Osho,
Não
"manter a mente tranqüila", mas vazia.
Embora
você não tenha plena certeza se os professores das várias localidades estão
certos ou errados, se sua própria base é sólida e genuína, os venenos das
doutrinas erradas não serão capaz de lhe fazer mal, "manter a mente
calma" e "esquecer preocupações" incluídas. Se você sempre
"esquece as preocupações" e "mantém a mente calma," sem
despedaçar a mente do nascimento e morte, então as enganadoras influências de
forma, sensação, percepção, volição e consciência seguirão seu próprio caminho
e você estará inevitavelmente dividindo a vacuidade em duas partes.
Relaxe e
torne-se vasto e expansivo. Quando velhos hábitos repentinamente surgirem não
use a mente para reprimi-los. Nessa hora, é como um floco de neve sobre uma
fornalha aquecida. Para aqueles dotados de visão penetrante e uma mão familiar,
um salto e eles saltam livres.
Só então
eles conhecem o dito de Jung: quando usando a mente, sem nenhuma atividade
mental. Conversa distorcida poluída com nomes e formas, conversa franca sem
complicações. Sem mente mas funcionando, sempre funcionando mas não-existente -
o esvaziamento de que eu falo agora não está separado de ter mente. Estas não
são palavras para enganar pessoas.
Tem
havido um grande mal-entendido sobre estas duas coisas: manter a mente
tranqüila e esvaziamento mental. Existiram muitas pessoas que ensinaram que
elas são sinônimos. Elas parecem ser sinônimos, mas na realidade estão tão
separadas quanto duas coisas podem estar, e não há como interligá-las.
Assim,
primeiro vamos tentar encontrar o exato significado dessas duas palavras,
porque o sutra Ta Hui completo desta noite diz respeito ao entendimento da
diferença.
A
diferença é muito sutil. Um homem que está mantendo sua mente tranqüila e um
homem que não tem mente irá parecer exatamente igual olhando de fora, porque o
homem que está mantendo sua mente tranqüila também está silencioso. Por baixo
de seu silêncio há um grande tumulto, mas ele não está permitindo isto vir à
tona. Ele está no controle total.
O homem
com a não-mente, ou sem atividade mental, não tem nada para controlar. Ele é
somente puro silêncio com nada reprimido, com nada disciplinado - apenas um
puro céu vazio.
Superfícies
podem ser muito enganadoras. A pessoa precisa estar muito alerta sobre as
aparências, porque ambas parecem iguais do lado de fora - ambas são
silenciosas. O problema não teria surgido se a mente tranquila não fosse fácil
de alcançar. É fácil de alcançar. Esvaziamento mental não é tão fácil de
alcançar; não é barato é o maior tesouro do mundo
A mente
pode jogar o jogo de ser silenciosa; ela pode jogar o jogo de não ter qualquer
pensamento, qualquer emoção, mas estes estão apenas reprimidos, plenamente
vivos, prontos para aparecer a qualquer momento. As assim chamadas religiões e
seus santos caíram na falácia de tranqüilizar a mente. Se você continua sentado
em silêncio, tentando controlar seus pensamentos, não permitindo suas emoções,
não permitindo qualquer movimento dentro de você, lento, lentamente isso se
tornará seu hábito. Essa é a maior decepção do mundo que você pode dar a si
próprio, porque tudo é exatamente o mesmo, nada mudou, mas parece que você
sofreu uma transformação.
O estado
de não-mente ou de esvaziamento mental é exatamente o oposto de tranqüilizar a
mente - é ir além da mente. É criar uma tal distância entre você e a mente que
esta se torna a mais distante estrela, milhões de anos luz distante, e você é
apenas um observador. Quando a mente é tranqüilizada você é o controlador.
Quando a mente não está, você é o observador. Estas são as marcas distintas.
Quando
você está controlando alguma coisa você fica tenso; você não pode ficar sem
tensão, porque aquilo que é controlado está continuamente tentando revoltar-se
contra você, aquilo que está escravizado deseja liberdade. Sua mente mais cedo
ou mais tarde irá explodir em vingança.
Uma
história que eu tenho amado.
Em uma
vila, havia um homem de um tipo muito agressivo e raivoso, tão violento que ele
matou sua esposa, por algo trivial. Toda a vila o temia porque ele não conhecia
outro argumento a não ser violência.
