Joanna de Ângelis
A
alucinação midiática, a serviço do mercantilismo de tudo, vem, a pouco e pouco,
dessacralizando o ser humano, que perde o sentido existencial, tombando no
vazio agônico de si mesmo.
Numa
cultura eminentemente utilitarista e imediatista, o tempo-sem-tempo favorece a
fuga da autoconsciência do indivíduo para o consumismo tão arbitrário quão
perverso, no qual o culto da personalidade tem primazia, desde a utilizaçào dos
recursos de implantes e programas de aperfeiçoamento das formas, com
tratamentos especializados e de alto custo, até os sacrifícios cirúrgicos
modificando a estrutura da organização somática.
O
belo, ou aquilo que se convencionou denominar como beleza, é um dos novos
deuses do atual Olimpo, ao lado das arbitrariedades morais e emocionais em
decantado culto à liberdade, cada vez mais libertina.
A
ausência dos sentimentos de nobreza, particularmente do amor, impulsiona o
comércio da futilidade e do ilusório, realizando-se a criatura enganosamente
nos objetos e utensílios de marca, que lhe facultam o exibicionismo e a
provocação da inveja dos menos favorecidos, disputando-se no campeonato da
insensatez.
Em
dias de utopia, nos quais se vale pelo que se apresenta e não pelo que se é, o
eto convencional, os ideais que dignificam e trabalham as forças normais cedem
lugar aos prazeres ligeiros e frustrantes que logo abrem espaço a novas
mentirosas necessidades.
O
cárcere do relógio, impedindo que se vivencie cada experiência em sua plenitude
e totalidade, sem saltar-se de uma para outra apressadamente, torna os seus
prisioneiros cada vez mais ávidos de novidades, por se lhes apresentar o mundo
assinalado pela sua fugacidade.
Exige-se
que todos se encontrem em intérmino banquete de alegrias, fingindo conforto e
bem-estar nas coisas e situações a que se entregam, distantes embora da
realidade e dos significados existenciais.
A
tristeza, a reflexão, o comedimento já não merecem respeito, sendo tidos como
transtornos de conduta, numa exaltação fantasiosa e sem limite em relação aos
júbilos destituídos de fundamentos.,
Certamente,
não fazemos apologia desses estados naturais, mas eles constituem pausas necessárias
para refazimento emocional nas extravagâncias do cotidiano.
Sempre
quando são recalcados e não logram conscientização, inevitavelmente se
transformam em problemas orgânicos pelo fenômeno da somatização.
Muito
melhor é a vivência da tristeza legítima e necessária, em caráter temporário,
do que a falsa alegria, a máscara da felicidade sem conteúdos válidos.
Nesse
contubérnio infeliz, tudo é muito rápido e passa quase sem deixar vestígio da
sua ocorrência.
O
agora, em programação de longo alcance, elaborado ao amanhecer, logo mais, à
tarde, transforma-se em passado distante, sem recordações ou como impositivo de
esquecimento para novas formulações prazerosas.
Quando
não se vivencia o presente em sua profundidade, perdem-se as experiências que
ficaram arquivadas no passado. E todo aquele que não possui o passado nos
arquivos da memória atual é destituído de futuro, por faltarem-lhe alicerces
para a sua edificação.
Nessa
volúpia hedonista, o egotismo governa as mentes e condutas, produzindo o
isolamento na multidão e a solidão nos escaninhos da alma.
Todo
prazer que representa alegria real impõe um alto preço pela falta de
espontaneidade, pela comercialização dos seus valores e emoções.
* *
*
Não
seja de estranhar-se que a juventude desorientada, sempre arrebatada pela
música de mensagem rebelde e agressiva, de conteúdo deprimente e aterrorizante,
com a INTERNET exibindo as imagens de adolescentes suicidas em demonstração de
coragem e desprezo pela vida, ignore as possibilidades de um futuro risonho,
que lhe parece falacioso.
Os
esportes que os gregos cultivavam, assim como outros povos, como meios de
recreação, arte e beleza – exceção feita aos espetáculos grosseiros nos circos
de Roma imperial – vemos alguns deles hoje transformados em campos de batalha,
nos quais os seus grupos de aficionados armam-se para rudes refregas com os
opositores e em que os atletas não têm outro vínculo com os seus clubes, senão
o interesse pelos altos rendimentos, favorecem a brutalidade e a barbárie com a
destruição de imóveis, veículos e vidas, quando um deles perde na disputa nem
sempre honorável...
