Ele possuía muitas riquezas. Tinha as
arcas abarrotadas de ouro e gemas preciosas.
A juventude lhe sorria e os amigos
sempre se faziam presentes nos banquetes.
Habituara-se a dormir em seu leito de
ébano e marfim. Dormir e sonhar.
Em seus sonhos, misturava-se a
realidade das tantas vitórias que lhe enriqueciam os dias. E um desejo de paz
que ainda não fruía.
Ele amava as corridas de bigas e
quadrigas. Recentemente comprara cavalos árabes, fogosos. E escravos o haviam
adestrado durante dias.
Tudo apontava para a vitória nas
próximas corridas no porto de Cesareia.
Mas os momentos de tristeza se faziam
constantes.
A felicidade não era total. Faltava
algo. Ao mesmo tempo, ele temia perder a felicidade que desfrutava.
Por isso, ouvindo falar daquele homem
singular que andava pelas estradas da Galileia, O procurou.
Bom Mestre, que bem devo praticar para
alcançar a vida eterna?
Desejava saber. Como desejava. A
resposta veio sonora e clara:
Por que me chamas bom? Bom somente o
Pai o é. À tua pergunta, respondo: “Cumpre os mandamentos, isto é, não
adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honrarás
teu pai e tua mãe.”
Tudo isso tenho observado em minha
mocidade. No entanto, sinto que não me basta. Surdas inquietações me
atormentam. Labaredas de ansiedade me consomem. Falta-me algo!
Então – propõe-lhe a Luz – vende tudo
quanto tens, reparte-o entre os pobres. Vem, e segue-me!
A ordem, a meiguice daquele homem
ecoava em seu Espírito. Ele era uma águia que desejava alcançar as alturas. E o
Rabi lhe dizia como utilizar as asas para voar mais alto.
Pela mente em turbilhão do jovem,
passam as cenas das glórias que conquistaria. Os amigos confiavam nele.
Tantos esperavam a sua vitória. Israel
seria honrada com seu triunfo.
Sim, ele podia renunciar aos bens de
família, mas ao tesouro da juventude, às riquezas da vaidade atendida, os
caprichos sustentados...?
Seria necessário renunciar a tudo?
A águia desejava voar mas as asas
estavam partidas...
Recorda-se o jovem que os amigos o
esperam na cidade para um banquete previamente agendado. Num estremecimento, se
ergue:
Não posso! – Murmura. Não posso agora.
Perdoa-me.
E afastou-se a passos largos. Subindo a
encosta, na curva do caminho, ele se deteve. Olhou para trás. Vacilou ainda uma
vez.
A figura do Mestre se desenha na
paisagem, aos raios do luar. A luz parece chamá-lo uma vez mais.
Indecisa, a alma do moço parece um
pêndulo oscilante. A águia ainda tenta alçar o voo. O peso do mundo a retém no
solo.
Ele se decide. Com passos rápidos,
quase a correr, desaparece na noite.
Os Evangelistas Mateus, Marcos e Lucas
narram o episódio e dizem de como o jovem se retirou triste e pesaroso.
Nem poderia ser diferente: fora-lhe
dada a oportunidade de se precipitar no oceano do amor e ele preferira as
areias vãs do mundo.
* * *
O Divino Amigo nos chama, diariamente,
para a conquista do reino de paz.
Alguns ainda somos como o moço rico.
Deixamos para mais tarde, presos que ainda estamos a muitas questões e vaidades
pessoais.
É bom analisar o que vale mais: a
alegria efêmera do mundo ou a felicidade perene que tanto anelamos. Depois, é
só optar.
Redação do Momento
Espírita com base no cap. O mancebo rico, do livro Primícias do Reino, pelo
Espírito Amélia Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed.
Sabedoria. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12, ed. FEP.
Em 29.11.2019.
Luz, Amor e
Gratidão
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