No dia
que ele matou sua mulher jogando-a num poço, um monge Jaina ia passando. Juntou
uma multidão e o monge Jaina disse; esta mente cheia de raiva e violência vai
lhe levar pro inferno.
A
situação era tal que o homem disse, eu também desejo ser tão silencioso quanto
você, mas que posso fazer?
Eu nada
sei. Quando a raiva me pega, fico quase inconsciente e agora matei minha
própria mulher amada.
O monge
Jaina disse: A única maneira de acalmar essa mente, repleta de raiva, rancor e
violência, é renunciar ao mundo. Jainismo é uma religião de renúncia, e a
renúncia final é até mesmo das roupas. O monge Jaina vive desnudo, devido a que
não lhe é permitido possuir nem mesmo roupas.
O homem
era de um tipo muito arrogante e isso tornou-se um desafio para ele. Diante da
multidão, ele também jogou suas roupas no mesmo poço da mulher. A vila inteira
não podia acreditar nisso; até mesmo o monge Jaina ficou um pouco amedrontado,
ele é louco ou algo assim? O homem caiu aos seus pés e disse: Você deve ter
levado muitas décadas para alcançar o estado de renúncia... eu renuncio ao
mundo, renuncio a tudo. Sou seu discípulo - me inicie.
Seu nome
era Shantinath e shanti significa paz. Isso sempre acontece... se você vê uma
mulher feia, muito provavelmente seu nome será Sunderbhai, que significa mulher
bonita. Na Índia as pessoas têm um jeito estranho... para o homem cego eles dão
o nome Nayan Sukh. Nayan Sukh significa aquele a quem os olhos dão grande
prazer.
O monge
Jaina disse: Você tem um belo nome. Não o mudarei; eu o conservarei, mas de
agora em diante você deve lembrar que a paz precisa tornar-se sua própria
vibração.
O homem
disciplinou-se, acalmou sua mente, jejuou por longo tempo, torturou a si mesmo
e logo se tornou mais famoso que seu mestre. Pessoas raivosas, pessoas
arrogantes, pessoas egoístas podem fazer coisas que pessoas pacíficas levarão
algum tempo para fazer. Ele tornou-se muito famoso e milhares de pessoas
costumavam vir apenas para tocar seus pés.
Após
vinte anos ele estava na capital. Um homem de sua vila tinha vindo por algum
propósito e ele pensou: Será bom ir e ver que transformação aconteceu a
Shantinath. Tantas histórias são contadas - que ele tornou-se um homem
totalmente novo, que seu velho eu se foi e um novo ser surgiu nele, que ele
realmente se tornou paz, silêncio, tranqüilidade.
Assim o
homem foi com grande respeito. Mas quando ele viu Muni Shantinath, vendo sua
face, seus olhos, ele não podia achar que tinha ocorrido alguma mudança. Não
havia nada da graça que necessariamente irradia de uma mente que se tornou
silenciosa. Aqueles olhos ainda eram tão egoístas - de fato, eles se tornaram
mais agudamente egoístas. A presença do homem era até mesmo mais feia do que
costumava ser.
Tranquilo,
o homem aproximou-se. Shantinath o reconheceu, ele havia sido seu vizinho - mas
agora isso estava abaixo de sua dignidade reconhecê-lo. O homem também percebeu
que Shantinath o havia reconhecido, mas estava fingindo que não. Ele pensou,
isto mostra muito. Ele aproximou-se de Shantinath e perguntou: Posso lhe fazer
uma pergunta? Qual é o seu nome?
Naturalmente,
grande raiva surgiu em Shantinath porque ele sabia que este homem sabia
perfeitamente bem qual era seu nome. Mas ele ainda manteve o controle e disse:
Meu nome é Muni Shantinath.
O homem
disse: É um nome bonito - mas minha memória é muito curta, você pode repeti-lo?
Eu esqueci... Que nome você falou?
Isso foi
demais. Muni Shantinath costumava carregar um bastão. Ele pegou o bastão em
suas mãos... ele esqueceu de tudo - vinte anos de controle da mente - e ele
disse: Pergunte de novo e mostrarei a você quem sou eu. Você esqueceu? - Eu
matei minha mulher, sou o mesmo homem.
Só então
ele se deu conta do que tinha acontecido.
