Escrito por Gérson
Jr.
21-Ago-2006
Conta uma outra lenda
que esse gesto de cruzar o solo ou a si mesmo só foi adotado pelos cristãos
quando um "padre" romano, atiçado pela curiosidade, perguntou a um
serviçal de sua igreja o porquê dele cruzar o solo antes de entrar nela para
limpá-la... E o mesmo fazia ao sair dela.
O serviçal, um negro
já idoso que havia sido libertado pelo seu amo romano quando já não podia
carregar os seus pesados sacos de pedras ornamentais, e que andava arqueado por
causa de sua coluna vertebral ter se curvado de tanto peso que ele havia
carregado desde jovem, ajoelhou-se, cruzou o solo diante dos pés do padre
romano e, aí falou:
– Agora já posso
contar-lhe o significado do sinal da cruz, amo padre!
– Por que, só após
cruzar o solo diante dos meus pés, você pode revelar-me o significado do sinal
da cruz, meu negro velho?
– É porque eu vou
falar de um gesto sagrado, meu amo. Só após cruzarmos o solo diante de alguém e
pedirmos licença ao seu lado sagrado, esse lado se abre para ouvir o que temos
a dizer-lhe.
– Se você não cruzar
o solo diante dos meus pés o seu lado sagrado não fala com o meu? É isso, meu
negro velho e cansado?
– É isso sim, meu
amo. Tudo o que falamos, ou falamos para o lado profano ou para o lado sagrado
dos outros com quem conversamos! Como o senhor quer saber o significado do
sinal da cruz usado por nós, os negros trazidos desde a África para
trabalharmos como escravos aqui em Roma e, porque ele é um sinal sagrado, seu
significado só pode ser revelado ao lado oculto e sagrado de seu espírito. Por
isso eu cruzei o solo diante dos seus pés, pedi ao meu pai Obaluaiyê que
abrisse uma passagem entre os lados ocultos e sagrados dos nossos espíritos senão
o senhor não entenderá o significado e a importância dos cruzamentos... E das passagens.
O padre romano,
ouvindo as palavras sensatas daquele preto, já velho e cansado de tanto carregar
os fardos de pedras ornamentais com as quais eles, os romanos, enfeitavam as fachadas
e os jardins de suas mansões, sentiu que não estava diante de uma pessoa comum,
mas sim diante de um sábio amadurecido no tempo e no trabalho árduo de carregar
fardos alheios.
Então o padre romano
convidou o preto, velho e cansado, a acompanhá-lo até sua sala particular
localizada atrás da sacristia. Já dentro dela, o padre sentou-se na sua cadeira
de encosto alto e confortável e indicou um banquinho de madeira para que aquele
preto velho se sentasse e lhe contasse o significado do sinal da cruz.
O velho negro, antes
de sentar-se, cruzou o banquinho e isto também despertou a curiosidade de
empertigado padre romano, sentado em sua cadeira mais parecida com um trono, de
tão trabalhada que ela era.
– Por que você cruzou
esse banquinho antes de se assentar nele, meu preto velho?
– Meu senhor, eu só
tenho essa bengala para apoiar meu corpo arqueado. Então, se vou sentar-me um
pouco, eu cruzei esse banquinho e pedi licença ao meu pai Obaluaiyê para assentar-me
no lado sagrado dele. Só assim o peso dos fardos que já carreguei não me incomodará
e poderei falar mais à vontade, pois, se nos assentamos no lado sagrado das coisas
deixamos de sentir os "pesos" do lado profano de nossa vida.
O padre romano, de
uma inteligência e raciocínio incomum, mais uma vez viu que não estava diante
de uma pessoa comum, e sim, diante de um sábio que, ainda que não falasse bem o
latim, (a língua falada pelos romanos
daquele tempo), no entanto falava coisa que nem os mais sábios dos romanos
conheciam.
O velho preto, após
assentar-se, apoiou a mão esquerda no cabo da sua bengala e com a direita
estralou os dedos no ar por quatro vezes, em cruz e aquilo intrigou o padre
romano, que perguntou-lhe:
– Meu velho preto,
porque você estralou os dedos quatro vezes, cruzando o ar?
– Meu senhor, eu
cruzei o ar, pedindo ao meu pai Obaluaiyê que abrisse uma passagem nele para
que minhas palavras cheguem até os seus ouvidos através do lado sagrado dele
senão elas não chegarão ao lado sagrado de seu espírito e não entenderás o real
significado delas ao revelar-lhe um dos mistérios do meu pai.
– Então tudo tem dois
lados, meu preto velho?
– Tem sim, meu
senhor.