Aprendendo
com os adultos a negar as qualidades do bem e da paz, na azáfama exclusiva do desfrutar,
essa aturdida mocidade entrega-se à drogadição, em busca do êxtase que logo
passa trazendo-a à realidade decepcionante. O desencanto, que se lhe instala,
de imediato deve ser diminuído no tempo e no espaço, facultando-lhe buscar
novos estimulantes ou entorpecentes para esquecer ou para gozar.
Nesse
particular, a comercialização do sexo aviltado com os ingredientes do erotismo
tecnicista, exaure os seus dependentes, consumindo-os.
É
inevitável, nesta cultura pagà e perversa, a presença do vazio existencial nas
criaturas humanas, suas grandes vítimas.
Apesar
da ocorrência mórbida, bem mais fácil do que parece é a conquista dos objetivos
da reencarnação.
Pessoa
alguma encontra-se na indumentária carnal por impositivo do acaso ou por
injunção de um destino cego e cruel.
Existe
uma finalidade impostergável no renascimento do Espírito na organização carnal,
que se constitui da oportunidade para o autoburilamento por colisões e atritos, qual ocorre com as gemas
preciosas que necessitam da lapidação para libertar a luminosidade adormecida
no seu interior.
Uma
releitura atenta dos códigos de ética e de justiça de todos os tempos
proporciona o reencontro com os reais valores que devem nortear a vida humana.
O
tecido social ora esgarçado e tênue ante uma revisão sistêmica dos objetivos de
elevação moral em favor da aquisição da alegria real, sem as máscaras da
mistificação, adquiriria resistência para os enfrentamentos, abrindo espaço
para a justiça social, para o auxílio recíproco.
Esse
ser biopsicossocial é, antes de tudo, imortal, criado por Deus para viver em
plena harmonia durante a viagem orgânica.
Indispensável,
pois, se torna a elaboração de programas educacionais e labores que propiciem a
autoconsciência.
As
conquistas tecnológicas e midiáticas são neutras em si mesmas, considerando-se
os inestimáveis benefícios oferecidos à sociedade terrestre, que saiu da treva
e da ignorância para a luz e o conhecimento.
A
ganância e os tormentos interiores de alguns dos seus executivos e
multiplicadores de opinião respondem pela fabricação de líderes da alucinação,
de exibidores da rebeldia, de fanáticos da agressividade e da promiscuidade.
Usadas
de maneira adequada, encaminhariam com saudável conduta os milhões de vítimas
que arrasta, especialmente na inexperiência da juventude rica de sonhos que se
transformam em hórridos pesadelos.
O
vazio existencial consome o ser e atira-o na depressão, empurrando-o para o
suicídio.
Em
uma cultura saudável, a alegria nào impede a tristeza, nem essa atormenta, por
constituir-se um fenômeno psicológico natural do ser, profundo em si mesmo.
* *
*
Se
experimentas esse vazio interior, desmotivado para viver ou para laborar em
favor do bem-estar pessoal, abre-te ao amor e deixa-te conduzir pelas suas
desconhecidas emoções que te plenificarão com legítimas aspirações,
oferecendo-te um alto significado psicológico e humano.
Reflexiona,
pois, na correria louca para lugar nenhum e considera a vida a oportunidade de
sorrir e produzir, descobrindo-te útil a ti mesmo e à comunidade.
Mas,
se insistir essa estranha sensação, faze mais e melhor, esquecendo-te de ti
mesmo, auxilia outrem a lograr aquilo por que anela, e descobrirás que, ao
fazê-lo feliz, preenchido de paz, estarás ditoso também.
Página
psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, do Espírito Joanna de Ângelis,
na reunião mediúnica de 29 de outubro de 2008, no Centro Espírita Caminho da
Redenção, em Salvador, Bahia.
Em 26.02.2009.
Em 26.02.2009.
Reblogado do website Divaldo Franco
Link desta mensagem: http://www.divaldofranco.com.br/mensagens.php?not=108
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