A esperança esvanecia-se nos corações aflitos e nas
vidas sobrecarregadas pelas injunções penosas, sendo substituída lentamente
pela amargura e pelo desencanto.
Mais uma vez a opressão asfixiava Israel, reduzindo
o seu povo à situação de hilota, sob a poderosa força das legiões romanas.
O governo, tão imoral quão perverso de Herodes, o
Grande, espalhava o terror por todo o país, embora subserviente ao imperador
desde quando o Senado romano nomeou-o como Rei dos judeus.
Jerusalém era um covil de criminosos a soldo da
impunidade, desde que protegidos pelo Sinédrio ou pelo déspota, que passaria à
História como um dos mais perversos do seu tempo.
O silêncio das revelações que se prolongava por
alguns séculos demonstrava a decadência moral que dominava o reino sob severas
provações.
De um lado, a Torre Antônia vigiava os passos de
todos quantos se movimentavam na velha urbe, e, do outro, o suntuoso Templo, no
qual os serviços religiosos perderam totalmente o significado espiritual,
substituído pelo comércio de toda ordem, dominavam as consciências e sufocavam
as parcas esperanças de melhores dias.
A traição, as calúnias, a bajulação disputavam
soberania nos palácios do Sumo sacerdote e do cruel dominador, enquanto Roma
vigiava-os com rigor, sempre pronta a interferir nas tricas intermináveis entre
os rabinos ambiciosos, assim como entre as castas dos fariseus, saduceus,
publicanos e proletários reduzidos à quase miséria total.
A justiça cedera lugar à astúcia e à perversidade
em campeonato de insensibilidade moral e emocional.
A pessoa humana valia quase menos que uma animália.
Ao mesmo tempo, a ignorância em torno do sentido
existencial e da busca moral de evolução predominava em toda parte.
Os fraudadores, os agiotas e os mercadores
mantinham as suas bancas e os animais para o sacrifício no santuário, que
deveria ser dedicado aos objetivos do espírito, sem qualquer consideração pela
dignidade.
A preocupação dos fariseus com as fórmulas e a aparência
exterior, em terrível hipocrisia, assustava as massas em desgoverno emocional.
O formalismo substituía a legitimidade dos
sentimentos, e os rabinos aproveitavam-se da situação para o enriquecimento
ilícito e o luxo exorbitante, em detrimento dos sofredores e miseráveis que
enxameavam as cidades, especialmente Jerusalém.
*
Foi nesse clima histórico de hediondez que nasceu
Jesus numa noite estrelada, após deixar o sólio do Altíssimo.
Esse acontecimento sublime dividiu os fastos
históricos da Humanidade e nunca mais a desfaçatez, a insensibilidade emocional
e a dureza dos corações encontrariam apoio na sociedade, embora ainda
permaneçam, em predominância.
Ele veio traçar a linha divisória entre a verdade e
a mentira, o poder político e o espiritual, o amor e a misericórdia em lugar da
astúcia e da selvageria...
Suave e nobre como uma réstia, que diminuiu a
escuridão aparvalhante, Ele inaugurou o período da fraternidade sem jaça, do
trabalho honorável, da imaculada justiça sob a proteção do amor até a abnegação
e o sacrifício.
Jamais a Humanidade conheceu alguém do porte de
Jesus.
Nunca houve alguém à Sua semelhança, que
vivenciasse todos os postulados que enunciava, amparando e convivendo com
aqueles que eram considerados excluídos, pelo simples fato de serem infelizes.
Ele abriu os braços e envolveu os desventurados em
doce amplexo de ternura incomum, atendendo as criancinhas ingênuas, os enfermos
desditosos, as mulheres equivocadas e todos aqueles que tinham fome e sede de
justiça e de misericórdia.
Por isso, a Sua é a vida mais bela e grandiosa que
passou pela Terra, deixando pegadas luminosas, a fim de que, através dos
séculos, os transviados pudessem identificar o caminho que os pode conduzir com
segurança à meta anelada, que é a plenitude, o Reino de Deus no
próprio coração.
Ao escolher um monte nas cercanias do mar da
Galileia como cenário de beleza ímpar, ele cantou as Bem-aventuranças, o mais
perfeito código de ética moral e de comportamento que prossegue ressoando
através dos últimos dois milênios nas mentes e nos sentimentos humanos.
Quem reflexione sinceramente no seu conteúdo, nunca
mais voltará às paisagens ermas e terríveis do egoísmo, da insensatez, da
indiferença pelos valores elevados da existência.
Suas mãos cariciosas dedicaram-se a limpar os
leprosos, a abrir os olhos aos cegos, a descerrar os ouvidos dos moucos, a
restituir movimentos aos paralisados, mas sobretudo a guiar como pastor
dedicado o rebanho pela trilha de segurança, fazendo-se, Ele próprio, o
Caminho para a Verdade e para a Vida.
A Sua voz canora narrou as extraordinárias
parábolas, sintetizando todas as necessidades humanas e as soluções nessas
narrativas fecundas e inolvidáveis, hoje transformadas em recursos
psicoterapêuticos para os depressivos, os atormentados, os perdidos no país de
si mesmos.
Nunca mais se ouviria o canto nem o encanto desse
Homem incomparável que se negou a ser rei dos judeus, por ser o Senhor das
estrelas...
*
Lembra-te de Jesus na celebração do Natal,
evocando-Lhe a vida incomum, o amor inefável de que se fez portador, aplicando
na conduta as lições insuperáveis que legou à Humanidade.
Não te deixes perturbar pelos ruídos das
propagandas da ilusão, mantendo o silêncio interno e a visão clara para
identificar os necessitados aos quais Ele denominou como Filhos do Calvário, e
sendo-te possível, em memória Dele atenua-lhes as dificuldades e os
padecimentos atrozes que os vergastam.
Permanece vigilante, a fim de que neste Natal Jesus
deixe de ser confundido com o mercado dos presentes e retorne ao convívio do
povo como a esperança de felicidade que se converte em realidade.
Psicografia de Divaldo Pereira
Franco, na noite
de 14 de outubro de 2013, na Mansão do Caminho,
em Salvador, Bahia.
Em 16.4.2014
de 14 de outubro de 2013, na Mansão do Caminho,
em Salvador, Bahia.
Em 16.4.2014
Reblogado do website Divaldo Franco
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