Num
simples momento de inconsciência, ele se deu conta de que vinte anos desceram
pelo ralo; ele não havia mudado nada. Mas milhões de pessoas sentem grande
silêncio nele... Sim, ele se tornou muito controlado, ele se mantém reprimido,
e agora isso acabou. Tanto respeito e ele não tem nenhuma qualificação para
esse respeito - tanta honra, até mesmo reis chegam para tocar seus pés.
Seus
assim chamados santos não são nada senão animais controlados. A mente não é
nada senão uma longa herança de todo seu passado animal. Você pode controlá-la,
mas uma mente controlada não é uma mente desperta.
O
processo de controlar, reprimir e disciplinar é ensinado por todas as religiões
e devido aos esses ensinamentos falaciosos a humanidade não avançou nem uma
polegada - permanece bárbara. A qualquer momento as
pessoas começam a matar uns aos outros. Não leva nem um simples momento para se
perderem; eles esquecem completamente que são seres humanos e algo bem maior,
algo melhor é esperado deles. Existiram bem poucas pessoas que foram capazes de
evitar essa decepção de controlar a mente e acreditar que alcançaram o estado
de indiferença mental.
Para
alcançar o estado de indiferença mental, um processo totalmente diferente está
envolvido: Chamo isso de a suprema alquimia. Consiste apenas de um simples
elemento - que é a observação.
Gautama
Buda ia passando por uma cidade quando uma mosca chega e pousa na sua testa.
Ele está conversando com seu companheiro, Ananda, e ele continua falando e move
sua mão para espantar a mosca. Então subitamente ele se deu conta de que seu
movimento com a mão havia sido inconsciente, mecânico. Porque ele estava
falando conscientemente com Ananda, a mão espantou a mosca mecanicamente. Ele
pára e, embora agora não houvesse mais nenhuma mosca, ele move sua mão
novamente conscientemente.
Ananda
diz: Que você está fazendo? A mosca se foi... Gautama Buda diz: A mosca se
foi... mas cometi um pecado, porque fiz o movimento inconscientemente.
A palavra
inglesa pecado é usada por Gautama Buda com seu significado correto. A palavra
pecado origina-se nas raízes que significa esquecimento, desatenção,
inobservância, fazendo coisas mecanicamente - e toda nossa vida é quase
mecânica. Nós vamos fazendo coisas da manhã à noite, da noite a manhã, como
robôs.
Um homem
que deseja entrar no mundo da indiferença mental precisa aprender somente uma
coisa - um simples passo e a jornada está concluída. Este passo simples é fazer
tudo atentamente. Você move sua mão atentamente; você abre seus olhos
atentamente; você caminha, você dá seus passos alerta, cônscio; você come, você
bebe, mas nunca permite a mecanicidade se apossar de você. Esta é a única
alquimia secreta da transformação.
Um homem
que pode fazer tudo plenamente consciente torna-se um fenômeno luminoso. Ele é
todo luz e toda sua vida é cheia de fragrância e de flores. O homem mecânico
vive em buracos negros, buracos sujos. Ele não conhece o mundo da luz; ele é
como o cego. O homem de vigilância é realmente o homem que tem olhos.
Ta Hui
bem lentamente está penetrando nos mais profundos segredos da transformação
interior. Ele diz: Embora você não saiba plenamente se os professores das
várias localidades estão certos ou errados, se sua própria base é sólida e
genuína, os venenos das doutrinas erradas não serão capazes de prejudicar
você...
Ele diz
que é inutil pensar quem está certo ou quem está errado. Existem milhares de
doutrinas, centenas de filosofias e se você continuar buscando a verdade nestas
palavras, você ficará perdido numa selva onde você não pode encontrar o
caminho. Tudo que você sabe é alcançar uma base sólida dentro de você.
Manter
a mente calma, e também esquecer as preocupações. Se você sempre esquece as preocupações
e mantém a mente calma, sem despedaçar a mente do nascimento e morte, então as
enganadoras influências de forma, sensação, percepção, volição, e consciência
acharão seu caminho e você estará inevitavelmente dividindo o vazio em dois.
Relaxe e torne-se vasto e expansivo...
Não é uma
questão de autocontrole separado da existência; é uma questão de relaxar e
tornar-se vasto - tão vasto quanto a própria existência. E na observação você
se torna infinito: esta é a única coisa dentro de você que não tem limites.
Apenas dê
uma olhada em sua atenção, testemunhando. É ilimitada. Nenhum começo, nenhum
fim... é sem forma.