– Porque você, agora,
já sentado e bem acomodado, fala mais baixo que antes, quando
estava apoiado sobre
sua bengala?
– Meu senhor, quando
nos assentamos no lado sagrado das coisas, aquietamos nosso espírito e só
falamos em voz baixa para não incomodarmos o lado sagrado delas.
– Entendo, meu velho.
– murmurou o padre romano, curvando-se para melhor ouvir as palavras daquele
preto velho. Conte-me o significado do sinal da cruz!
E o preto velho
começou a falar, falar e falar. E tanto falou sobre o mistério do cruzamento que
aquele padre (que era o chefe da igreja
de Roma naquele tempo quando os papas ainda não eram chamados de papa)
começou a entender o significado sagrado do sinal da cruz e começou a pensar em
como adaptá-lo e aplicá-lo aos cristãos de então.
Como era um mistério
do povo daquele preto, já velho e cansado de tanto carregar fardos de pedras
ornamentais alheias, então pôs sua mente arguta e agilíssima para raciocinar.
E o padre romano
pensou, pensou e pensou! E tanto pensou que criou a lenda dos três reis magos,
onde um era negro, em homenagem ao sábio preto velho que, falando-lhe desde seu
lado sagrado e interior, havia lhe aberto a existência do lado sagrado das
coisas; o da existência de passagens entre esses dois lados, etc.
Enquanto ouvia e sua
mente pensava, a cada revelação do preto, já velho e cansado, seus olhos
enchiam-se de lágrimas e mais e mais ele se achegava chegando um momento em que
ele se assentou no solo à frente do preto velho para melhor ouvi-lo, pois não
queria perder nenhuma das palavras dele.
E aquele padre, que
era o chefe de todos os padres romanos, diariamente ouvia por horas e horas o
preto velho, e depois que o dispensava, recolhia-se à sua biblioteca e começava
a escrever os mistérios que lhe haviam sido revelados.
Aos poucos estava
reescrevendo o cristianismo e dando-lhe fundamentos sagrados.
– Ele escreveu a
lenda dos três reis magos, onde um dos magos era um negro muito sábio.
– Ele mudou o formato
da cruz em X onde Cristo havia sido crucificado e deu a ela a sua forma atual,
que é uma coluna vertical e um travessão horizontal.
– Também determinou
que em todos os túmulos cristãos deveria haver uma cruz, que é o sinal da
passagem de um plano para o outro, segundo aquele preto velho.
– "Ele criou a
figura de Lázaro, cheio de chagas, para adaptar o orixá da varíola ao cristianismo.
Na verdade, ele criou o sincretismo cristão, e dali em diante muitos outros "padres
de todos os padres", uma espécie de "cappo de tutti capos", (os
papas) começaram a adaptar os mistérios de muitos povos ao cristianismo,
fundamentando a crença dos muitos seguidores de então da doutrina humanista
criado por Jesus. E criaram concílios para oficializá-los e torná-los dogmas.
Poderíamos falar de
muitos dos mistérios alheios que os padres romanos adaptaram ao cristianismo.
Mas agora, vamos falar somente dos significados do mistério da cruz e dos cruzamentos,
ensinados àquele padre por um preto velho.
1º) O ato de fazer o
sinal da cruz em si mesmo tem esses significados.
a) Abre o nosso lado
sagrado ou interior para, ao rezarmos, nos dirigirmos às divindades e a Deus
através do lado sagrado ou interno da criação.
Essa forma é a da oração silenciosa ou
feita em voz baixa. Afinal, quando estamos no lado sagrado e interno dela, não
precisamos gritar ou falar alto para sermos ouvidos.
Só fala alto ou grita para se fazer
ouvir quem se encontra do lado de fora ou profano da criação.
Esses são os excluídos ou os que não
conhecem os mistérios ocultos da criação e só sabem se dirigir a Deus de forma
profana, aos gritos e clamores altíssimos.
b) Ao fazermos o sinal da cruz diante
das divindades, estamos abrindo o nosso lado sagrado para que não se percam as
vibrações divinas que elas nos enviam quando nos aproximamos e ficamos diante
delas em postura de respeito e reverência.
c) Ao fazermos o sinal da cruz diante
de uma situação perigosa ou de algo sobrenatural e terrível, estamos fechando
as passagens de acesso ao nosso lado interior, evitando que eles entrem em nós
e se instalem em nosso espírito e em nossa vida.
d) Ao cruzarmos o ar, ou estamos
abrindo uma passagem nele para que, através dela, o nosso lado sagrado envie
suas vibrações ao lado sagrado da pessoa à nossa frente, ou ao local que
estamos abençoando (cruzando).
