quinta-feira, 26 de junho de 2014

EMBAIXADORES DO REINO

A sinfonia da Boa Nova encontrava-se no auge da sua musicalidade, enternecendo os corações antes em angústia e confortando as mentes que se encontravam desarvoradas. 

Em toda parte, no abençoado solo de Israel, o doce canto penetrava a acústica das almas, da mesma forma que o sândalo suavemente é absorvido por qualquer superfície porosa. 

Tratava-se de uma epopeia que atingia o clímax e nunca mais se repetiria na Terra, jamais igualada em todo o seu esplendor. 

A passagem iridescente por onde Ele deambulava, enriquecia-se de belezas espirituais e uma permanente aragem de esperança e de paz permaneceria assinalando as ocorrências ditosas. 

Em madrugada que se fazia bordada de luz, Ele reuniu os Seus, em Cafarnaum, às margens do mar-espelho, e lhes explicou ternamente como seria o programa de engrandecimento moral que estava traçado para toda a Humanidade. 

Era necessário empreender a desafiadora façanha de informar às gentes de todo lugar o seu conteúdo invulgar. 

Na Sua condição de rei, deveria visitar as regiões bravias e difíceis de comunicação, nas quais necessitava instalar os alicerces do reino, para tanto, enviaria embaixadores que se encarregariam de anunciá-lO, de abrir clareiras nas selvas dos sentimentos devastados pelas paixões primárias, proporcionando espaços para a fixação dos pilotis do amor e da compaixão, sobre os quais seria erguido o altar da caridade. 

Aqueles eram dias de egoísmo, de soberba, de intérminas batalhas nas quais predominavam os ódios e as rixas perversas. 

O ser humano era escravo dos dominadores mais astutos e impiedosos, que os submetiam ao talante das suas misérias morais interiores. 

Não brilhava o sol da esperança e muito menos a doce possibilidade de compaixão. 

A miséria espiritual transbordava, e as pessoas encontravam-se submetidas aos preconceitos, às situações, de penúria e de abandono. 

De certo modo, ainda hoje é quase assim...

O processo da evolução íntima do Espírito, que deve abandonar o primarismo de onde procede, na busca dos alcantis do infinito, é longo e penoso... 

Envolvendo os discípulos selecionados para o mister especial, tocou-os, um a um, transmitindo-lhes a santificada energia que O caracterizava, e esclareceu: 

-Ide em paz e com irrestrita confiança no Pai. 

Nunca temais, seja o que for, porquanto estais investidos do mandato superior e conseguireis avançar imunes às agressões, às picadas dos escorpiões e das serpentes que ficarão esmagados sob vossos pés, enquanto as vossas vozes calarão a agressão dos Espíritos perversos, zombeteiros e causadores do pânico nas multidões desavisadas... 

Seguireis amparados pelas legiões angélicas, encarregadas de trabalhar a Humanidade e nela renascer através dos séculos para recordar e ampliar as sublimes propostas que apresentareis. 

Inspirar-vos-ão e ouvir-vos-ão, num contínuo intercâmbio de amor. 

Ninguém terá como silenciar-vos as vozes, e todos se vos submeterão ao canto incomparável com as revelações da verdade... 

Depois, eu próprio vos seguirei, fixando as estrelas do Evangelho no zimbório das almas em escuridão. 

Abençoo-vos em nome de meu Pai e despeço-me em paz.
*   *   *
Eram setenta discípulos preparados para a propaganda e difusão da Sua mensagem insuperável. Estavam assinalados pela autoridade moral e identificados pelo profundo sentimento de fraternidade. 

Haviam renascido para participar da grandiosa envergadura espiritual e deveriam trabalhar enriquecidos pela alegria inaudita do bem fazer. 

