Dalmo
Duque dos Santos
A
vivência cristã tem suas raízes mais profundas na Parábola do Semeador,
conhecida como a “parábola das parábolas”. É claro que em todas elas
encontramos os elementos das nossas aulas e motivos para a reforma íntima, mas
estamos nos referindo ao campo mais amplo do qual ela fala, que é o trabalho cristão, fruto da
harmonia entre o mundo íntimo e o mundo exterior, ou ainda da nossa relação de
amor incondicional com mundo íntimo dos nossos semelhantes. Nessa parábola
podemos comprender a verdadeira dimensão da Doutrina Espírita porque ela mostra
as fases ou graus de aprendizagem que os adeptos percorrem até atingirem a condição de Espírita,
que não é um “título” nem muito menos o simples reconhecimento formal dado
pelos centros espíritas, através de livros, cursos e preleções; estes são apenas meios e não fins.
Tanto
na interpretação simplificada de Cairbar Schutel quanto na interpretação
sofisticada de Huberto Rohden identificamos os
três terrenos humanos que
impedem que a semente frutifique. É, portanto, a parábola que trata
exclusivamente da nossa responsabilidade individual, no que diz respeito a
nossa “salvação” ou “perdição”. Nos esclarece Rohden:
“A
parábola do Semeador trata não da agronomia física, mas da agronomia
metafísica, trata do terreno imprevisível do livre-arbítrio humano, onde
nenhum semeador, nem mesmo o próprio Cristo, pode saber do resultado da sua semeadura. Se assim fosse,
por que teria Jesus escolhido Judas Isacriotes para seu apóstolo, sabendo da
sua esterilidade espiritual?”
Para
Cairbar Schutel a parábola do Semeador sintetiza os caracteres predominantes em todas
as almas, ao mesmo tempo que nos ensina a distinguí-las pela boa vontade
com que recebem as novas espirituais:
O
Semeador: É Jesus e seus seguidores; os que falam em seu nome, e pregam a
Palavra de Deus com a autoridade da moral que o Cristo ensinou. Na Escola de
Aprendizes é todo o grupo: o Dirigente e o Expositor e também os alunos, pois
todos nós, de certa forma, conhecendo a semente, passamos também a semear, com
bons ou maus exemplos.
“Nem
todos os pregoeiros da Palavra a apregoam tal como ela é, em sua simplicidade e
despida de formas enganosas. Uns revestem-nas de tantos mistérios, de tantos
dogmas, de tanta retórica; ornamentam-nas com tantas flores que, embora a
“palavra permaneça”, fica obscurecida, enclausurada na forma, sem que se lhe
possa ver o fundo, a essência! Muitos pregam por interesse, como “o mercenário
que semeia”; outros por vanglória, e, grande parte, por egoísmo. Nestes casos
não dissipam as trevas, mas aumentam-nas; não abrandam os corações, mas
endurece-os; não anunciam a Palavra, mas dela fazem um instrumento para receber
ouro e glórias.”
A
Semente: é a palavra de Deus, os ensinamentos sobre as Leis Universais.
“A
semente é uma só, é sempre a mesma que tem sido apregoada em toda parte, desde
que o homem se achou em condições de recebê-la. E se ela não atua com a mesma
eficácia em todos, deriva esse fato da variedade e das desigualdades de
Espíritos que existem na Terra; uns mais adiantados, outros mais atrasados; uns
propensos ao bem, à caridade, à liberalidade, à fraternidade; outros propensos
ao mal, ao egoísmo, ao orgulho, apegados aos bens terrenos, às diversões
passageiras.”
Na
vivência social cristã e no centro espírita é a proposta de Reforma Íntima,
através das oportunidades de trabalho. Para pregar (difundir) e ouvir (vivenciar) a Palavra, é preciso
que não a rebaixemos, mas a coloquemos acima de nós mesmos; porque aquele que despreza
a Palavra, anunciando-a ou ouvindo-a, despreza o seu Instituidor, e, como disse
Ele: “Quem me despreza e não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a
Palavra que falei, esta o julgará no último dia.”
Caiu
à beira do Caminho: “É quando por nós passam todas as idéias grandiosas como gentes
nas estradas, sem gravarem nenhumas delas.”
Na
Escola é a condição de Aprendizes,
uma grande maioria que recebe os ensinamentos, que estão sendo chamados, porém
ainda não podem ser escolhidos porque estão “sonolentos”, como crianças, muito
influenciados pelo mundo exterior.
Caiu
sobre a Pedra: é quando estamos com o coração endurecido, “como pedras
impenetráveis às novas idéias, aos conhecimentos liberais”, isto é, abertos
para conhecer às novas experiências, que podem quebrar a nossa rotina e o
sentido medíocre das nossas vidas; recebemos a proposta de mudança, mas não
permitimos que se opere a modificação em nosso íntimo; racionalizamos tudo,
ligamos nossas defesas e nos tornamos refratários.
