Ela estava profundamente triste. Acabara de saber
que seu querido irmão, residente em outra cidade, tivera um infarto e morrera.
Ainda surpreendida pela notícia, que nem pudera
digerir, um telefonema lhe informou que deveria atender, rapidamente, a sua avó,
que lhe era dependente.
A senhora, com mais de noventa anos, passara mal e
precisava de internamento imediato.
Então, Lúcia foi providenciar a ambulância, o
hospital. Prover tudo que se fazia necessário para confortar a avó.
Engoliu o choro, serviu-se de maquiagem para
disfarçar a face transtornada, a fim de que a idosa não lhe descobrisse a dor e
pudesse ter seu quadro enfermiço agravado.
No meio da tarde, dirigindo-se ao lar para apanhar
mais alguns pertences da avó, encontrou um amigo.
Ao abraçá-lo, a emoção a tomou por inteiro e
grossas lágrimas jorraram de seus olhos.
Mas, em vez de lhe indagar a causa do choro, ele a
afastou de si, olhou-a e falou, duramente:
Nada de lágrimas. Nenhum cristão tem o direito de
chorar. Deve estar sempre alegre.
Lúcia tentou dizer o que acontecera. Ele desabou
num sermão de como ela devia sorrir, sempre, sempre.
Ela esperava que o amigo a pudesse abraçar, ouvir,
oferecer consolo pela morte do irmão, que ela nem poderia ir ver pela
derradeira vez, considerando que precisava ficar atendendo a enferma.
Contava que ele fosse compreensivo. Somente recebeu
admoestação, longo discurso sobre a obrigação de estar sempre sorrindo.
* * *
À semelhança desse amigo incompreensivo,
encontramos algumas pessoas, em nossas vidas.
Pessoas que não admitem que nos entristeçamos um
dia, que desanimemos ante as lutas.
Pessoas que nos exigem somente sorrisos,
felicidade. Tomam de escritos de cá e de lá, falam da gratidão que devemos ter
por estarmos vivos.
Sem dúvida. No entanto, é bom pensarmos que os que
nos encontramos em trânsito sobre esta Terra, não somos perfeitos.
Estamos sujeitos a muitas dores. Algumas maiores,
outras menores.
A morte de um ser amado, a enfermidade de quem
queremos bem, a falta de recursos financeiros para as necessidades cotidianas.
É de nos indagarmos se não temos o direito de nos
entristecer, desanimar, em um momento ou outro.
Lágrimas? São benditas as da dor e as da alegria. A
doce mãe de Jesus, ao ver seu filho sofrendo na cruz, com certeza, terá
derramado lágrimas.
Amigos que O viram partir, choraram.
O importante não é mascarar sentimentos. Importante
é admiti-los e administrá-los. Ficar triste hoje, neste momento, pelo punhal da
dor cravado no próprio peito.
Um leve desalento agora, pelo cansaço das lutas
constantes. Depois, erguer a cabeça e continuar a lutar.
Lembremos: não temos obrigação de sermos felizes
cem por cento das horas.
A dor faz parte da nossa vida.
Aprendamos a conviver com esses momentos.
Parafraseando os versículos do livro bíblico Eclesiastes, há tempo
de lágrimas, há tempo de sorrisos.
Então, nos permitamos sorrir. Também chorar,
desanuviar a alma.
Nem alegria exagerada. Nem tristeza e desalento
contínuos.
Momentos... Vivamo-los.
Redação do Momento Espírita.
Em 6.8.2020.
Luz, Amor e Gratidão
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