Enquanto a balada do Evangelho derramava alegrias
nas mentes ingênuas e nos corações sofridos das massas, as multidões se
acotovelavam e se empurravam para vê-lO, tocá-lO, estarem perto dEle.
Todos aqueles que tinham dificuldades e problemas
viam em Jesus o seu libertador, e nEle depositavam sua confiança, sua
ansiedade.
Ele passeava o olhar compassivo, e em todos
infundia ânimo e esperança, confortando-os com ou sem palavras através da
irradiação do Seu psiquismo e da Sua ternura incomparáveis.
Simultaneamente porém, a noite que predominava nos
corações dos opressores e governantes impiedosos, dos dominadores de um dia,
dos religiosos presunçosos e ricos de inveja, dos cobiçosos, de todos aqueles
que somente desfrutavam de primazias e honras, temendo perdê-las, preparava o
caldo de cultura do ódio, para infamá-lO, para O pegarem em alguma contradição,
cujas armadilhas estabeleciam com cinismo e sofismas bem urdidos. Mas Jesus os
conhecia e se fazia inalcançável às suas tricas farisaicas hediondas e venais.
Aumentava o número daqueles que se beneficiavam com o Seu socorro e crescia a
onda que se propunha afogá-lO nas suas águas torvas e iníquas.
* * *
A sinagoga era lugar de orações e recitativos da
Lei, de unção, de companheirismo... mas também de encontros para a sordidez e a
vingança, para a sedição e a perversidade. Ali se refugiavam o orgulho e a
presunção, que a governavam, ditando regras de bom proceder para o povo
necessitado.
Entre eles, os que se permitiam todos os
privilégios, tornavam-se conhecidos pelas suas mesquinharias e fraquezas, os
seus comportamentos vis e perturbadores, que sabiam disfarçar diante daqueles
que os ouviam e respeitavam, embora eles não se respeitassem a si mesmos, pois
que se isso ocorresse, impor-se-iam outra conduta moral.
Assim sendo, como sempre que Lhe era possível O
fazia, Jesus entrou de novo numa sinagoga. Havia ali um homem que tinha a mão
paralisada.
* * *
A multidão que ora O seguia já não era somente de
galileus e de sírios, mas também de judeus, de Jerusalém, de Tiro, de muitas
partes, atraída pelo Seu verbo e pela Sua força de libertação. Lá fora, na
paisagem irisada de luz, as anêmonas balouçavam nas hastes frágeis e violetas
miúdas derramavam perfume nos rios do vento que o conduz por toda parte.
A astúcia dos Seus adversários esperava que Ele se
propusesse a curar no sábado, a fim de terem motivo para prendê-lO por desacato
à Lei que estabelecia o repouso nesse dia. O Mestre conhecia-lhes a intimidade
dos sentimentos ultrizes e a vileza moral em que se debatiam. Por isso mesmo,
não os temia, antes compadecia-Se da sua miséria espiritual. Jesus disse ao
homem que tinha a mão mirrada: - Levanta-te! Vem para o meio.
Convidar para o centro é dignificar o ser humano,
que vive atirado na margem, ignorado, desrespeitado e esquecido. Essa é uma
forma de restituir a identidade de criatura que merece respeito e carinho. Ante
o espanto natural e a possibilidade de Ele ferir os costumes legais, ouviram-nO
interrogar:
- Que é permitido no dia de Sábado, fazer o bem ou
fazer o mal? Salvar um ser vivo ou matá-lo?
Mas eles ficaram calados. A pusilanimidade deles
não corria risco de perder-se, tomando uma definição. Esses cruéis
perseguidores são de sentimentos elevados mortos, quais sonâmbulos com ideias
fixas no ódio e na incúria. Ficar calado é assentir sem comprometer-se, tendo
chance de assumir outra posição, aquela que seja mais conveniente. Passando à
volta de si um olhar de cólera sobre eles, entristecido pelo endurecimento de
seus corações, disse ao homem: - Estende a mão. Ele a estendeu e a mão ficou
curada.
Nesse episódio a paranormalidade do Mestre é
novamente evidente. Ele tem o poder de restaurar os tecidos, influenciando o
campo modelador da forma física, trabalhando nas células com a Sua mente
extraordinária. A mão mirrada é também símbolo que encontra respaldo nas
pessoas que nunca abrem o coração para ajudar, dando-lhe movimento de
fraternidade. Ela fica mirrada por falta de ação dignificante e operosa,
perdendo a finalidade para a qual foi elaborada pelo Pensamento Divino.
O encontro real com Jesus permite que retome a sua
forma, tornando-se igual à outra, àquela que não foi atingida pela
circunstância punitiva. Depois de se retirarem – deixando-os boquiabertos e
invejosos – os fariseus deliberaram com os herodianos contra Jesus acerca dos
meios de matá-lO.
Os pigmeus morais, impossibilitados de crescer
espiritualmente para alcançar os missionários do bem e do amor, arquitetam
planos para destruí-los, ignorando que não se destroem valores humanos com
artimanhas que jamais alcançam a realidade dos seres.
Esses perseguidores são almas mirradas, sem ideais
nem nobreza, perdidos no tempo e que naufragaram no egoísmo, debatendo-se nas
suas malhas, sem conseguir libertação. Pertencem a todos os tempos e caminham
ao lado dos construtores da dignidade humana, a fim de prová-los, de os
submeter ao seu cadinho purificador. Transformam-se em testes de resistência
para os homens e mulheres que anelam pelo mundo melhor e se doam a essa causa.
São duros de coração, que não se enternece, nem se
comove. O órgão vibra e impulsiona o sangue, mas nada tem a ver com a
emotividade, com os sentimentos de beleza e de fraternidade. Terminam por
tornar-se carcereiros de si mesmos, enjaulando-se nas celas da indiferença que
os entorpece e mata.
Jesus os defrontará com mais assiduidade, porém,
sem atribuir-lhes qualquer significado ou considerar-lhes a distinção que se
permitem, aumentando neles o ódio e a perseguição. Eles passam e a vida os
esquece, mas não se olvidam de como agiram, de como são e do quanto necessitam
para a reedificação.
Há muitas mãos mirradas na sociedade dos dias
atuais. Perderam a função superior e estiolaram as fibras que as constituem no
jogo apetitoso dos interesses inferiores. Encontram-se no centro dos grupos,
experimentam destaque, mas não são atuantes no bem nem na compaixão para
receber os que eles mesmos expulsaram do seu convívio e ficaram na
marginalidade.
Agora constituem o grupo dos antigos fariseus e
herodianos, que sempre a usavam para perseguir e matar. Trouxeram-na
internamente mirrada, embora o exterior seja normal e atraente. Estão
imobilizadas no cimento em que se encarceraram, aguardando Jesus, para
chamá-los ao meio e curá-los.
Amélia Rodrigues
Psicografia
de Divaldo Pereira Franco,
no dia 18 de julho de 2000, em Paramirim, Bahia.
Publicada no Jornal Mundo Espírita de janeiro de
2001.
Em 16.01.2012.
(*) Marcos-3:1-6.
Nota da Autora espiritual.
Reblogado do website: Divaldo Franco
Link desta mensagem: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=264
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