Joanna de Ângelis, da obra "Amor, Imbatível Amor"
psicografia de Divaldo Pereira Franco
As síndromes de infelicidade
cultivada tornam-se estados patológicos mais profundos de nostalgia, que
induzem à depressão.
O ser humano tem necessidade de
auto-expressão, e isso somente é possível quando se sente livre.
Vitimado pela insegurança e pelo
arrependimento, torna-se joguete da nostalgia e da depressão, perdendo a
liberdade de movimentos, de ação e de aspiração, face ao estado sombrio em que
se homizia.
A nostalgia reflete evocações
inconscientes, que parecem haver sido ricas de momentos felizes, que não mais
se experimentam. Pode proceder de existências transatas do Espírito, que ora as
recapitula nos recônditos profundos do ser. lamentando, sem dar-se conta, não
mais as fruir; ou de ocorrências da atual.
Toda perda de bens e de dádivas
de prazer, de júbilos, que já não retornam, produzem estados nostálgicos. Não
obstante, essa apresentação inicial é saudável, porque expressa equilíbrio,
oscilar das emoções dentro de parâmetros perfeitamente naturais. Quando porém,
se incorpora ao dia-a-dia, gerando tristeza e pessimismo, torna-se distúrbio
que se agrava na razão direta em que reincide no comportamento emocional.
A depressão é sempre uma forma
patológica do estado nostálgico.
Esse deperecimento emocional,
fez-se também corporal, já que se entrelaçam os fenômenos físicos e
psicológicos.
A depressão é acompanhada, quase
sempre, da perda da fé em si mesmo, nas demais pessoas e em Deus... Os
postulados religiosos não conseguem permanecer gerando equilíbrio, porque se
esfacelam ante as reações aflitivas do organismo físico. Não se acreditar capaz
de reagir ao estado crepuscular, caracteriza a gravidade do transtorno
emocional.
Tenha-se em mente um instrumento
qualquer. Quando harmonizado, com as peças ajustadas, produz, sendo utilizado
com precisão na função que lhe diz respeito. Quando apresenta qualquer
irregularidade mecânica, perde a qualidade operacional. Se a deficiência é
grave, apresentando-se em alguma peça relevante, para nada mais serve.
Do mesmo modo, a depressão tem a
sua repercussão orgânica ou vice-versa. Um equipamento desorganizado não pode
produzir como seria de desejar. Assim, o corpo em desajuste leva a estados
emocionais irregulares, tanto quanto esses produzem sensações e enarmonias
perturbadoras na conduta psicológica.
No seu início, a depressão se
apresenta como desinteresse pelas coisas e pessoas que antes tinham sentido
existencial, atividades que estimulavam à luta, realizações que eram
motivadoras para o sentido da vida.
À medida que se agrava, a
alienação faz que o paciente se encontre em um lugar onde não está a sua
realidade. Poderá deter-se em qualquer situação sem que participe da
ocorrência, olhar distante e a mente sem ação, fixada na própria compaixão, na
descrença da recuperação da saúde. Normalmente, porém, a grande maioria de
depressivos pode conservar a rotina da vida, embora sob expressivo esforço,
acreditando-se incapaz de resistir à situação vexatória, desagradável, por
muito tempo.
Num estado saudável, o indivíduo
sente-se bem, experimentando também dor, tristeza, nostalgia, ansiedade, já que
esse oscilar da normalidade é característica dela mesma. Todavia, quando tais
ocorrências produzem infelicidade, apresentando-se como verdadeiras desgraças,
eis que a depressão se está fixando, tomando corpo lentamente, em forma de
reação ao mundo e a todos os seus elementos.
A doença emocional, desse modo,
apresenta-se em ambos os níveis da personalidade humana: corpo e mente.
O som provém do instrumento. O
que ao segundo afeta, reflete-se no primeiro, na sua qualidade de
exteriorização.
Idéias demoradamente recalcadas,
que se negam a externar-se - tristezas, incertezas, medos, ciúmes, ansiedades -
contribuem para estados nostálgicos e depressões, que somente podem ser
resolvidos, à medida que sejam liberados, deixando a área psicológica em que se
refugiam e libertando-a da carga emocional perturbadora.
Toda castração, toda repressão
produz efeitos devastadores no comportamento emocional, dando campo à
instalação de desordens da personalidade, dentre as quais se destaca a
depressão.
