Ela viera das terras distantes de Cesaréia de Filipe, na Decápole. Era
considerada impura, pois há doze anos um fluxo sanguíneo não a deixava.
Recorrera a todos os métodos possíveis, na ânsia da cura.
Tudo inútil. Seu mal era considerado um sinal de desventura, um castigo
divino.
Após ter gasto tudo que possuía, ela resolvera buscar a próspera
Cafarnaum, na esperança de encontrar um remédio ainda não experimentado, um
médico ainda não consultado.
Chegou à cidade no momento em que o sublime profeta de Nazaré acabava de
saltar nas brancas praias de Cafarnaum.
Pelos caminhos, ela ouvira falar dAquele Homem, pela boca dos que tinham
sido abençoados por Suas mãos e haviam recuperado a saúde.
O povo se comprime. Todos almejam chegar mais perto. A figura de Jesus
se destaca com Sua túnica tecida sem costura, seu manto quadrangular de borlas
tecidas em fios de linho.
A mulher tenta se aproximar dEle. O coração parece lhe saltar do peito.
O que dizer-lhe? Como falar da sua desdita, expondo-se, em meio a tanta gente?
Ela já fora tão humilhada. As marcas da problemática orgânica lhe
denunciavam a enfermidade. Estava descarnada, anêmica.
Ela acreditava nEle. Parecia sentir que uma força extraordinária se
desprendia dEle. Todo Ele era grandeza. Almejava gritar, tocá-lO. Isto: tocá-lO
seria suficiente para que se curasse.
Então, numa rua estreita, enquanto a multidão se adensava cada vez mais,
ela aproximou-se e por trás, alongou o braço esquálido e lhe tocou as vestes
com a ponta dos dedos.
Maravilha! O sangue estancou de imediato. A dor se foi. Uma sensação
estranha a dominou. Sentiu-se renovada. Foram alguns segundos de êxtase. Logo,
a voz dEle se destacou na multidão:
Quem me tocou?
Os discípulos dizem que é impossível saber, pois todos O apertam,
comprimem.
Ela se atira aos pés dEle e confessa:
Fui eu, Senhor. Guardava a certeza que, em tocando-te as vestes,
recuperaria a saúde.
Jesus a envolve em Seu olhar e a sossega:
Filha, vai em paz. A fé te salvou. Fica livre do teu mal!
Algum tempo depois, Ele foi preso. Às horas de angústia da incerteza do
destino dEle, se seguiu a cruel subida até à Colina da Caveira.
Sob o peso do madeiro que carrega, enfraquecido por não ter se
alimentado desde a noite anterior e pelas longas horas de flagelação, ele cai.
Ela não se contém. Burla a vigilância dos soldados e corre-lhe ao
encontro. Com uma toalha branca, limpa-lhe a face ensanguentada e dorida.
Quando a retira, nela estava estampado o rosto dEle, tingido pelo
sangue.
Vai em paz! Lembrar-me-ei de ti...- Escuta ela em seu coração.
* * *
Antigas tradições cristãs dizem que essa mulher se chamava Serápia e
que, a partir desse episódio, ficou conhecida como Verônica, que quer dizer:
Verdadeira imagem.
Verônica ou Berenice – Que importa? O que ressalta é o exemplo de
gratidão que se permite externar.
Ela acompanha o Mestre, na Sua caminhada dolorosa, afronta a soldadesca,
tudo para limpar o rosto dAquele que um dia a envolvera em Seu olhar amoroso,
desejando-lhe paz.
Ele lhe retribui o gesto, deixando impresso Seu semblante na toalha
alvinitente.
A recompensa da gratidão.
Redação do Momento Espírita, com base
no cap. A mulher hemorroíssa, do livro As primícias do reino, pelo Espírito Amélia
Rodrigues, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Sabedoria. Em 24.6.2019.
Fonte: Momento Espírita
www.momento.com.br
Luz, Amor e
Gratidão
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