Por volta do ano 100
a.C., Alexandre Janneus elegeu um dos grandes montes ao sul de Ein Gedi para
edificar a fortaleza de Massada, nome derivado desse imenso planalto na
cordilheira da Judeia.
Árida toda a região, da
sua altura se contempla o mar Morto, onde somente algumas raras figueiras
medravam, num clina hostil e ardente, cujas chuvas só poucas vezes amenizavam o
tormento das pedras calcárias que os ventos e as poucas torrentes cavavam,
produzindo abismos.
O deserto da Judeia fora
o lugar escolhido pelo Excelso Filho de Deus para a meditação. Após o batismo
em Beth Abara, conforme os hábitos de então – recorde-se que João Batista ali
também vivera grande parte da existência.
Era o lugar ideal para a
solidão, para o encontro com Deus, quando renovavam as forças para o ministério
divino junto às criaturas humanas.
O deserto da Judeia, de
alguma forma, pode ser comparado a muitos sentimentos humanos, nos quais não
brotam as delicadas expressões da gentileza nem do amor, da compaixão nem da
solidariedade.
Na solidão do deserto
são inevitáveis a morte ou a comunhão com a Divindade.
Naquele lugar de
dificílimo acesso, Herodes construiu, durante o seu reinado, mais um dos seus
luxuosos palácios, sempre pensando onde se refugiar, caso fosse vítima de uma
rebelião ou de um movimento para tomar-lhe o trono e a vida.
Após a queda de
Jerusalém, algumas centenas de pessoas fugiram da veneranda cidade e buscaram
abrigo em Massada, habitada por sicários – homens que se utilizavam de um
punhal curvo para matar os inimigos -, samaritanos, essênios e galileus.
Por volta do ano 73 ou
74 a.C. a décima legião romana, comandada por Flavius Silva e constituída por
oito mil soldados, sitiou Massada.
Foram construídos oito
acampamentos em pontos estratégicos, erguido um muro circular e preenchido o
abismo que separava a montanha do restante do planalto com pedras e terras,
para facilitar o acesso à fortaleza. Depois de vários meses de sítio impiedoso,
conseguiram mediante lutas cruéis derrubar a forte muralha, incendiar o segundo
muro de madeira e encerrar o capítulo que diz respeito à destruição de Israel,
submetendo totalmente a Judeia a Roma...
O último bastião era
aquele, e fora vencido de maneira perversa, avassaladora.
Não houve, porém,
combate, porque Elazar bem Yair, o chefe dos rebeldes, que totalizavam
novecentas e sessenta pessoas, entre crianças, mulheres e homens, proferiu dois
discursos, num dos quais sugeriu aos sobreviventes que matassem a todos, após
um sorteio de quem se encarregaria de o fazer, até o último, o que ficaria,
cometesse o suicídio, a fim de não se renderem aos romanos, mediante uma
proclamação comovedora.
Entre as muitas palavras
de grande significado e reflexão, disse: Somente a Deus nos rendemos.
Só Ele governa os homens com a justiça e a verdade...
Os detalhes da
autodestruição foram especificados, inclusive deixando os celeiros abastecidos
e os depósitos de água cheios, a fim de demonstrar ao inimigo que eles não
foram vítimas nem da fome nem da sede.
Sobreviveram à tragédia
duas mulheres e cinco crianças, que se esconderam em uma fenda, e mais tarde
narraram o acontecimento pavoroso.
Era, então, a noite de
15 de março, primeiro dia de Pesaj....1
Massada passou à
História como o triunfo, a vitória da liberdade sobre a escravidão, pela
prática generalizada de crimes de homicídio e suicídio...
* *
*
Na fértil e verde
Galileia existe um monte de menor altura de onde se contempla o mar generoso e
rico de peixes.
A natureza ali é
esfuziante, as flores desabrocham e há plantações nos aclives, pássaros que
cantam, enquanto a vida se movimenta em beleza e exuberância.
Tudo fala de vida social
pacífica, de amizade, de lutas e de esforços para a sobrevivência no dia a dia
existencial.
O rio Jordão é o
responsável por aquele abençoado mar, que as barcas atravessam de um lado para
o outro entre as inúmeras cidades que o adornam como perolas num colar, em
razão das suas praias arredondadas em diversas baías de pedras miúdas e
escuras.
Nesse local, Jesus
ensinou as mais valiosas lições da Sua doutrina.
As bem-aventuranças
tornaram-se o hino internacional de beleza e de misericórdia, de vida
exuberante e de esperança, de emoções sublimes e de venturas imarcescíveis.
O poema espraiou-se pelo
mundo e tomou conta das mentes e dos corações dos simples em espírito, dos
mansos e pacíficos, dos esfaimados e sedentos de paz e justiça, dos
misericordiosos, dos perseguidos e de todos aqueles que não encontram lugar no
mundo, anelando pela libertação através da plenitude.
Aquela região é
abençoada pela beleza e pelo perfume de uma quase eterna primavera, com
lembranças felizes e alegrias renováveis.
Jesus, ali, tornou-se o
Alfa e o Ômega, atingindo o máximo de beleza que ainda paira no ambiente
festivo.
* * *
Em Massada somente
existem a guerra esfaimada, as ambições do louco poder, as extravagâncias de um
rei megalomaníaco, temerário e temeroso, que passou à posteridade como símbolo
de destruição e de dor.
O deserto ainda arde e o
monte altivo, quase inalcançável, permanece como desafio e desencanto, como
motivo de orgulho de uma raça e desilusão, porque o Livro Sagrado dos profetas
condena tenazmente o suicídio e agora já não se anota o acontecimento como
estoicismo, qual se fazia anteriormente...
No monte das
bem-aventuranças o verde continua e a dúlcida melodia, que ali foi cantada,
permanece engrandecendo as vidas que transitam em sua volta como símbolo de
grandeza do amor.
Ali foram estabelecidas
as bases éticas e morais da doutrina de Jesus, reprochando toda forma de crime,
de adultério, de homicídio e avareza, os juramentos, mas, sobretudo, o amor ao
próximo.
Há ternura e austeridade
na voz do Poeta-Cantor.
A magia da sua ternura
envolve e inspira felicidade.
Nunca mais se ouviu nada
que se igualasse ao que ali foi apresentado.
Na sociedade terrestre
existem pessoas que fazem recordar Massada, temida e detestada, dominadas pela
força bruta e pela ambição desmedida.
Também existem pessoas
que são semelhantes às paisagens do outro monte, o das venturas excelsas, da
generosidade ímpar, da renúncia e da abnegação, do sacrifício da própria vida
em favor do seu irmão.
Massada continua ardente
quase sempre ou gelada nos dias frios do inverno.
O monte esperança
permanece agasalhador e vital para o ser humano, ameno e gentil, evocando o
amor.
Amélia
Rodrigues
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na noite de
28 de janeiro de 2014, em Jerusalém, Israel
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na noite de
28 de janeiro de 2014, em Jerusalém, Israel
1 Páscoa – nota da autora espiritual.
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