria, e
outro tipo de saturnália toma conta da sociedade, agora denominada cristã...
Matança de animais, excesso de
bebidas alcóolicas, festas exageradas, extravagâncias de todo porte, troca de
presentes, abuso de promessas e ânsia de prazeres tomam lugar
nas evocações anuais, com um quase total esquecimento do Aniversariante.
A preocupação com a aparência, os
jogos dominantes dos relacionamentos sociais e o exibicionismo em torno dos
valores externos aturdem os indivíduos que se atiram à
luxúria e ao desperdício, tendo como pretexto Jesus, de maneira idêntica ao
culto oferecido a Saturno.
Propositalmente, os adversários
da ética-moral proposta pelo Mestre procuram apagar a Sua lembrança nas mentes
e nos corações, em tentativas covardes e contínuas de O transformar em
mais um mito que se perde na escura noite do inconsciente coletivo da
Humanidade.
Distraídos em torno da ocorrência
perversa, pastores e guias do rebanho confundido deixam-se, também, arrastar
pela corrente da banalidade, engrossando as fileiras dos celebradores do
prazer e da anarquia.
É certo que Jesus não necessita
de que se Lhe celebrem as datas de nascimento nem de morte, mas deseja que se
vivam as lições de que se fez o Mensageiro
por excelência, propondo novos conceitos e comportamentos em torno da
felicidade e da responsabilidade existencial, tendo em vista a imortalidade na
qual todos nos encontramos mergulhados.
Nada obstante, é de causar
preocupação o desvio, a inversão de valores que se observam nas evocações
festivas e na conduta dos celebradores,muito mais preocupados com o gozo e o despautério do que
com os conteúdos memoráveis dos ensinamentos por Ele preconizados e vividos.
Por compreender as fraquezas
morais do ser humano, Jesus entendia, desde então, tais ocorrências que hoje
acontecem, as adulterações que se produziram nos Seus
ensinamentos, e diante da indiferença que tomaria conta daqueles que O deveriam
testemunhar, foi peremptório ao afirmar: – Quando eles [os seus discípulos] se calarem as pedras falarão... [Lucas, 19:40.]
Concretizou-se o Seu enunciado
profético, porque, nestes dias tumultuosos, nos quais não se dispõe de tempo,
senão para alguns deveres de trabalho que proporcione compensações
imediatas, o silêncio das sepulturas quebrou-se e as vozes da imortalidade em
grande concerto vêm proclamar e restaurar a mensagem de vida imperecível, despertando os adormecidos para a
lucidez e a atualização da conduta nos padrões elevados do Bem.
Não mais os intérpretes que
adaptam os ensinamentos às suas próprias necessidades, distantes do compromisso
com a Verdade; que se deixam dominar por
excessos de zelos desnecessários, transferindo os seus conflitos para os
comportamentos que os demais devem vivenciar; que se refugiam
nos arraiais da fé, não por sentimentos elevados, mas procurando ocultar os
conflitos nos quais estertoram...
As vozes dos Céus, destituídas
dos ornamentos materiais e das falsas necessidades do convívio social,
instauram a Nova Era, trabalhando pelo ressurgimento das lições
inconfundíveis do Amor, conforme Ele as enunciou e as viveu até o holocausto
final...
O Seu Natal é um momento de
reflexão, convidando as criaturas humanas a considerarem a Sua renúncia,
deixando, por momentos, o sólio do Altíssimo para
percorrer os caminhos ásperos da sociedade daquele tempo, amando
infatigavelmente e ensinando com paciência incomum, de modo a
instalar na rocha dos corações os alicerces do Reino de Deus que nunca serão
demolidos.
Assim sendo, embora a inversão de
valores em torno de Jesus e de Sua doutrina, que se observa nas leiras do Cristianismo nas
suas mais variadas denominações, nenhuma força provinda da insensatez
conseguirá diminuir a intensidade de que se revestem,
por serem os caminhos únicos e de segurança para que a criatura,
individualmente, e a sociedade, em conjunto; alcancem a plenitude
a que aspiram mesmo sem o saber.
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