quinta-feira, 22 de maio de 2014

Divaldo Franco: RENOVADAS ESPERANÇAS

Divaldo Pereira Franco

A esperança esvanecia-se nos corações aflitos e nas vidas sobrecarregadas pelas injunções penosas, sendo substituída lentamente pela amargura e pelo desencanto.

Mais uma vez a opressão asfixiava Israel, reduzindo o seu povo à situação de hilota, sob a poderosa força das legiões romanas.

O governo, tão imoral quão perverso de Herodes, o Grande, espalhava o terror por todo o país, embora subserviente ao imperador desde quando o Senado romano nomeou-o como Rei dos judeus.

Jerusalém era um covil de criminosos a soldo da impunidade, desde que protegidos pelo Sinédrio ou pelo déspota, que passaria à História como um dos mais perversos do seu tempo.

O silêncio das revelações que se prolongava por alguns séculos demonstrava a decadência moral que dominava o reino sob severas provações.

De um lado, a Torre Antônia vigiava os passos de todos quantos se movimentavam na velha urbe, e, do outro, o suntuoso Templo, no qual os serviços religiosos perderam totalmente o significado espiritual, substituído pelo comércio de toda ordem, dominavam as consciências e sufocavam as parcas esperanças de melhores dias.

A traição, as calúnias, a bajulação disputavam soberania nos palácios do Sumo sacerdote e do cruel dominador, enquanto Roma vigiava-os com rigor, sempre pronta a interferir nas tricas intermináveis entre os rabinos ambiciosos, assim como entre as castas dos fariseus, saduceus, publicanos e proletários reduzidos à quase miséria total.

A justiça cedera lugar à astúcia e à perversidade em campeonato de insensibilidade moral e emocional.

A pessoa humana valia quase menos que uma animália.

Ao mesmo tempo, a ignorância em torno do sentido existencial e da busca moral de evolução predominava em toda parte.

Os fraudadores, os agiotas e os mercadores mantinham as suas bancas e os animais para o sacrifício no santuário, que deveria ser dedicado aos objetivos do espírito, sem qualquer consideração pela dignidade.

A preocupação dos fariseus com as fórmulas e a aparência exterior, em terrível hipocrisia, assustava as massas em desgoverno emocional.

O formalismo substituía a legitimidade dos sentimentos, e os rabinos aproveitavam-se da situação para o enriquecimento ilícito e o luxo exorbitante, em detrimento dos sofredores e miseráveis que enxameavam as cidades, especialmente Jerusalém.
*
Foi nesse clima histórico de hediondez que nasceu Jesus numa noite estrelada, após deixar o sólio do Altíssimo.

Esse acontecimento sublime dividiu os fastos históricos da Humanidade e nunca mais a desfaçatez, a insensibilidade emocional e a dureza dos corações encontrariam apoio na sociedade, embora ainda permaneçam, em predominância.

Ele veio traçar a linha divisória entre a verdade e a mentira, o poder político e o espiritual, o amor e a misericórdia em lugar da astúcia e da selvageria...

Suave e nobre como uma réstia, que diminuiu a escuridão aparvalhante, Ele inaugurou o período da fraternidade sem jaça, do trabalho honorável, da imaculada justiça sob a proteção do amor até a abnegação e o sacrifício.

Jamais a Humanidade conheceu alguém do porte de Jesus.

Nunca houve alguém à Sua semelhança, que vivenciasse todos os postulados que enunciava, amparando e convivendo com aqueles que eram considerados excluídos, pelo simples fato de serem infelizes.

Ele abriu os braços e envolveu os desventurados em doce amplexo de ternura incomum, atendendo as criancinhas ingênuas, os enfermos desditosos, as mulheres equivocadas e todos aqueles que tinham fome e sede de justiça e de misericórdia.

Por isso, a Sua é a vida mais bela e grandiosa que passou pela Terra, deixando pegadas luminosas, a fim de que, através dos séculos, os transviados pudessem identificar o caminho que os pode conduzir com segurança à meta anelada, que é a plenitude, o Reino de Deus  no próprio coração.

Ao escolher um monte nas cercanias do mar da Galileia como cenário de beleza ímpar, ele cantou as Bem-aventuranças, o mais perfeito código de ética moral e de comportamento que prossegue ressoando através dos últimos dois milênios nas mentes e nos sentimentos humanos.

Quem reflexione sinceramente no seu conteúdo, nunca mais voltará às paisagens ermas e terríveis do egoísmo, da insensatez, da indiferença pelos valores elevados da existência.

Suas mãos cariciosas dedicaram-se a limpar os leprosos, a abrir os olhos aos cegos, a descerrar os ouvidos dos moucos, a restituir movimentos aos paralisados, mas sobretudo a guiar como pastor dedicado o rebanho pela trilha de segurança, fazendo-se, Ele próprio, o Caminho para a Verdade e para a Vida.

A Sua voz canora narrou as extraordinárias parábolas, sintetizando todas as necessidades humanas e as soluções nessas narrativas fecundas e inolvidáveis, hoje transformadas em recursos psicoterapêuticos para os depressivos, os atormentados, os perdidos no país de si mesmos.

Nunca mais se ouviria o canto nem o encanto desse Homem incomparável que se negou a ser rei dos judeus, por ser o Senhor das estrelas...
*
Lembra-te de Jesus na celebração do Natal, evocando-Lhe a vida incomum, o amor inefável de que se fez portador, aplicando na conduta as lições insuperáveis que legou à Humanidade.

Não te deixes perturbar pelos ruídos das propagandas da ilusão, mantendo o silêncio interno e a visão clara para identificar os necessitados aos quais Ele denominou como Filhos do Calvário, e sendo-te possível, em memória Dele atenua-lhes as dificuldades e os padecimentos atrozes que os vergastam.

Permanece vigilante, a fim de que neste Natal Jesus deixe de ser confundido com o mercado dos presentes e retorne ao convívio do povo como a esperança de felicidade que se converte em realidade.

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na noite
de 14 de outubro de 2013, na Mansão do Caminho,
em Salvador, Bahia.
Em 16.4.2014


Reblogado do website Divaldo Franco

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