Victor Hugo, da obra "Calvário de Libertação"
psicografia de Divaldo Pereira Franco
Sem nos determos no exame dos
fatores sócio-psicológicos causais do alcoolismo generalizado, de duas ordens
são as engrenagens que o desencadeiam, - observado o problema do ponto de vista
espiritual.
Antigos viciados e dependentes do
álcool, em desencarnando não se liberam do hábito, antes sofrendo-lhe mais rude
imposição.
Prosseguindo a vida, embora a
ausência do corpo, os vícios continuam vigorosos, jungindo os que a eles se
aferraram a uma necessidade enlouquecedora. Atônitos e sedentos, alcoólatras
desencarnados se vinculam às mentes irresponsáveis, de que se utilizam para dar
larga à continuação do falso prazer, empurrando-os, a pouco e pouco, do
aperitivo tido como inocente ao lamentável estado de embriaguez.
Os que lhes caem nas malhas,
tornam-se, por isso mesmo, verdadeiros recipientes por meio dos quais absorvem
os vapores deletérios, caindo, também, em total desequilíbrio, até quando a
morte advém à vítima, ou as Soberanas Leis os recambiam à matéria, que padecerá
das dolorosas injunções constritoras que lhe impõe o corpo perispiritual...
Normalmente, quando reencarnados,
os antigos viciados recomeçam a atividade mórbida, servindo, a seu turno, de
instrumento do gozo infeliz, para os que se demoram na Erraticidade inferior...
Outras vezes, os adversários
espirituais, na execução de uma programática de desforço pelo ódio, induzem os
seus antigos desafetos à iniciação alcoólica, mediante pequenas doses, com as
quais no transcurso do tempo os conduzem à obsessão, desorganizando-lhes a
aparelhagem físio-psíquica e dominando-os totalmente.
No estado de alcoolismo faz-se
muito difícil a recomposição do paciente, dele exigindo um esforço muito grande
para a recuperação da sanidade.
Não se afastando a causa
espiritual, torna-se menos provável a libertação, desde que, cessados os
efeitos de quaisquer terapêuticas acadêmicas, a influência psíquica se
manifesta, insidiosa, repetindo-se a lamentável façanha destruidora...
A obsessão, através do
alcoolismo, é mais generalizada do que parece.
Num contexto social permissivo, o
vício da ingestão de alcoólicos torna-se expressão de status, atestando a
decadência de um período histórico que passa lento e doído.
Pelos idos de 1851, porque
enxameassem os problemas derivados da alcoolofilia, Magno Huss realizou, por
vez primeira, um estudo acurado da questão, promovendo um levantamento dos
danos causados no indivíduo e alertando as autoridades para as conseqüências
que produz na sociedade.
Os que tombam na urdidura alcoólica,
justificam-lhe o estranho prazer, que de início lhes aguça a inteligência,
faculta-lhes sensações agradáveis, liberando-os dos traumas e receios, sem se
darem conta de que tal estado é fruto das excitações produzidas no aparelho
circulatório, respiratório com elevação da temperatura para, logo mais produzir
o nublar da lucidez, a alucinação, o desaparecimento do equilíbrio normal dos
movimentos...
Inevitavelmente, o viciado sofre
uma congestão cerebral intensa ou experimenta os dolorosos estados convulsivos,
que se tornam perfeitos delírios epilépticos, dando margem a distúrbios outros:
digestivos, circulatórios, nervosos que podem produzir lesões irreversíveis,
graves.
A dependência e continuidade do
vício conduz ao delirium tremens, resultante da cronicidade do alcoolismo,
gerando psicoses, alucinações várias que culminam no suicídio, no homicídio, na
loucura irrecuperável.
Mesmo em tal caso, a constrição
obsessiva segue o seu curso lamentável, já que, não obstante destrambelhadas as
aparelhagens do corpo, o espírito encarnado continua a ser dominado pelos seus
algozes impenitentes em justas de difícil narração...
Além dos danos sociais que o
alcoolismo produz, engendrando a perturbação da ordem, a queda da natalidade, a
incidência de crimes vários, a decadência econômica e moral, é enfermidade
espiritual que o vero Cristianismo erradicará da Terra, quando a moral
evangélica legítima substituir a débil moral social, conveniente e torpe.
Ao Espiritismo cumpre o dever de
realizar a psicoterapia valiosa junto a tais enfermos e, principalmente, a
medida preventiva pelos ensinos corretos de como viver-se em atitude
consentânea com as diretrizes da Vida Maior.
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