e) Ao cruzarmos os solo diante dos pés
de alguém, estamos abrindo uma passagem para o lado sagrado dela.
f) Ao cruzarmos uma pessoa, estamos
abrindo uma passagem nela para que seu lado sagrado exteriorize-se diante dela
e passe a protegê-la.
g) Ao cruzarmos um objeto, estamos
abrindo uma passagem para o interior oculto e sagrado dele para que ele,
através desse lado seja um portal sagrado que tanto absorverá vibrações negativas
como irradiará vibrações positivas.
h) Ao cruzarmos o solo de um
santuário, estamos abrindo uma passagem para entrarmos nele através do seu lado
sagrado e oculto, pois se entrarmos sem cruzá-lo na entrada, estaremos entrando
nele pelo seu lado profano e exterior.
i) Ao cruzarmos algo (uma pessoa, o
solo, o ar, etc.) devemos dizer estas palavras: – Eu saúdo o seu alto, o seu
embaixo, a sua direita e a sua esquerda e peço-lhe em nome do meu pai Obaluaiyê
que abra o seu lado sagrado para mim.
Outras coisas aquele ex-escravo dos
romanos de então ensinou àquele padre de todos os padres, que era altivo e
empertigado, mas que gostava de sentar-se no solo diante daquele sábio preto,
já velho e muito cansado. Era um tempo que os políticos politiqueiros romanos estavam
de olho no numeroso grupo de seguidores do cristianismo e se esmeravam em conceder
aos seus bispos e pastores, (digo padres) certas vantagens em troca dos votos
deles que os elegeriam.
Também era um tempo em que era moda
aqueles bispos e pastores (digo padres), colocarem nos púlpitos pessoas que
davam fortes testemunhos, ainda que falsos ou inventados na hora para enganar
os trouxas já existentes naquele tempo em Roma, tanto na plebe como nas classes
mais abastadas.
E olhem que havia muitos patricinhos e
patricinhas (digo, patrícios e patrícias) com grande peso na consciência que
acreditavam no 171 (digo discursos) daqueles ávidos padres romanos, que
prometiam-lhes um lugar no paraíso assim que se convertessem ao cristianismo!
Mas os padres daquele tempo pensavam
em tudo e espalharam que quem fizesse grandes doações à igreja seriam
recompensados com uma ampla e luxuosa morada, um palacete mesmo, no céu e bem
próximo, quase vizinho de onde Jesus vivia.
A coisa estava indo bem mas, havia
espaço para melhorar mais ainda a situação da igreja romana daquele tempos e
alguns padres, versados no grego, se apossaram do termo "católico" que
significava "universal" e universalizaram suas praticas de mercadores
da fé.
Como estavam se apossando de mistérios
alheios um atrás do outro e começaram a ser
chamados de plagiadores, então fizeram
um acordo com um imperador muito esperto mas, que estava com seus cofres
desfalcados, à beira da bancarrota (digo, deposição), acordo esse que consistia
em acabar com as outras religiões.
No acordo, o imperador ficava com os
bens delas (tesouros acumulados em
séculos, propriedades agrárias e imóveis bem localizados) e os padres de
então ficariam com todos os que se convertessem e começassem a pagar um dízimo
estipulado por eles.
O acordo era vantajoso para ambos os
lados envolvidos e aqueles padres de então, para provar ao imperador suas boas
intenções, até o elegeram chefe geral da quadrilha (digo, hierarquia), criada
recentemente por eles, desde que editasse um decreto sacramentando a questão
dos dízimos cobrados por eles.
Outra exigência daqueles pastores
(digo padres) de então foi a de estarem isentos na
declaração dos bens das suas igrejas.
Também exigiram primazia na concessão
de arautos (as televisões de então) pois sabiam que estariam com uma vantagem
imensa em relação aos seus concorrentes religiosos de então.
O imperador começou a achar que o
acordo não era tão vantajoso como havia parecido no começo, mas, os pastores
(digo, os padres) daquela época, começaram a fazer a cabeça da esposa dele, que
era uma tremenda de uma putana (digo, dama da alta sociedade), que estava se
dando muito bem na sua nova religião, pois aqueles padres haviam criado um tal
de confessionário que caíra como uma luva para ela e outras fornicadoras
insaciáveis (digo, damas ilustres) que pecavam a semana toda, mas no domingo,
logo cedo, iam se confessar com um padre que elas não viam o rosto, mas que era
bem condescendente, pois as perdoavam em troca delas rezarem umas orações
curtas, fáceis de serem decoradas.
No domingo ajeitavam a consciência e
na segunda, já perdoadas, voltavam com a corda toda às suas estripulias
intramuros palacianos.
