Amílcar Del Chiaro Filho
Capítulo XI - Ainda O Sermão da
Montanha - Olho por Olho...
Mateus no Capítulo 5: 38 a 42 e
Lucas 6: 29 – 30 assinalam a não resistência. Pessoalmente acreditamos que os
conselhos de Jesus, de voltar a outra face, de entregar a túnica quando nos
querem tirar a capa, de amar o inimigo, é dirigido ao homem próximo a tornar-se
cósmico. Ubiratã Rosa, nosso querido amigo, costuma dizer que não resistir ao
homem mal é não tentar mudar os outros, nem a si mesmo, à força. É uma atitude
passiva, mas não apática, porém, interessada.
Voltar a outra face, sofrer
prejuízos sem reclamar, é condição do homem muito evoluído. Para os homens
comuns já é um grande ganho não devolver o mal recebido, e sim, perdoar. Mateus
continua no Capítulo 5:até o versículo 48 — Ouviste o que foi dito, amarás o
teu próximo e aborrecerás o teu inimigo; eu porém, vos digo: amai o vosso
inimigo e orai pelos que vos perseguem e caluniam —. O discurso de Jesus
prossegue elevando o amor ao mais alto grau. Lucas assinala o mesmo discurso no
Capítulo 6: 27 e 28. A obrigação de amar ao próximo como a si mesmo, vai agora
até a sublimidade do amor aos inimigos. Nestes passos do evangelho, aparece
largamente a caridade, a tolerância, o perdão incondicional.
Allan Kardec, em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, Capítulo 12 – Amai os Vossos Inimigos, coloca sabiamente
que é impossível ter-se pelo inimigo a mesma ternura que se tem pelos amigos.
Outro ensinamento importante de Kardec no capítulo XII do livro já citado, é a
existência dos inimigos desencarnados. Todas as proposições de Jesus, que nos
parece serem impossíveis de serem aceitas agora, serão no futuro.
Huberto Rohden, no seu livro,
Sermão da Montanha, coloca o ensinamento a nível coletivo, de nações, e de
sociedades constituídas. Na abertura do capítulo, Não Resistais ao Maligno ,
ele faz uma revelação chocante. Vamos mostrar nas palavras do próprio Rohden:
“No número de abril de 1959, da
célebre revista mensal Stmmen der Zeit, dos padres jesuítas alemães, aparece um
artigo, da autoria do jesuíta P. Hirschmann, provando que a guerra atômica pode
ser lícita, no caso que seja necessária para salvar o cristianismo sobre a face
da Terra. No mesmo sentido escreve o jesuíta P. Gundlach, que foi conselheiro
espiritual do Papa Pio XII , afirmando que a guerra atômica, e mesmo a
extirpação de um povo inteiro (naturalmente a Rússia, na época) é não somente
lícita, mas pode até ser dever de consciência, no caso que esse povo seja um
impedimento para o triunfo do cristianismo.
Mais à frente Rohden comenta:
“Por onde se vê que esses doutores em teologia eclesiástica são perfeitos
analfabetos na suprema sabedoria do Sermão da Montanha, e do Evangelho do
Cristo em geral.
O Gentio, Mahatma Gandhi, não
permitindo a morte de um só homem para libertar a Índia, compreendia mil vezes
melhor, o Espírito do Cristo, do que esses chamados cristãos. Gandhi aceitava o
Cristo, mas não o Cristianismo.
Não resistais ao maligno!...
Rohden afirma que nenhuma igreja, nenhum Estado cristão aceitou até hoje, essa
Doutrina do Divino Mestre. Todos praticam a violência, por sinal que todas as
sociedade civis e eclesiásticas se guiam, até hoje, pela lei do Talião,
estabelecida por Moisés, olho por olho, dente por dente.
Não resistir ao maligno é, pois,
uma ordem que visa diretamente o indivíduo em vias de cristificação. (O
pensamento de Rohden coincide com o nosso, exposto linhas acima).
