A senhora
vivia num bairro elegante, no último andar do edifício que mandara construir.
Rica, em
plena madureza orgânica, fruía a felicidade transitória que os bens materiais
podem proporcionar.
Cercada por
amigos, que também eram seus inquilinos, gozava o prazer, descansava, vivia
regaladamente sem preocupações.
O esposo,
que era médico em outra cidade, volvia ao lar somente nos fins de semana. O
filho, já adulto e casado, visitava-a com frequência. Possuidor de caráter
violento, instava com a genitora para que ficasse com um revólver, a fim de
defender-se de algum delinquente. Esclarecia que ela vivia praticamente a sós,
num apartamento com peças e joias de alto preço, e o revólver podia tornar-se
um providencial amigo, num momento em que fosse surpreendida por algum bandido.
A senhora se
escusava aceitar a oferta, enquanto o filho insistia.
Por
fim, aquiesceu.
Guardou a
arma carregada com o firme propósito de não a utilizar nunca.
No mesmo
bairro havia uma favela.
Quando
algumas crianças do atormentado núcleo humano descobriram a piscina elegante do
luxuoso edifício, passaram a fazer sortidas ocultas, a princípio, depois, menos
formalmente, quando lhes aprazia.
Os
inquilinos protestaram, a polícia foi notificada, no entanto, a criançada
maltrapilha insistia, burlava a vigilância, perturbava...
Informada
pelas constantes reclamações, a senhora desculpava os menores, sorria, prometia
tomar novas providências.
Como as
queixas prosseguissem, saturou-se, entrando em estado de irritação.
Certa manhã
em que as pessoas saíram para as suas tarefas externas, a senhora se deu conta
da burla infantil, da algazarra, no térreo, veio à varanda, e, ao contemplar a
alacridade e tumulto dos pequenos, desequilibrou-se.
Gritou,
xingou, ameaçou... Nada conseguiu.
A meninada
redobrou doestos e mergulhos nas águas tratadas.
Recordou-se
do revólver. Foi buscá-lo com o fim de os assustar.
Mostrou-lhes,
do alto, a arma, e voltou a ameaçá-los.
Ante o
objeto perigoso as crianças debandaram, amedrontadas.
A dama
sorriu, compreendeu a validade da arma e pôs-se a correr pelas varandas
externas que circundavam o apartamento.
Descobrira
uma forma exitosa para afugentar o aborrecimento.
Nesse
ínterim, tropeçou e caiu.
A
arma disparou.
A bala
ricocheteou na borda da piscina e alcançou um pequeno de oito anos que teve
morte instantânea.
Desespero,
angústia, presença policial.
Foi
indiciada, julgada e condenada.
Os jornais
fizeram estardalhaço.
A defesa não
conseguiu provar o acidente.
A dama foi
encarcerada por largos anos e uma criança teve a vida ceifada, graças à
desnecessária presença da arma perigosa.
* * *
Não te armes
com os instrumentos que geram o crime e a desgraça.
Unge-te de
fé e defender-te-ás.
Quem crê em
Cristo já passou da morte para a vida.
O mal nunca
faz bem.
Não guardes
contigo perigos desnecessários.
Ignotus
Psicografia de Divaldo Pereira Franco.
Em 23.01.2011.
Psicografia de Divaldo Pereira Franco.
Em 23.01.2011.
Reblogado do website Divaldo Franco
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