O acordo foi selado e sacramentado, e
aí foi um salve-se quem puder no seio das outras religiões. E não foram poucos
os que rapidinho renunciaram à antiga forma de professar suas fezes (digo, fé,
no singular, mesmo!) pois viram como a grana corria à solta para as mãos (digo,
cofres) daqueles padres de então, pois eles eram muito criativos e a cada dia
tinham um culto específico para cada algum dos males universais, comuns a todos
os povos, épocas e pessoas.
Aqueles pastores (digo, padres) de
então estavam com "tudo": A grana que arrecadavam, parte reinvestiam
criando novos pontos de arrecadação (digo, novas igrejas) e parte usavam em
benefício próprio, comprando mansões e carrões (digo, carruagens) que exibiam
com ares de triunfo, alegando que era a sua conversão ao cristianismo que havia
tornando-os prósperos e bem sucedidos na vida.
Eles criaram uma tal de teologia da
prosperidade para justificar seus enriquecimentos rápidos e à custa da
exploração da ingenuidade dos seus seguidores de então, que davam-lhes dízimos e
mais dízimos e ainda sorriam felizes com suas novas fezes (digo, fé no
singular).
Tudo isso aconteceu no curto espaço de
uns vinte e poucos anos e começou depois da
segunda metade do século IV d.C.
Por incrível que pareça, aquele preto
velho, muito cansado de tanto carregar sacos de pedras alheias, viveu tempo
suficiente para ver tudo isso acontecer.
E tudo o que aquele padre de todos os
padres havia lhe dito que faria com tudo o que tinha aprendido com ele,
aconteceu ao contrário.
O tal pastor (digo, padre), já auto eleito bispo, usou o que havia aprendido com
o preto, mas segundo seus interesses de então, (digo, daquela época).
Batizava com uma caríssima água
trazida direto do rio Jordão (mas que
seus asseclas colhiam na calada da noite das torneiras da Sabesp, digo, das
bicas da adutora pública).
Vendiam um tal de óleo santo feito de
azeitonas colhidas dos pés de oliva existentes no Monte das Oliveiras (mas um assecla foi visto vendendo a um
"reciclador" barricas de um óleo que, de azeitonas, só tinha o cheiro).
E isso, sem falar nas réplicas
miniaturizadas da arca da aliança feitas de papiro; nas réplicas das trombetas
de Jericó; num tal de sal grosso vindo direto do Mar Morto, mas que algumas testemunhas
ocultas juraram que era sal grosso de um fabricante de sal para churrasco.
Foram tantas as coisas que aquele
velho preto cansado e curvado havia ensinado àquele jovem e empertigado pastor
(digo, padre) e que ele não só não
usou em benefício dos outros, como os usou em benefício próprio, que o preto já
velho, muito velho falou para si mesmo: "Me perdoa, meu pai Obaluaiyê, mas
eu não revelei àquele padre (digo,
pastor, isto é, àquele bispo) o que acontece com quem inverte os seus
mistérios ou os usa em benefício próprio: que eles, ao desencarnarem, têm seus
espíritos transformados em horrendas cobras negras!"
Obaluaiyê, ao ouvir o último lamento
daquele preto, velho e curvado de tanto carregar sacos de pedras alheias, e
cansado e desiludido por ensinar o bem e ver seus ouvintes inverterem tudo o
que ouviam em benefício próprio, acolheu em seus braços o espírito curvado
dele, endireitou-o, acariciou lhe o rosto e falou-lhe bem baixinho no ouvido:
"Meu filho, alegre-se, pois ele só andará na terra o tempo necessário para
tirar dos cultos dos orixás os que não aprenderam a curvar-se diante dos
Senhores dos Mistérios mas que acham-se no direito de se servirem deles. Mas,
assim que ele fizer isso, deixará essa terra e voltará a rastejar nas sombras
das trevas mais profundas, que é de onde ele veio para recolher de volta para
elas os espíritos que Jesus trouxe consigo após sua descida às trevas. Bem que
eu alertei o jovem e amoroso Jesus sobre o perigo de usar do meu Mistério da
Cruz para abrir passagens nas trevas humanas! Afinal, quem abre passagens nas
trevas com meu mistério da cruz, liberta o que nele existe, não é mesmo, meu
velho e sábio preto?
"É sim, meu divino pai
Obaluaiyê!" disse o preto velho.
Rubens Saraceni
Reblogado do website Reiki
Link desta mensagem: http://reikipro.wordpress.com/2011/05/02/o-misterio-da-cruz-entre-o-sagrado-e-o-profano/
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