Ela era uma mulher pobre e analfabeta, num país
onde as mulheres não têm direitos.
Tratadas como moeda de troca ou compensação de
qualquer prejuízo, elas são negociadas pelos pais.
Podem ser entregues ainda crianças para casamentos
arranjados, que objetivam acalmar ânimos exaltados, em desacertos tribais.
Não podem escolher o homem com quem se desejam
casar e, se afrontarem tal regra, pagam com a vida a desonra que atraem para a
própria família.
Mukhtar vivia em sua aldeia e era respeitada
porque, embora analfabeta, decorara o Corão e o ensinava às crianças, de forma
gratuita.
Também auxiliava a renda familiar ensinando
bordados a outras mulheres.
Cedo aprendera que no Punjab a mulher não tem o direito
de escolhas ou de sonhos.
Um dia, ela foi levada até à tribo vizinha,
considerada de casta superior, por seu pai e seu tio, a fim de pedir perdão, em
nome da família.
É que seu irmão, de apenas doze anos, fora acusado
de ter falado com uma jovem daquela tribo, desonrando-a.
O que se seguiu foi que o Conselho da tribo decidiu
que Mukhtar deveria, a título de reparação, ser entregue aos homens do clã
ofendido.
Ela foi agredida sexualmente por vários deles. Se
nos primeiros dias após o ocorrido, ela desejou a morte, na sequência, resolveu
lutar pelos seus direitos.
A atitude corajosa daquela jovem ferida e humilhada
ocasionou um início de revolução quanto à situação da mulher em seu país.
Seu caso ganhou o noticiário internacional e ela
foi convidada a se fazer presente em conferências, em vários lugares do mundo.
Com risco de sua própria vida e da de seus
familiares, Mukhtar lutou por justiça.
Mas não somente para si. Para todas as mulheres que
todos os dias têm seus direitos usurpados, feridos.
E, como reconheceu que houve muitos entraves no
desenrolar do seu processo judicial, por ela não saber ler, nem escrever, tomou
uma séria decisão.
Fundou uma escola para meninas. Com recursos do
Estado e de outros países, ela conseguiu.
Se para construir a escola, ela teve o apoio
internacional, para conseguir convencer os pais das meninas a deixá-las
estudar, foi luta mais árdua.
Foi de porta em porta e, com o tempo, mais de duas
centenas de meninas passaram a frequentar a escola.
Para assegurar a frequência, ela estabeleceu um
prêmio por assiduidade.
Um prêmio que interessava às famílias: uma cabra
para as meninas, uma bicicleta para os meninos.
Assegurar um futuro diferente para aquelas garotas,
permitindo-lhes ter acesso ao conhecimento das leis, de seus direitos é o
objetivo pelo qual trabalha.
Passou a ser conhecida, em seu país, como a grande
irmã que deve ser respeitada, Mukhtar Mai.
Ela ainda sangra em sua alma ao recordar os anos de
luta que teve que enfrentar, as calúnias que foram levantadas contra si.
Mas olha confiante o futuro, na certeza de que, se
puder evitar que aconteça o que lhe aconteceu a outras meninas, adolescentes e
mulheres adultas, terá valido a pena.
Mukhtar Mai, uma mulher de coragem lutando por
direitos humanos.
Uma bandeira de estoicismo e bravura, que
transformou a própria dor em luta pelos direitos das mulheres.
Redação do Momento Espírita com base no livro Desonrada, de
Mukhtar Mai, ed. BestSeller.
Em 1º.7.2020.
Fonte: Momento Espírita
http://momento.com.br/
Luz, Amor e Gratidão
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