Quando o Sol diluía nas águas doces e transparentes do mar os seus raios de ouro disparados com certeira pontaria, eles partiram em cânticos de júbilos...
*   *   *
A partitura imensa, na qual estavam grafadas as harmonias da Boa Nova, alcançava aldeias humildes e cidades orgulhosas, perpassavam pelos caminhos impérvios e se expandia pelas estradas bem cuidadas, em perfeita identificação com o Cantor, onde quer que se encontrasse. 

A sociedade terrestre sempre aflita e sofrida, que transpirava horror e decomposição espiritual, passou a receber o bálsamo sarador e a força revigorante para que pudesse superar a difícil conjuntura do seu estágio primitivista. 

Ele inaugurava, naqueles dias, a era das provas e expiações, proporcionando os recursos valiosos para que se pudessem suportar as dificuldades da evolução. 

O largo período de selvageria e impiedade cederia lugar lentamente a uma fase nova de esperança e de certeza de paz.*

Os dias correram céleres na ampulheta do tempo e os embaixadores desincumbiram-se da responsabilidade que lhes foi concedida. 

Num entardecer de sol desfiando plumas de luz de cor variada, eles retornaram exultantes. 

Diante da multidão, na mesma praia de Cafarnaum, de onde saíram, eles se apresentaram e depuseram: 

Em toda parte proclamamos a Era Nova, explicando que um reino de paz se acercava, iniciando-se no coração do ser humano, e que avançará ditoso no rumo do futuro feliz. 

Desafiados por saduceus hipócritas e pretorianos insensíveis, perseguidos por fariseus fanáticos e cínicos, assim como pela malta sempre revoltada, demonstrando o poder que nos foi conferido, curamos as suas mazelas em nome do nosso Rei, submetemos Espíritos vingativos, saramos feridas, restituímos visão aos cegos, audição aos surdos, movimentos aos paralíticos e alegria aos tristes em momentos de inconfundível ligação com Deus. 

Nenhum mal nos aconteceu, e sempre conseguimos anunciar o amanhecer de um novo tempo com os olhos iluminados pela alegria e os corações pulsando felicidade. 

Algumas cidades de prazer e de loucura gargalharam das nossas palavras, mas sempre encontramos infelizes à espera de compaixão e de ajuda. 

Vimos rostos desfigurados pela lepra sorrir de alegria e vidas despedaçadas recompor-se ao toque da esperança. 

A vossa palavra em nossas bocas soava como cânticos nunca dantes enunciados ou ouvidos e nossas presenças tornaram-se fortaleza para os fracos e apoio para os oprimidos.

Estão lançadas as balizas do reino que Vos pertence, Senhor! 

Jubiloso,o Rabi sábio novamente os abençoou, e dirigindo-se à massa em expectativa emocionada, lamentou: 

Ai de ti, Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidon se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. 

Contudo, no juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidon, do que para vós outras. 

Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até o céu? Descerás até o inferno? 

Leve palor tomou-Lhe a bela face, como resultado da percepção de que as grandiosas Corazins e Betsaidas do futuro, por largo período prefeririam o bezerro de ouro àave de luz do Seu amor.
*
Passaram-se muitos séculos. Seus embaixadores continuam renascendo em todas as épocas, proclamando a Boa Nova, e os ouvintes permanecem moucos com os sentimentos enregelados nas paixões vergonhosas. 

Em consequência, acumulam-se as nuvens borrascosas na imensa Galileia moderna, a Sua voz continua chamando vidas para o Seu reino, enquanto o corcel rápido da fantasia e da luxúria, é conduzido pelos seus cavalgadores na direção dos abismos... 

Ai de vós, que tendes ouvido e visto o amanhecer de bênçãos e optais pela triste noite de pesadelos e de horror! 

Os embaixadores estão ao vosso lado: cuidai de ouvi-los, quando se inicia o período de regeneração da Humanidade! 


Amélia Rodrigues

Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na reunião da noite de 16 de
julho de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 2.1.2013.

Reblogado do website Divaldo Franco

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