Leny W. Savisck
28 de setembro de 2009
É fato comum chegarem aos
terreiros pessoas extremamente deprimidas, adoentadas ou desesperadas pelo fato
de não encontrarem em nenhum outro lugar o remédio para seus males. Já passaram
por consultórios médicos, igrejas, milagreiros de todas as espécies. Em todos
os lugares, foram deixando sua história registrada, acrescida de decepção e
gastos financeiros além da conta.
Com a promessa e a busca de
“milagres”, pagaram dízimos ou oferendas, tentando terceirizar a solução de
seus problemas ou de sua suposta “má sorte”. E enquanto seu saldo bancário e
sua fé diminuem, sua decepção e dor aumentam.
O local que não cobra pela
caridade geralmente leva a fama de ser “muito fraco”, pois infelizmente as
pessoas ainda têm a falsa concepção de que “se não cobrar e bem cobrado, a
coisa não funciona”. Além disso, há os que necessitam vivenciar o “fenômeno”
para que sua fé tenha fundamento.
“Imagina... guia que fica só
aconselhando, mandando rezar e mudar a maneira de pensar...”.
Como bem fala o ditado popular:
“só quando a água bate onde não deve é que se aprende a nadar”. Assim, só como
último recurso, no desespero total, é que eles batem à porta da Umbanda. Mesmo
descrentes, buscam o milagre, chorosos e vitimados pela vida. Ajoelham-se na
frente do preto velho ou do caboclo e derramam lágrimas, dedilham rosários de
reclamações, tentando convencê-los de que a culpa da desgraça é de todo mundo,
menos deles próprios. Acolhidos com todo amor pelos guias de luz, não recebem
promessa de milagre, apenas a exigência de uma gradual reforma íntima, aliada a
mandingas que os limpam do lixo energético que conseguiram agregar ao longo do
tempo.
Saem dali bem melhores do que
entraram, quase sempre voltam e aos poucos compreendem que o milagre estava
dentro deles próprios.
Não faltarão nessa lista os que,
após a melhora, voltam a frequentar os bancos da igreja aos domingos, exibindo
saúde e roupas novas.
Quando não, transformam-se em
carregadores de bíblia, passando a combater ferrenhamente aqueles por quem
foram ajudados. Jamais vão admitir que um dia entraram num terreiro de Umbanda
– coisa do capeta.
Não faltarão nessa lista os que,
após a melhora, voltam a freqüentar os bancos da igreja aos domingos, exibindo
saúde e roupas novas. Quando não, transformam-se em carregadores de bíblia,
passando a combater ferrenhamente aqueles por quem foram ajudados. Jamais vão
admitir que um dia entraram num terreiro de Umbanda – coisa do capeta.
O que será que os Pretos Velhos e
Caboclos pensam disso?
Um dia desses fiz essa pergunta à
Vovó Benta:
– Zi fia, nosso trabalho é a
caridade e quem se dispõe a ela, esteja encarnado ou no mundo dos mortos, tem
de saber que o “dar gratuitamente” sempre é motivo para darmos “graças” pela
oportunidade de servir ao Criador, à sua obra. Ajudar esses filhos desnorteados
é construir pontes entre o céu e a terra. Nunca podemos ou devemos esperar
qualquer recompensa pelo bom serviço, a exemplo do Criador que distribui raios
de luz ou gotas de água todos os dias a todos, bons e maus. O que cada filho
fará com as dádivas recebidas só a ele cabe definir, escolhendo assim seu
futuro. Sigamos fazendo o bem sem olhar a quem e façamos isso com a alegria de
quem sobe os degraus para o céu, sem ter de pagar por isso com lágrimas ou
moedas falsas. Lembre-se, filha, de que servir com alegria é servir duas vezes.
– Servir duas vezes?
– Sim, duas vezes. A você mesmo e
ao próximo. Quando colocamos alegria e desprendimento, dissipamos qualquer
possibilidade de nos machucarmos com nossa ação. Porém, o fazer por fazer ou
para que as pessoas vejam que somos caridosos é um meio de ajudarmos aos outros
sem, no entanto, estarmos com isso nos ajudando. O azedume que muitos
“caridosos” carregam demonstra o quanto ainda sua caminhada é longa. Sem contar
que pode ser um meio de captar para si as energias dos outros em vez de
dissipá-las.
Quanto aos filhos que viram as
costas a quem os ajudou, não passam de espíritos infantis que precisam do
pirulito para adoçar suas vidas, ignorando que um dia o doce chega no palito.
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