Esta
calma absoluta da mente é exatamente não-mente ou indiferença mental. Não é um
controle, não é uma disciplina; não é que você esteja colocando toda sua
pressão sobre sua mente e mantendo-a silenciosa. Não, ela simplesmente não está
aí. A casa está vazia. Não há ninguém para controlar e não há ninguém para ser
controlado. Todas as preocupações para controlar desapareceram em uma simples
observação. Esta observação é expansiva. Uma vez que você provou um pouco dela,
ela continua se expandindo até os limites do universo.
Quando
velhos hábitos subitamente surgirem, não use sua mente para reprimi-los. Nessa
hora, é como um floco de neve sobre uma fornalha aquecida.
Ele está
lhe lembrando que até mesmo quando você está se movendo no caminho da
vigilância, às vezes, velhos hábitos podem ressurgir. Mas não se preocupe; eles
são como um floco de neve sobre uma fornalha aquecida, eles irão desaparecer à
sua própria maneira. Você simplesmente observa. Não se deixe envolver, não se
perturbe, não fique preocupado.
Ás vezes
surgirá raiva, às vezes surgirá um desejo, às vezes haverá ambição, mas eles
não podem perturbar sua vigilância. Eles virão e passarão sem deixar rastros em
seu espelho puro. Mas você tem apenas que lembrar uma coisa: não comece a lutar
com eles, despedaçando-os, destruindo-os, lançando-os fora. Isso acontece muito
naturalmente com a mente que; se alguma coisa errada está acontecendo, pule
sobre isso e destrua-o. Essa é a única coisa que você deve ficar atento, porque
isso é o que não permite ao homem ir além da mente. Velhos hábitos virão - e
velhos hábitos são muito antigos, muitas e muitas vidas antigos. Sua vigilância
é muito fresca e muito recente; sua mecanicidade é antiga, assim é muito
natural que isso reapareça.
Alguém
lhe insulta - você não tem que ficar zangado, mas subitamente você percebe a
raiva surgindo. Isso não é um esforço, é apenas um velho hábito, uma velha
reação. Não lute com isso, não tente sorrir e escondê-la. Apenas observe-a, e
isso virá e passará...
Como
um floco de neve sobre uma fornalha aquecida. Para aqueles com uma visão
penetrante e uma mão familiar, um salto e eles saltam livres. Somente então
eles compreendem o dito preguiçoso de Jung: quando usar a mente, sem nenhuma
atividade mental.
Se um
homem aprendeu a arte da observação, ele também pode usar sua mente e ainda não
ter nenhuma atividade mental.
Eu
estou falando para vocês e estou usando minha mente porque não há outra maneira.
A mente é
o único meio de comunicar qualquer mensagem em palavras; esse é o único
mecanismo disponível. Mas minha mente está absolutamente silenciosa, não há
nenhuma atividade mental: Eu não estou pensando no que vou dizer e não estou
pensando no que disse. Estou simplesmente respondendo ao Ta Hui espontaneamente
sem me envolver nisso.
É como
quando você vai para as montanhas e você grita e as montanhas ecoam: as
montanhas não estão realizando alguma atividade mental, elas estão simplesmente
ecoando. Quando falo sobre o Ta Hui, sou apenas uma montanha ecoando.
Quando
usando a mente, sem nenhuma atividade mental. Conversas distorcidas por nomes e
formas, fale direto sem complicações. Sem mente mas funcionando...
Esta é
uma experiência estranha, quando você puder usar a mente sem nenhuma atividade
mental...
Sem
mente mas funcionando, sempre funcionando, mas não-existente.
Eu
estive, desde minha infância, apaixonado pelo silêncio.
Tão logo
me foi possível, apenas sentava em silêncio. Naturalmente, minha família
costumava pensar que eu não iria servir para nada - e eles estavam certos. Eu
certamente provei não servir para nada, mas não me arrependo disso.
Isso
chegou a tal ponto que às vezes, eu estava sentado e minha mãe vinha até mim e
dizia algo assim: Parece não haver ninguém em casa. Preciso de alguém para ir
ao mercado comprar alguns vegetais. Eu estava sentado na frente dela e eu
disse; Se eu achar alguém lhe direi...
