Você
já observou uma dessas árvores comuns, altaneiras, quando estão repletas de
pássaros em seus galhos?
As
aves pousadas preenchem os espaços, e mesmo os ramos mais secos parecem ganhar
vida com a visita animada dos pequenos seres alados.
O
vegetal erguido em direção ao Alto ganha movimentos que não possuía. Ganha sons
que não era capaz de emitir. A vida se soma à vida.
A
árvore nunca foi tão exuberante.
No
entanto, sem avisar, sem aparente razão, subitamente todos eles resolvem bater
em revoada ao mesmo tempo.
Outro
belíssimo espetáculo de se ver.
Coordenados,
sem medo, obedecendo a um comando interno que lhes faz desafiar os ares a todo
instante, eles voam...
Eles
voam, buscando seus destinos, continuando a desempenhar seu importante papel na
Criação.
Mas
e a árvore? Normalmente nem mais a notamos.
A
árvore permanece, agora, aparentando estar vazia, incompleta, sem vida... sem
beleza.
Ela
sente falta dos passarinhos, dos ruídos, da festa, daquela alegria toda em
torno de si.
* * *
Há
épocas da vida que parece que as pessoas começam a partir assim, feito revoada,
todas quase ao mesmo tempo.
As
redes sociais possibilitam que saibamos desse tipo de notícia instantaneamente.
Lá
se foi aquele amigo distante. Agora aquele outro, pai de fulano, mãe de
beltrana...
E
quando chega a vez dos nossos próximos mais próximos nos damos conta de que
todos teremos que partir um dia.
Sentimo-nos,
então, como a árvore que perdeu todos os pássaros que cantavam
e brincavam em seus braços.
Sentimo-nos minguados, desfolhados,
silenciosos...
É
de se compreender a tristeza da árvore, ela é autêntica.
Necessário
lembrar, vez ou outra, que os pássaros não pertencem às árvores, que não fazem
parte dela, como o tronco, a galhada ou as folhas.
São
visitantes passageiros, que fizeram breve morada ali, em seu aconchego
verdejante, antes de seguir suas jornadas pelo espaço sem fim.
Assim,
poderíamos perguntar: deve a árvore sofrer com as revoadas frequentes da
existência, ou rejubilar-se com os belos voos de seus novos amigos passarinhos?
A
resposta é admirável: ela precisa das duas coisas.
Não
há mal algum em sofrer. As almas mais sensíveis sofrem a ausência e a
despedida. Choram as lágrimas da gratidão, das boas lembranças e da falta das
energias do outro no campo das suas próprias.
Mas,
também porque amam, choram de alegria pela libertação, pela beleza de um voo
que é certo para todos, pois é voo de final de uma etapa e início de uma nova.
É um voo de renovação.
Curioso
é que somos, ao mesmo tempo, árvore e passarinho. E conhecemos a história a
partir dos dois pontos de vista.
Bate
em nós, vez ou outra, essa melancolia das revoadas, quando o olhar se detém
apenas nas árvores esvaziadas que ficaram.
Juntemos
a esse sentir um outro: o deslumbre pelo céu repleto de asas, pelo bailar
seguro e bem desenhado dos pequenos seres que partem daqui para ali, que
continuam existindo, que logo mais pousarão em outras florestas, numa
continuada e esplêndida celebração à vida que não cessa jamais.
Fonte: Momento Espírita
www.momento.com.br
Luz, Amor e Gratidão
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