Rohden fala, ainda, sobre a
matemática absurda de Moisés: se alguém me furar um olho ou quebrar um dente,
eu devo furar-lhe um olho e quebrar-lhe um dente para que fique quite. Está
errado: um negativo dele, mais um negativo meu, somam dois negativos. Isto quer
dizer que criamos dois males no mundo. Mais cada ofensa exige uma outra, vamos
piorando o mundo. Jesus ensina que o negativo (mal) só se anula com o positivo
(bom). O Mahatma Gandhi, justamente por ser uma grande alma, compreendeu e
praticou admiravelmente essa matemática espiritual do Cristo, dando à não
resistência o nome sanscrito de ahimsa.
Discorrendo sobre a caridade,
Jesus aconselhou que uma das nossas mãos não soubesse o que faz a outra. Fala
da ação caridosa discreta, sem exibicionismo, sem humilhar o beneficiado. Jesus
ensina que não devemos exigir, nem esperar agradecimentos ou reconhecimentos.
Contudo, por nossa vez precisamos aprender a ser gratos quando somos
beneficiados, pois, quem não sabe agradecer, acaba sendo esquecido pela vida.
Na seqüência, Jesus discorre
sobre a oração. Mateus Capítulo 6:5-15 – Marcos 11:25-26 e Lucas 11:1 a 4 — É
neste passo que Jesus ensina a oração do Pai Nosso – Lucas também apresenta o
Pai Nosso, mas o que queremos destacar são os escritos de Mateus: Tu, porém,
quando orardes, entra em teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai que está
no secreto, e teu Pai que vê no secreto, te retribuirá (na luz plena).
Pessoalmente estranhávamos esta
passagem, pois quantos existem que não podem se fechar em seu quarto, porque
não tem um, ou nem mesmo tem uma casa. Até que compreendemos que não se referia
a um cômodo de uma casa, mas ao interior do homem. Ao interiorizar-se o homem
expande-se ao infinito, alcança a amplidão dos espaços sem fim.
Existe uma diferença entre orar e
rezar. Rezar é repetir palavras decoradas segundo fórmulas determinadas. É
produzir eco que a brisa dissipa, como sucede à voz do sino que no espaço se
espraia e morre. ORAR é sentir. E o sentimento é intraduzível.
( Estas belas palavras é de Vinícius,
no livro – Em Torno do Mestre).
Jesus fala também sobre o jejum.
Hoje não nos preocupamos com o jejum de alimentos, que, naquela época era
preceito religioso, mas sim, com o jejum dos maus pensamentos, dos maus
desejos, da imoralidade, da violência, da corrupção, da maledicência. Com
referência à oração e ao jejum, o Mestre rebela-se as falsas aparências. Se
hoje não mais desfiguramos o rosto ou derramamos cinzas na cabeça, ainda
fazemos uma cara compungida ou exibimos um palavrório pedante nas preces.
Há quem diga que é inútil orar,
pois Deus não muda as suas leis para atender este ou aquele. Ledo engano. Em
primeiro lugar a prece não é apenas para pedir. Além disto, a prece cria em
torno de nós uma atmosfera psíquica que nos protege e alimenta espiritualmente.
Ali por volta dos anos 60 do
século XIX – um grupo espírita, em Paris, propôs que o Espiritismo eliminasse a
prece, por ser inútil, mesmo a de agradecimento, porque, segundo o grupo, se
alguém recebe alguma coisa é porque merece, por tanto, é inútil agradecer.
Allan Kardec escreveu um forte
artigo em favor da prece, dizendo que renunciar à prece, é renunciar à nossa
ligação com os nossos entes queridos desencarnados e aos nossos protetores
espirituais.
Lembremo-nos, também, da
advertência de Jesus, no caso de estarmos orando e lembrarmos que alguém tem
alguma coisa contra nós, que devemos ir procurar essa pessoa e fazermos as
pazes ou consertarmos a situação, e depois fazermos nossa prece.
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