Era
aceito que minha presença não significava nada; se eu estava lá ou não, não
fazia diferença. Uma ou duas vezes eles tentaram e então acharam que seria melhor
deixar-me de fora e não me dar importância - porque pela manhã eles me
mandariam para comprar vegetais e à noite eu perguntaria; esqueci o que vocês
me mandaram fazer e agora o mercado está fechado... Nas vilas os mercados de
vegetais fecham ao anoitecer, e os moradores voltam para suas casas.
Minha mãe
disse. Não é culpa sua, é nossa culpa. Esperamos por todo o dia, mas em
primeiro lugar não deveríamos ter pedido a você. Onde você esteve?
Eu disse;
Quando saí de casa, bem aqui perto havia uma bela árvore bodhi - o tipo de
árvore sob a qual Gautama Buda tornou-se iluminado. A árvore ganhou o nome de
árvore bodhi - ou em inglês, árvore bo - por causa de Gautama Buda. A gente não
sabe como ela era chamada antes de Gautama Buda; ela tinha que ter algum nome,
mas depois de Buda, ela ficou associada a seu nome.
Havia
uma linda árvore bodhi e ela era uma tal tentação para mim.
Costumava
haver lá sempre um tal silêncio, tal tranqüilidade debaixo dela, ninguém para
me perturbar, que não pude passar por ela sem me sentar debaixo dela por algum
tempo. E aqueles momentos de paz, acho que às vezes devo ter ficado por todo o
dia.
Após
alguns poucos desapontamentos eles pensaram, É melhor não importuná-lo. E eu
fiquei imensamente feliz por eles terem aceito o fato de que eu sou um quase
não-existente. Isso me deu uma tremenda liberdade. Ninguém esperava nada de
mim. Quando ninguém espera nada de você, você fica em um silêncio... O mundo
lhe aceitou; agora não há nenhuma expectativa de você.
Quando,
às vezes, eu chegava tarde em casa, eles costumavam me procurar em dois
lugares. Um era na árvore bodhi - e devido a que eles começaram a me procurar
sob a árvore bodhi , eu comecei a subir na árvore e sentava no topo dela. Eles
vinham e olhavam ao redor e diziam: Parece que ele não está aqui. E eu dizia
pra mim mesmo; sim, isto é verdade. Eu não estou aqui.
Mas logo
me encontraram, porque alguém me viu subindo e contou pra eles; Ele tem
enganado vocês. Ele sempre esteve aqui, a maior parte do tempo sentado na
árvore - assim eu tinha que ir um pouco mais longe.
Havia
um cemitério Maometano...
Aqui as
pessoas normalmente não vão aos cemitérios. È claro, todos terão que ir uma
vez, mas exceto isso, as pessoas não gostam de ir ao cemitério. Então aquele
era um lugar muito silencioso... porque os mortos não falam, eles não criam
inconvenientes, eles não perguntam a você questões desnecessárias, eles nem
mesmo perguntam quem é você ou por apresentações.
Eu
costumava ficar sentado no cemitério Maometano. Era um lugar enorme, com muitas
covas, com árvores, árvores muito frondosas. Quando meu pai veio a saber que eu
estava sentado lá, ele disse: Isso é demais! Ele veio um dia ao meu encontro e
disse: Você pode se sentar na árvore bodhi ou debaixo da árvore bodhi e ninguém
irá lhe perturbar. Isso é demais, isso é perigoso - e de fato, quando alguém
vai para o cemitério ele deveria tomar banho e trocar de roupa. Você fica
sentado aqui o dia todo e às vezes à noite, e quando chega em casa nós não
sabemos de onde você está vindo.
Isto é
comum, que quando você chega do cemitério... Ordinariamente ninguém vai lá a
menos que seja mandado, e eles têm que ir; então, relutantemente eles vão. Do
cemitério, as pessoas normalmente vão direto para o rio tomar um banho, trocar
de roupas, e só então, eles entram em casa. Assim meu pai falou: Eu não sei há
quanto tempo você vem fazendo isso.
Eu disse:
Desde de que vocês me perturbaram na árvore bodhi. Eu tive que encontrar outro
lugar... E eu disse a ele: Até mesmo você pode desfrutar disso de vez em
quando. Quando se sentir cansado e muito tenso, venha aqui - nenhum morto
perturba ninguém.
Ele
disse: Não fale comigo sobre os mortos - e particularmente num túmulo
Maometano... Maometanos são pobres; seus túmulos são túmulos de lama. Quando
chove, às vezes um cadáver aparece. A lama é lavada e você pode ver o cadáver -
a cabeça de alguém aparece, a perna de alguém é mostrada. Ele disse: Nunca me
diga para ir aí. Somente a idéia de que um dia estarei em tal posição, com
minha cabeça aparecendo fora do túmulo, me faz sentir tão amedrontado...você é
um menino estranho!