Na
Escola de Aprendizes e no campo de trabalho que abraçamos é a condição em que
se encontra os Servidores.
Aceitamos os ensinamentos e as tarefas com parcialidade
e condicionamentos,
isto é, escolhemos somente aquilo que nos convém. Disso resultam os melindres,
as decepções, as divergências pessoais com os companheiros e finalmente o
desejo de desistência.
Caiu
no meio dos Espinhos: É quando permanecemos invigilantes e permitimos que os espinhos
(as nossas imperfeições e a dos outros) sufoquem o crescimento de todas as
verdades que estamos aprendendo, “como essas plantas espinhosas que estiolam e
matam os vegetais que tentam crescer nas suas proximidades.”
Na
vivência social é o tempo no qual sofremos todos os tipos de testes para
avaliarmos se, realmente, estamos dispostos a ser o “sal da terra” e a “luz do
mundo”. Pequenas provas ainda são para nós mostras dos grandes espinhos e
obstáculos que teremos que remover durante a vida atual e as vidas futuras.
Caiu
na Boa Terra: é quando conservamos a boa vontade, no mantemos abertos; isso
nos dá coragem e disposição para remover todos os obstáculos que aparecem; a
boa vontade elimina o medo e afasta o sentimentos defensivos e a reações
instintivas. Isso nos torna mais humildes porque não temos pena de nós mesmos,
porque não nos fazemos de vítimas; a boa vontade mantém acordada a nossa
consciência e , por isso, vigilantes, podemos distinguir em nós o que é
tentação e o que é má inclinação . A oração e o auxílio, por nós e pelos outros
é uma demonstração de boa vontade. A Boa Terra é o mundo, é discipulado de
Jesus.
ANEXO
“Afluindo
uma grande multidão e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus
em párábola:“Saiu um Semeador para semear a sua semente. E quando semeava, uma
parte da semente caiu à beira
do caminho; foi pisada, e as aves do Céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo
crescido, secou, porque não havia umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e com ela
cresceram os espinhos, e sufocaram-na. E outra caiu na boa terra, e, tendo
crescido, deu fruto a cento por um.” Dizendo isto clamou: Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça.
Os
seus discípulos perguntaram-lhe o que significava esta parábola. Respondeu-lhes
Jesus: A vós é dado conhecer os mistérios do Reino de Deus, mas aos outros se
lhes fala em parábolas, para que vendo não vejam; e ouvindo não entendam.
A
semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira do caminho são os que têm
ouvido; então vem o Diabo e tira a Palavra, para que não suceda que , crendo,
sejam salvos. Os que estão sobre a pedra são os que, depois de ouvirem, recebem
a palavra com gôzo; estes não têm raíz e crêem por algum tempo, mas na hora da
provação voltam atrás. A parte que caiu entre os espinhos, estes são os que
ouviram, e, indo seu caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e deleites
da vida e o seu fruto não amadurece. E a que caiu na boa terra, estes são os
que, tendo ouvido a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão frutos com
perseverança.”
(Mateus,
XIII, 1-9 – Marcos, IV,1-9 – Lucas, VIII, 4-15) Bibliografia: “Parábolas e
Ensinos de Jesus” – Cairbar Schutel e “Sabedoria das Parábolas” – Humberto
Rohden.
Fonte: Portal do Espírito
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Sobre
o autor:
Dalmo
Duque dos Santos nasceu em 23 de agosto 1961, paulista de Porto Tibiriçá (atual
Presidente Epitácio). Iniciou seus estudos superiores na Universidade Católica
de Santos, em 1984, e bacharelou-se em História na PUC de São Paulo, em 1990.
Graduou-se também em Pedagogia, em 1993, na Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Presidente Venceslau. Pós-graduou-se em 2002 como Mestre em
Comunicação, pela Universidade Paulista- UNIP. É professor universitário,
trabalhou como educador e gestor em escolas particulares e públicas; foi
jornalista, editor e redator publicitário.
Na
área literária criou e adaptou a coleção de bolso “Allan Kardec Dia- a- Dia” –
uma combinação de textos do Evangelho com o Livros dos Espíritos e escreveu os
ensaios “A Inteligência Espiritual” , sobre a revolução pedagógica das Escolas
de Aprendizes do Evangelho (inserido na introdução deste livro) e “Você em
Busca de Você Mesmo”, sobre a crise e as transformações do ser humano neste
início do 3º milênio. É também autor de uma nova história do Espiritismo como o
título de “ O Demolidor de Dogmas – Allan Kardec e a Reconstrução da Fé no
Ocidente”.”
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