por Camila Pier
Quem ama, fica.
Fica porque sair correndo pra longe é uma alternativa que simplesmente não
existe como abandonar o local mais aconchegante desse planeta - aquele abraço
que carrega um pouquinho da gente e nos passa uma paz absurda, calmante. Quem
ama, tenta. Tenta porque pode não dar certo e não ser a primeira tentativa, mas
enquanto houver palpitação nos segundos antes de ver ao vivo e mãos suando frio
pelo medo de não dar certo de vez, é mais fácil se aprumar de comprometimento e
dedicação que se acovardar sem nunca saber como poderia ter sido até então. Que
ama, quer estar junto. À dois, justamente pela força da conexão que ainda
existe, mesmo em dias que o sinal anda fraco e a gente acaba por não captar tão
bem a sintonia. Quem ama não desiste. Até porque, desistir é tarefa pra gente
fraca e esse lance de amor só cabe em quem é do tamanho da coragem - e poucos
conseguem ser tão grandes por dentro. Quem ama, aprende. Ensina a si mesmo a
respirar profundamente antes de descarrilhar emoções adversas, a contar até um
milhão se for possível, a fazer da paciência uma aliada ao louco amor, porque
só dessa maneira é possível funcionar em dupla. Quem ama pensa em futuro. E por
pensar, diz. E por dizer, não se deixa levar pela maré de carnaval, amigos
solteiros, crises e fases ruins. Escolhe conservar sonhos futuros e não deixa
que aos poucos as certezas ruírem e daqui uns meses sobre apenas
ódio, nojo, indiferença. Quem ama se preocupa. Acha simplesmente impossível
seguir vivendo sem saber se ela voltou a comer chocolate e foda-se se possui
lactose, não lida bem com a convivência de nunca mais saber se ele foi à
academia e o sabonete para o rosto anda fazendo efeito. Quem ama, cuida.
Toma-se do maior cuidado do mundo pra que muita gente não pragueje contra o
objeto de amor, cultiva uma admiração que vai além dos campos sentimental e
psíquico, tenta andar na linha pra que brigas eternas não se repitam e gerem
apenas choradeira e rancor. Quem ama, sofre. Machuca ter e não estar bem;
dilacera não ter e não saber como seria se tudo ao estágio maravilhoso
retornasse. Mas mesmo assim, luta. Até o fim porque a gente se perde nesse
labirinto chamado vida, cheio de difíceis escolhas e tentações, mas com o
escudo da vontade própria e um pingente que cintila perto do peito fica mais
fácil gladiar contra os percalços no meio do caminho. Quem ama se
desespera. Sai um pouco de si porque a simples ideia de perder alguém que na
prática não nos pertence mais é exasperador. Quem ama se compromete. Dá a
palavra, assina contratos verbais, se faz presente na vida diária, porque o
cotidiano conta pontos intermináveis quando é lotado de tanto carinho. Quem
ama, volta. Se permite voltar de ideia. Cai em si no tempo exato, leva em
consideração horas ruins e momentos maravilhosos, se nega a ver como lembrança
a paz de acordar do lado e dormir bem uma noite inteira por ser quase completo
ali. Pondera na balança toda a felicidade grotesca de estar juntos e o
infortúnio do desgaste que o passar do tempo obra na relação. Quem ama quer,
quem ama precisa, quem ama dá a mão, mesmo no calor, pra ter a certeza de não
soltar nunca mais. É por isso que até agora eu não sei porque ele se foi.
Talvez, pelo mesmo motivo incompreensível de estar aqui, ainda. Sozinha.
Camila Pier
http://www.camilapaier.com.br/2013/01/quem-ama-fica.html
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