Conta-se que um andarilho caminhava penosamente ao longo de uma estrada. Estava oprimido por fardos de todo tipo.
Carregava
um pesado saco de areia pendurado nas costas e uma grossa mangueira cheia de
água enrolada em seu corpo. Em volta do pescoço, uma antiga pedra de moinho
balançava.
Correntes
enferrujadas, com as quais arrastava grandes pesos pela areia empoeirada,
estavam enroladas em seus tornozelos. Sobre a cabeça, o homem equilibrava uma
abóbora apodrecida.
Um
fazendeiro o encontrou no caminho e perguntou: Exausto andarilho, por
que carregas contigo essa pedra?
Eu
não havia reparado nela antes, respondeu o
viajante. Dito isso, jogou fora a pedra e sentiu-se muito mais leve.
Novamente,
depois de ter percorrido um longo trecho da estrada, outro fazendeiro
encontrou-se com ele e perguntou: Diz-me, viajante, por que te
atormentas com uma abóbora podre na cabeça e por que arrastas atrás de ti
aquelas pesadas bolas de ferro?
O
andarilho disse: Estou muito grato por me teres feito perceber. Eu não
me havia dado conta do que estava fazendo a mim mesmo.
Assim,
retirou as correntes e lançou fora a abóbora. Outra vez, sentiu-se aliviado.
Pouco
a pouco, contando com o auxílio de pessoas que cruzavam seu caminho, o viajante
foi se conscientizando dos pesos que carregava.
Assim,
rompeu a mangueira e derramou a água salobra sobre o caminho. Depois, cobriu um
buraco com a areia que trazia consigo.
Pensativo,
observando o poente, sentiu os últimos raios solares que o abraçavam.
Finalmente, desvencilhou-se de todos os fardos que carregava, jogando-os tão
longe quanto pôde.
Liberto
de suas cargas, seguiu adiante, no fresco entardecer, em busca de alojamento.
* * *
Quais
são os pesos que carregamos no curso de nossas jornadas? E mais: por que os
carregamos?
Por
vezes, permitimo-nos ser tomados pelo peso da culpa. Esquecemos de que Deus é
todo Bondade e Misericórdia e possibilita que, no devido tempo, acertemo-nos
com a suprema Lei, que a todos e a tudo rege.
Em
outras circunstâncias, carregamos o peso da vergonha, da baixa autoestima,
especialmente quando tantos nos são os padrões de beleza impostos: o peso
ideal, os cabelos sedosos, a simetria perfeita.
Ainda,
o peso da ostentação: redes sociais repletas de seguidores, fotografias ideais,
felicidades artificiais. É a vida virtual cada vez mais distante da vida real.
Nunca estivemos tão conectados, nunca estivemos tão solitários.
Além
disso, muitas vezes carregamos o custoso peso das necessidades materiais:
trata-se do dinheiro que, em muitos casos, sobrepuja o valor de uma amizade, de
um amor e, até mesmo, de uma vida.
* * *
Afirma
o poeta francês André Breton: Não se deve carregar os pensamentos com o
peso dos próprios sapatos.
Façamo-nos
mais leves. Esvaziemos nossos corações de fardos desnecessários: mágoas,
inveja, ingratidão, intolerância, preconceitos.
Carreguemos
em nosso íntimo aquilo que realmente necessitamos para marcharmos em direção ao
Criador: amor, caridade, fé, benevolência, paz.
Pensemos
nisso! Façamos isso!
Redação
do Momento Espírita, com adaptação de conto da obra O
Mercador e o Papagaio, de Nossrat Peseschkian, editora Papirus, e com citação
final de autoria de André Breton. Em 7.5.2020.
Fonte: Momento Espírita
http://momento.com.br/
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