Pai Jeronimo
Trabalho na linha de pretos
velhos com esta maravilhosa entidade.
Um certo dia, ele atendeu de uma
senhora que lhe veio consultar sobre um tumor nos seios, diagnosticado por uma
mamografia.
Passes daqui, trabalhos dali,
enfim, uma consulta normal…vela, erva, água…
Disse o preto:
- É mizim fia… Tá feito…mas num
deixa de procurá o Homi de branco, dispois vem contá pro nego…nego vai ficá no
toco esperando zunce vortá…
E saiu a consulente.
Numa próxima gira, estava lá o
preto no toco e chegou a sua consulente, já na segunda parte do trabalho.
- Podi entrá mi zim fia, tava le
esperano….
- É meu Velho, fui no médico sim…ele
disse que o tumor sumiu, vai ver foi engano, o que a mamografia mostrou foi uma
sombra de um queloide, que eu já tinha de cirurgia anterior. Mas vim lhe
agradecer, pois sei que o Senhor me curou..
- Diga, meu Pai, o que o Senhor
quer de presente, quero lhe agradecer…
Em nossa casa, as entidades as
vezes ganham presentes, charutos, bebidas, mas não que peçam, porque as pessoas
trazem em agradecimento mesmo, como deve ser em todo lugar.
Mas naquele dia o preto pediu…
- Me traga um bolo de chocolate,
mi zi fia, suncê pode faze isso…?? Mais tem qui ser na proxima gira…eu num vô
tá aqui, mas fala co caboclo chefe que ele manda mi chamá….
Todos estranharam, e eu mais
ainda, passei a semana pensando naquele pedido, eu que amo bolo de chocolate,
pensava comigo, Meu Velho… porque um bolo, Meu Pai… Até os filhos da casa acharam
estranho e houve uma brincadeira ou outra… do tipo achando que iam comer o
bolo…. Alguém arriscou dizer que era a comemoração pela cura da mulher… Enfim… esperei
ansiosa… Afinal… confio neles.
Em verdade torci para a mulher
nem aparecer com aquele bolo…
Mas ela apareceu, e sentou na
primeira fila, como tal bolo, todo confeitado de confetes coloridos.
Chegou o preto, com autorização
do chefe do terreiro, que é Seu Serra Negra….
- Trouxe meu bolo, mi zim fia…
- Trouxe meu velho…
Então o preto levantou e disse
que na assistência tinha uma menina, de cor morena, que estava fazendo
aniversario, 14 anos, e chamou-a.
Disse à menina:
- Mi zim fia, esse é presente que
sunce pediu ao seu anjo da guarda, ele não pode vir, mandou o nego te entregar…
A criança marejou os olhos e saiu
com o bolo na mão, sentar ao lado da mãe, que chorava muito na assistencia. Em
14 anos, nunca havia ganhado um bolo de chocolate…. Nunca mais voltou, nunca
mais vimos. E nunca esquecemos esta história.
Fonte: Centro Pai João de Angola
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