Joanna de Ângelis
A morte, sempre detestada, especialmente quando
chega interrompendo a infância e a juventude, ou mesmo quando se encarrega de
arrebatar os afetos que constituem estímulos à luta e exemplos de coragem e
dignidade, prossegue incompreendida e malsinada.
Anelada pelos desesperados, que esperam com o seu
concurso encerrar a existência que se lhes apresenta como desfavor ou castigo,
é evitada, a todo custo, pelos que desfrutam das alegrias e dos prazeres,
transferindo-a para um futuro que esperam não seja alcançado rapidamente.
Frutos do materialismo ambos os comportamentos, ou
da pobreza religiosa que não dispõe de recursos para assegurar a confiança na
imortalidade, a desencarnação permanece como um grande enigma para os
viandantes da esfera carnal.
Envolta em mistério pela tradição cultural de
muitos povos, ou significando gesto de estoicismo e de valor, na expectativa de
recompensas no Além, surge, no suicídio, como um recurso valioso para a glória
daquele que se permite a covarde fuga dos elevados compromissos, especialmente
quando esse gesto tem caráter religioso ou político, ceifando outras vidas...
O terrorismo internacional encontrou nesse terrível
engano, o gatilho para destruir existências louçãs, estimulando o crime
hediondo, mediante falsas promessas de júbilos e de prazeres inexcedíveis no
mundo espiritual, como se o suicídio ampliado em homicídio merecesse recompensa
ao invés de punição.
A morte, no entanto, é o encerramento da injunção
biológica, nas suas sucessivas transformações, colocando reticências numa fase
do processo da vida, ao tempo que faculta a abertura de um portal pra o triunfo
na imortalidade.
É compreensível que se busque aproveitar ao máximo
a oportunidade carnal, ampliando o tempo e as condições favoráveis à existência
planetária, tendo-se, porém, na mente que, por mais se prolongue esse périplo,
momento surgirá em que será naturalmente interrompido, graças aos mais
diferentes fatores que lhe sejam a causalidade.
A vida certamente não gastaria mais de dois bilhões
de anos para organizar as moléculas desde as mais primárias até os complexos
mecanismos cerebrais como os de outros órgãos, para, num determinismo trágico,
logo as destruir, aniquilando-as nas suas transformações químicas e biológicas.
Desse modo, a morte é um portal de acesso a outra
dimensão de onde a vida se originou, a fim de ser realizado um objetivo adrede
estabelecido que é o aperfeiçoamento intelecto-moral do Espírito, na busca da
plenitude.
Desagregam-se as partículas e reoganizam-se,
incessantemente, obedecendo a leis desconhecidas que lhes trabalham a essência
dentro de uma programação clara a e lógica denominada vida.
Por que o ser humano deveria aniquilar-se, quando
os fatos comprovam amiúde a sua sobrevivência?
Para aqueles que somente veem o lado hedonista da
existência, o ideal seria que a morte lhes significasse o término de todos os
esforços e lutas, anulando-os no nada. Como, porém, o nada não existe, não
passa de uma concepção existencialista sem qualquer fundamento científico...
Morte, portanto, é prosseguimento da vida.
* * *
A angústia provocada pela morte de um ser querido é
compreensível e justa, em razão da ruptura dos liames da afetividade firmada na
convivência, no contato físico, na estruturação do grupo social. Não, poucas
vezes, transforma-se em desalento, perda de sentido existencial daquele que
fica no corpo, empurrando-o para os transtornos graves da depressão...
Nada obstante, cultivada a certeza do
prosseguimento da vida, a saudade é substituída pela esperança do reencontro,
das evocações felizes que devem preencher os espaços vazios e a ternura de
todos os momentos ditosos, transformando-se em estímulo para as ações
dignificantes em memória daquele que viajou antecipadamente....
A morte é, portanto, um fenômeno natural e
abençoado que encerra largos processos de sofrimento, de desvitalização, de
perturbações emocionais e mentais, de enfermidades degenerativas e dolorosas,
alargando os horizontes da vida em novos mecanismos antes adormecidos.
Vivendo-se num universo onde tudo se transforma em
incessantes mecanismos de energia vigorosa, o ser humano é o resultado da mais
avançada tecnologia transcendental, elaborado por Deus e pelos Seus excelsos
programados da vida, a fim de que alcance o nível de luminosidade, num retorno
à Causa que o originou.
O essencial é viver-se no corpo com todo o respeito
pela sua organização e pelos mecanismos emocionais e mentais, intelectualizando
a matéria, que se tornará menos densa e penosa no processo de
evolução.
Todos os desafios e incertezas, dificuldades e
problemas constituem instrumentos pedagógicos que promovem o progresso,
ensejando o conhecimento libertador da ignorância, ao mesmo tempo facultando a
edificação dos sentimentos superiores em direção a todas as criaturas.
Uma existência humana é grande investimento da
Divindade que a elaborou, tendo por meta o seu crescimento moral e espiritual,
na superação dos atavismos do comportamento inicial, para alcançar os patamares
sublimes da perfeição relativa que lhe está destinada desde o começo.
Os instintos, que são uma forma de inteligência
embrionária, alcançarão o nível de sentimentos edificantes, deixando, à margem,
as paixões primitivas e defensivas para permitir que o amor reine soberano em
todos os seus pensamentos e atos.
Viver, pois, no corpo, não é apenas
experienciar-lhe as sensações básicas e primárias; sobretudo, é vivenciar os
sublimes sentimentos da paz e da fraternidade que devem viger entre todos os
seres humanos.
Tarefa ingente e inadiável essa, convocando todos
ao esforço da transformação moral para melhor, num infatigável trabalho de
autoiluminação.
Eis porque o Espiritismo propõe o sentido
psicológico da existência humana, que pode ser reduzido a três fatores
essenciais: o amor em todos os seus aspectos, o trabalho de dignificação
pessoal e da sociedade, e, por fim, a transformação de qualquer tragédia –
mortes prematuras, processos de injustiça, doenças irreversíveis, dificuldades
econômicas e acontecimentos infelizes – em triunfo pessoal no largo jornadear
pelas sinuosas estradas físicas, como prescrevia o admirável psiquiatra
austríaco Viktor Frankl.
Desse modo, quando ocorre a morte, de maneira
alguma será interrompido o processo de crescimento do Espírito, tornando-se um
renascimento em outra dimensão, qual sucede com a reencarnação, que pode ser
considerada como uma forma de morte no arcabouço material.
* * *
Não te desesperes ante o falecimento de um ser
querido, que parece haver-te abandonado...
Ele viajou de retorno ao Grande Lar, onde te
aguarda com ternura e gratidão.
Se foste feliz ao seu lado, recorda-te de todos os
momentos de júbilo e envolve-o em evocações afetuosas e de gratidão. Nada
obstante, se foi causa de muitos padecimentos, agradece a Deus a felicidade de
haveres resgatado os teus débitos para com ele, e prossegue adiante firmado em
valores positivos de homenagem à vida.
Tudo vibra, tudo vive, e o ser humano jamais morre.
Joanna de Ângelis.
Psicografia de Divaldo Pereira
Franco, no dia 7 de junho de 2011, na residência de Josef Jackulak, em Viena,
Áustria.
Em 27.01.2012.
Reblogado do website Divaldo Franco
Link desta mensagem: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=268
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