É imprescindível, portanto, que o
paciente entre em contato com o seu conflito, que o libere, desse modo
superando o estado depressivo.
Noutras vezes, a perda dos
sentimentos, a fuga para uma aparência indiferente diante das desgraças
próprias ou alheias, um falso estoicismo contribuem para que o fechar-se em si
mesmo, se transforme em um permanente estado de depressão, por negar-se a amar,
embora reclamando da falta de amor dos outros.
Diante de alguém que realmente se
interesse pelo seu problema, o paciente pode experimentar uma explosão de
lágrimas, todavia, se não estiver interessado profundamente em desembaraçar-se
da couraça retentiva, fechando-se outra vez para prosseguir na atitude estóica
em que se apraz, negando o mundo e as ocorrências desagradáveis, permanecerá
ilhado no transtorno depressivo.
Nem sempre a depressão se
expressará de forma autodestrutiva, mas com estado de coração pesado ou preso,
disfarçando o esforço que se faz para a rotina cotidiana, ante as correntes que
prostram no leito e ali retêm.
Para que se logre prosseguir, é
comum ao paciente a adoção de uma atitude de rigidez, de determinação e
desinteresse pela sua vida interna, afivelando uma máscara ao rosto, que se
apresenta patibular, e podem ser percebidas no corpo essas decisões em forma de
rigidez, falta de movimentos harmônicos...
Ainda podemos relacionar como
psicogênese de alguns estados depressivos com impulsos suicidas, a conclusão a
que o indivíduo chega, considerando-se um fracasso na sua condição, masculina
ou feminina, determinando-se por não continuar a existência. A situação se
torna mais grave, quando se acerca de uma idade especial, 35 ou 40 anos, um
pouco mais, um pouco menos, e lhe parece que não conseguiu o que anelava, não
se havendo realizado em tal ou qual área, embora noutras se encontre muito bem.
Essa reflexão autopunitiva dá gênese a estado depressivo com indução ao
suicídio.
Esse sentimento de fracasso, de
impossibilidade de êxito pode, também, originar-se em alguma agressão ou
rejeição na infância, por parte do pai ou da mãe, criando uma negação pelo
corpo ou por si mesmo, e, quando de causa sexual, perturbando completamente o
amadurecimento e a expressão da libido.
Nesse capítulo, anotamos a forte
incidência de fenômenos obsessivos, que podem desencadear o processo
depressivo, abrindo espaço para o suicídio, ou se fixando, a partir do
transtorno psicótico, direcionando o paciente para a etapa trágica da
autodestruição.
Seja, porém, qual for a gênese
desses distúrbios, é de relevante importância para o enfermo considerar que não
é doente, mas que se encontra em fase de doença, trabalhando-se sem
autocomiseração, nem autopunição para reencontrar os objetivos da existência.
Sem o esforço pessoal, mui dificilmente será encontrada uma fórmula ideal para
o reequilíbrio, mesmo que sob a terapia de neurolépticos.
O encontro com a consciência,
através de avaliação das possibilidades que se desenham para o ser, no seu
processo evolutivo, tem valor primacial, porque liberta-o da fixação da idéia
depressiva, da autocompaixão, facultando campo para a renovação mental e a ação
construtora.
Sem dúvida, uma bem orientada
disciplina de movimentos corporais, revitalizando os anéis e proporcionando
estímulos físicos, contribui de forma valiosa para a libertação dos miasmas que
intoxicam os centros de força.
Naturalmente, quando o processo
se instala - nostalgia que conduz à depressão - a terapia bioenergética (Reich,
como também a espírita), a logoterapia (Viktor Frankl), ou conforme se
apresentem as síndromes, o concurso do psicoterapeuta especializado, bem como
de um grupo de ajuda, se fazem indispensáveis.
A eleição do recurso terapêutico
deve ser feita pelo paciente, se dispuser da necessária lucidez para tanto, ou
a dos familiares, com melhor juízo, a fim de evitar danos compreensíveis, os
quais, ocorrendo, geram mais complexidades e dificuldades de recuperação.
Seja, no entanto, qual for a
problemática nessa área, a criação de uma psicosfera saudável em torno do
paciente, a mudança de fatores psicossociais no lar e mesmo no ambiente de
trabalho constituem valiosos recursos para a reconquista da saúde mental e
emocional.
O homem é a medida dos seus
esforços e lutas interiores para o autocrescimento, para a aquisição das
paisagens emocionais.
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