Ao tempo de Jesus, Nazaré
era uma aldeia muito modesta com uma população reduzida entre cento e cinquenta
a cento e oitenta pessoas, distante seis quilômetros de Séforis, a nova capital
da Galileia, aproximadamente cinquenta e dois quilômetros de Cafarnaum, onde
passaria a residir por algum tempo.
Embora Ele houvesse vivido
ali por quase trinta anos, fosse conhecido e seguisse a tradição nazireia,
resultado da sua educação doméstica, quando foi anunciado o Seu retorno, os
adversários anteciparam-nO e mediante a urdidura das intrigas, da inveja e do
despeito geraram embaraços e dificultaram-Lhe o ministério.
A intriga é veneno
destilado pelas almas doentes incapazes de acompanhar a glória de outrem sem a
presença da inveja e do despeito.
Ele era puro e isso não se
fazia aceito por aqueles que ainda se encontravam nas agruras das imperfeições.
Era manso e a ferocidade
dos mais primitivos levantava-se para provocá-lO embora não encontrasse
resposta equivalente.
Ele era nobre como a Vida e
os atormentados que a perturbavam não aceitavam a Sua superioridade.
Em torno dos Seus passos a
indiferença pelo próximo e o esquecimento da fraternidade constituíam
comportamento normal, porque os infelizes eram invisíveis, quando não criavam
situações embaraçosas para os cômodos.
Mas ainda hoje é mais ou
menos assim...
Quando Ele chegou com os
Seus discípulos, após uma jornada fatigante, a agressividade local era
generalizada, demonstrando quanto ressentimento havia na pequena e hostil
população.
Havia inverno nos corações,
enquanto a primavera estuava em a Natureza.
Sopravam ventos brandos,
levemente perfumados, acariciando as almas em turbilhão.
Uns chamavam-nO discípulo
de Belzebu para poder realizar o que diziam que Ele era capaz de fazer. Outros
acusavam-nO de feitiçaria, diversos gritavam que Ele era mistificador que
ludibriava o povo ignorante e supersticioso...
Os discípulos foram
igualmente agredidos verbalmente e não foram poucas as discussões que, por
pouco não culminaram em pugilato.
Os mais jovens ficaram
furiosos e enfrentaram a ironia e a crítica ácida, defendendo o Amigo.
Os mais experientes não
ocultavam o desencanto, ainda mais diante da serenidade do Rabi, que permanecia
inalterado.
O Reino dos Céus não é
imposto pela força. - Disse Ele,
mansamente, como se nada de mal estivesse acontecendo.
E porque a situação se
houvesse tornado grave, a fim de evitar alguma pugna muito do agrado dos
desordeiros, Ele convidou os amigos, sem qualquer ressentimento, a retornar a Cafarnaum...
*
Os Seus não O receberam,
não O mereciam.
A flor delicada da verdade
necessita da haste vigorosa para continuar exalando perfume e transformar-se em
fruto abençoado.
Os narizeus estavam
tentando ferir a árvore frondosa da Verdade, a fim de que não houvesse flor nem
frutescência.
Na saída de Nazaré
convulsionada pela insensatez dos Seus inimigos, houve o enfrentamento com a
Treva.
Nazaré, como a maioria das
cidades, tinha os seus réprobos: aqueles que haviam sido expulsos do Livro
da Vida, portadores de lepra, de obsessão, de cegueira, das mazelas da alma
pela prostituição, alcoolismo, misérias morais...
Tornara-se célebre um
endemoniado agressivo que, normalmente era expulso da pequenina urbe sob
pedradas de crianças e de adultos, e sempre retornava.
Relativamente jovem fora
acometido de loucura, agredindo os pais e familiares, todos quantos se lhe
acercavam, sendo surrado muitas vezes até a exaustão e jogado nos monturos...
Passado algum tempo, ei-lo
de retorno, furioso e alucinado.
Vendo Jesus e os Seus a
regular distância, pôs-se a blasfemar e a inquirir:
Jesus de Nazaré, por que me
persegues? Que queres de mim?
Suavemente compadecido
enquanto o tresvariado se agitava, Ele indagou tocado pela misericórdia:
Quem és tu?
A voz roufenha e a baba
abundante na boca, respondeu:
Sou Satanás que domino este
homem e o martirizo.
Com dúlcida e enérgica
melodia nos lábios, o Senhor respondeu:
Satanás, em nome de meu
Pai, eu te ordeno: sai dele, deixa-o.
A voz, portadora de uma
tonalidade especial, sem qualquer laivo de brutalidade, produzindo um especial
efeito no infeliz desencarnado, agitou o enfermo, fê-lo convulsionar e
deixou-o, tombando-o no solo, como se estivesse numa crise epiléptica.
Apesar de acostumados com
os sublimes fenômenos produzidos pelo Mestre, os Seus discípulos, a princípio
alarmados, foram tomados de jubilosa surpresa.
E quando o Senhor auxiliou
o paciente a levantar-se perfeitamente recuperado, disse-lhe:
Vai e apresenta-te a todos,
a fim de que eles saibam o que pode fazer Aquele que vem em nome de Deus.
O recuperado sacudiu a
poeira da roupa e avançou na direção da praça, onde se amotinavam o povo e
alguns fariseus, que o vendo, ficaram estremunhados e agressivos.
Alguém gritou com voz
estentórea:
Quem está de volta!
Com muita calma, o
ex-alienado respondeu:
Sim, sou eu!
Continuas louco,
desgraçado, ou alguém te curou?
Sem ressentimento e com
alegria ripostou:
O Mestre recuperou-me...
Não terminou a frase e as
gargalhadas de mofa abafaram-lhe a voz em gritaria infrene, com ameaças de
apedrejamento.
Foi então que o recuperado
bradou mais forte:
Jesus salvou-me! Estou
curado.
Seus olhos brilhantes e a
sua serenidade impactaram os delinquentes que foram dominados por
peculiar estupor.
Um fariseu soberbo e mendaz
acercou-se-lhe com empáfia e olhando-o com aparente serenidade, inquiriu-o:
Tu dizes que Jesus te
curou? Mas Ele é servo de Belzebu.
Ao que o recém-curado
esclareceu com lógica irretorquível:
Se Ele me curou por
Belzebu, por que vós jamais curastes alguém? Que me importa em nome de quem Ele
me recuperou. O que posso afirmar é que eu tinha um demônio que me dominava e
Ele me libertou. É, portanto, melhor e mais poderoso do que vós.
E saiu cantando louvores,
seguindo o Mestre.
*
Nunca faltarão inimigos
para a Verdade.
Mesquinhos e ignorantes
eles sempre se opõem ao amor, mas acima deles e de suas misérias encontra-se a
inefável misericórdia de Jesus a todos e a eles também socorrendo.
Nazaré não O recebeu,
porque ninguém é profeta na sua terra.
Nazaré se arrependeu na
sucessão dos séculos...
Amélia Rodrigues.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco,
na sessão mediúnica de 15 de junho de 2015,
no Centro Espírita Caminho da Redenção,
em Salvador, Bahia.
em Salvador, Bahia.
Fonte: Divaldo Franco
http://divaldofranco.com.br/
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