Eu disse:
Que há de errado nisso? O pobre companheiro está morto, ele não pode fazer
nada. Está chovendo, ele não pode conseguir um guarda-chuva, o que ele pode
fazer? Se uma de suas pernas aparece, o que ele pode fazer? Ele não pode
puxá-la - se ele a puxar para dentro, assim também haverá problema, então ele
se mantém em silêncio e deixa as coisas serem como elas são.
Um amor
de silêncio e um amor de estar ausente me ajudou tão tremendamente que posso
entender quando ele diz: Sempre funcionando mas não-existente - a indiferença mental
de que falo agora não está separada de ter mente. Estas não são palavras para
enganar pessoas.
Ta Hui
está dizendo: Não estou usando estas palavras para enganar ninguém; não estou
tentando mostrar meus conhecimentos; não estou tentando fingir que sou mais
culto que você. Estou dizendo essas palavras apenas para compartilhar minha
experiência de que a não-mente e a mente podem existir juntas. Nenhum método
repressivo deveria ser usado, somente pura observação... e bem lentamente a
mente perde todo o conteúdo. Ela se torna não-mente.
Assim,
indiferença mental e mente não são separadas. Indiferença mental é mente sem
qualquer conteúdo, sem qualquer pensamento. É apenas como um espelho não
refletindo coisa alguma.
O
silêncio de ser um espelho não refletindo coisa alguma é a maior bênção que a
existência permite o homem ter. E de lá, as coisas vão se expandindo -
mistérios sobre mistérios... sem questões, sem respostas, mas tremendas
experiências... nutrindo, preenchendo, dando contentamento a alma faminta a
qual esteve vagando por vidas e vidas.
É hora de
parar essa peregrinação.
Existe um
método simples para parar essa peregrinação, que é começar a observar sua
mente, seu corpo, suas ações. O que quer que você esteja fazendo ou não
fazendo, você tem que estar alerta de uma coisa - que você está observando. Não
perca o observador - então não importa se você é um Cristão ou um Hindu ou um
Jainista ou um Budista.
O
observador não é ninguém. É somente consciência pura.
E somente
esta consciência pura pode trazer uma nova humanidade, um novo mundo, onde as
pessoas não irão discriminar uma contra a outra por razões estúpidas. Nações,
raças, religiões, doutrinas, ideologias - são coisas somente para crianças
brincarem com elas, não para pessoas maduras. Para pessoas amadurecidas há
somente uma coisa na existência; e isso é vigilância.
Um monge
está indo pregar a mensagem de Gautama Buda. Ele mesmo ainda não está
iluminado; eis porque Gautama Buda o chama e lhe diz: Lembre-se, tenho que
dizer isso porque você ainda não está iluminado... você é eloqüente, você fala
bem, você pode espalhar a mensagem. Você pode não ser capaz de plantar as
sementes mas você pode ser capaz de atrair algumas pessoas para vir até mim -
mas use também esta oportunidade para seu próprio crescimento.
O monge
perguntou: Que posso fazer, como posso usar esta oportunidade?
E Buda
disse: Há somente uma coisa que pode ser feito em cada oportunidade, em cada
situação, e isso é observação. Você, às vezes, irá encontrar pessoas irritadas
com você, raivosas, porque você feriu suas ideologias, suas doutrinas, seus
preconceitos. Permaneça silencioso e alerta. Pode haver dias que você não
obterá comida porque as pessoas estão contra você, eles não vão lhe dar nem
mesmo água. Observe... observe sua fome, observe sua sede... mas não fique
irritado, não fique aborrecido. O que você irá ensinar as pessoas é menos
importante do que sua própria observação.
Se você
voltar para mim atento, ficarei imensamente alegre. Não importa quantas pessoas
você abordou; não importa para quantas pessoas você falou. O que importa é se
você finalmente chegou em casa, se você mesmo encontrou as bases sólidas do
testemunhar. Então tudo mais é insignificante.
Esta é a
única meditação que existe; todas as outras meditações são variações do mesmo
fenômeno.
Osho, The
Great Zen Master Ta Hui, Chapter 28
Reblogado do
website Osho