Lacordaire. (Havre, 1863.)
Quando o Cristo disse:
"Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence",
não se referia de modo geral aos que sofrem, visto que sofrem todos
os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a
palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as
provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo
é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte
coragem. A prece é um apoio para a alma; contudo, não basta: é
preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Ele já
muitas vezes vos disse que não coloca fardos pesados em ombros
fracos. O fardo é proporcionado às forças, como a recompensa o
será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa,
do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e é para isso
que a vida se apresenta cheia de tribulações.
O militar que não é
mandado para as linhas de fogo fica descontente, porque o repouso no
campo nenhuma ascensão de posto lhe faculta. Sede, pois, como o
militar e não desejeis um repouso em que o vosso corpo se enervaria
e se entorpeceria a vossa alma. Alegrai-vos, quando Deus vos enviar
para a luta. Não consiste esta no fogo da batalha, mas nos amargores
da vida, onde, às vezes, de mais coragem se há mister do que num
combate sangrento, porquanto não é raro que aquele que se mantém
firme em presença do inimigo fraqueje nas tenazes de uma pena moral.
Nenhuma recompensa obtém o homem por essa espécie de coragem; mas,
Deus lhe reserva palmas de vitória e uma situação gloriosa. Quando
vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade,
sobreponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os
ímpetos da impaciência, da cólera, ou do desespero, dizei, de vós
para convosco, cheio de justa satisfação: "Fui o mais forte."
Bem-aventurados os
aflitos pode então traduzir-se assim: Bem-aventurados os que têm
ocasião de provar sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua
submissão à vontade de Deus, porque terão centuplicada a alegria
que lhes falta na Terra, porque depois do labor virá o repouso. -
Lacordaire. (Havre, 1863.)
* * *
Allan Kardec. Da obra:
O Evangelho Segundo o Espiritismo.
112a edição. Livro
eletrônico gratuito em http://www.febrasil.org. Federação Espírita
Brasileira, 1996.
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