Eu precisava respirar. A fumaça das chaminés de
todo o porte me sufocava. Vinha de todas as partes e das mais variadas formas.
Eu buscava renovar
os ares com ventos mais fortes, a fim de que pudessem promover a limpeza da
atmosfera. Em vão.
Promovi
tempestades, esperando que varressem, de vez, as nuvens negras que subiam, sem
cessar. O céu permanecia claro por alguns segundos, apenas. Depois, tudo
voltava a ser como antes.
Procurei deter a sanha dos ambiciosos,
desencadeando a borrasca, a fim de arrancar árvores e plantas, como a
dizer: Estou cansada! Podem diminuir a minha exploração, por um pequeno
lapso temporal, ao menos?
Minhas entranhas
eram perfuradas todos os dias, em busca dos tesouros que abrigo em minha
intimidade. Nada contra, desde que tudo fosse adequado, realizado de modo
racional, ordenado, preservando o entorno.
Enquanto pensavam
em extrair os minerais preciosos, destruíam-me e nem se importavam com as
tragédias que promoviam para si mesmos, para seus irmãos.
Eu não suportava
mais o peso das águas dos rios, oceanos e mares, encharcadas de todos os
poluentes imagináveis. Alguns jogados, de forma deliberada, outros, por
desastres resultantes de puro descaso ou imprudência.
Assistia ao
espetáculo contínuo da depredação dos habitantes das águas, das matas, dos
ares. Alguns caminhando de forma acelerada para sua extinção.
Eu precisava
parar. Não sei bem o que aconteceu, e com certeza o meu objetivo não era
agredir ninguém. Mas, eu precisava parar. Era isso ou, em breve tempo, a
espécie mais preciosa de todas iria ser aniquilada.
Uma pandemia se
alastrou por toda minha extensão, com a celeridade de um raio, prenunciando
intensa tormenta, exigiu que tudo parasse.
A Humanidade
precisou se proteger. E a melhor proteção foi o confinamento. O isolamento se
fez imprescindível.
Em apenas alguns
dias, de forma quase miraculosa, voltei a poder respirar. A fumaça diminuiu,
quase desapareceu. As chaminés deixaram de ser tão poderosas.
O trânsito ficou
reduzido. Os poluentes deixaram de infestar o ar, a água, o solo. Todos
precisaram olhar para si mesmos e descobrir que o que tinham de mais valioso
precisava ser preservado: a vida.
A sua vida, a vida
do seu semelhante. Mais importante do que o metal, a vida. Mais importante do
que dobrar os valores monetários, a vida.
De forma alguma,
eu pretendia e nem fui a causadora da pandemia que se instalou. Contudo, ela me
permitiu refazer-me de algumas chagas.
Estou em
convalescença. Minha grande esperança é de que o homem, esse ser especial que
anda sobre mim, repense a sua maneira de viver.
Que se lembre que
transita, de forma temporária, sobre mim. Que a sua essência é imortal e é nos
termos dessa Imortalidade, que ele precisa trabalhar.
Cultuar o
progresso, sem agredir-me. Desenvolver a tecnologia, no sentido de aprimorar
métodos de salutar convivência entre todos.
Repensar atitudes.
Renovar disposições. Viver em plenitude.
Eu, Terra, desejo
ardentemente isso.
Redação do Momento
Espírita.
Em 23.6.2020.
Fonte: Momento Espírita
http://momento.com.br/
Luz, Amor e
Gratidão
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